É verdade que muitos cientistas e especialistas já se referiam a essa região como Oceano Antárctico, mas nada como oficializar algo para dar o peso necessário ao acontecimento. Ao tornar oficial o Oceano Antárctico, teremos certamente um incremento na sua exposição mundial, principalmente a nível escolar.
Como referiu Alex Tait, geógrafo oficial da National Geographic Society à National Geographic, «os estudantes aprendem informações sobre o mundo oceânico através dos oceanos que estão a estudar. Se não incluirmos o Oceano Antárctico, então não aprendemos as suas especificidades e a sua importância».
Alex Tait acredita que o Oceano Antárctico não é agora um «nerd geográfico» e que será olhado de outro modo pela população mundial, o que proporcionará um maior esforço de conservação e consciencialização da sociedade em geral. Não é para menos, já que este oceano tem características muito próprias e um ecossistema bastante particular, o que faz de si um oceano único (a começar por ser o primeiro a circundar um continente inteiro).
O Oceano Antárctico é definido pela Corrente Circumpolar Antárctica (ACC), formada há 34 milhões de anos quando ocorreu a separação da Antárctida e da América do Sul, que flui de oeste para este em torno da Antárctida. Apresenta águas mais frias, menos salgadas e a ACC transporta mais água do que qualquer outra corrente oceânica. Alberga ainda espécies que não vemos em mais nenhum lugar do globo terrestre, o que torna o seu ecossistema alvo de inúmeras investigações.
O Oceano Antárctico tem ainda um papel determinante nas questões ambientais através do seu sistema de circulação marítima com influência em todo o planeta, além de armazenar uma enorme quantidade de carbono na profundeza das suas águas. Por isso, é com naturalidade que vemos hoje vários estudos relacionados ao clima na região, sendo um dos temas mais em voga a relação do aumento da temperatura média da Corrente Circumpolar Antárctica e os icebergs, por exemplo.
Não podemos ignorar ainda que, no Mar de Ross, está localizado o maior santuário marinho do mundo, um dos últimos ecossistemas marinhos intactos e lar de pinguins, focas e baleias.
Ou seja, razões mais do que suficientes para a comunidade científica reconhecer este oceano como único e não apenas uma mera extensão dos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico. As frequentes pesquisas científicas na região (principalmente para desvendar o fenómeno do aquecimento global) são apenas um dado de como o Oceano Antárctico é visto no mundo, ainda mais sendo uma região com enormes reservas de recursos, algo sempre cobiçado pelas grandes potências.
Estima-se que, por exemplo, no subsolo do continente há cerca de 200 mil milhões de barris de petróleo (a extracção de petróleo e a mineração estão proibidos pelo Tratado da Antárctida, que Portugal assinou em 2010), inclusive no offshore. Mas também estima-se que há uma abundância de carvão, chumbo, ferro, cromo, cobre, ouro, níquel, platina, urânio, prata, etc.
Portanto, não é por acaso que, ao longo das últimas décadas, vimos como alguns dos principais países reivindicaram a soberania do continente gelado, pelo menos parte dele, como Argentina (apresenta a mais antiga estação científica ainda em funcionamento, instalada em 1904), Austrália, Chile, Nova Zelândia, França, Noruega e Reino Unido. Mas também a presença de bases científicas permanentes no continente branco, como Alemanha, Japão, Brasil, China, Estados Unidos, Bélgica, Índia e Rússia, por exemplo. Formas claras de marcarem o seu posicionamento na região.
Por isso, é com algum receio que a comunidade científica (e muito do mundo em si) olha com temor para o ano de 2048, quando o Tratado da Antárctida será reavaliado. Até que ponto a ambição económica conseguirá manter a integridade da região? A resposta é complicada de dar, mas a verdade é que estamos perante um Oceano com enormes potencialidades, ainda mais quando possui aquele que os especialistas consideram ser um dos bens mais preciosos do futuro: água doce, um recurso que pode um dia valer mais do que o ouro. Não podemos esquecer que 97% da água do mundo é salgada e é no extremo sul do planeta que temos 70% da água doce no mundo, mas congelada. Precisamente no novo oceano, o Antárctico.