Oceanógrafos de todo o mundo uniram-se com o objectivo de avaliarem como a vida marinha reagiu à redução de tráfego de navios em 2020 (mas também da exploração do fundo do mar) em decorrência da pandemia que ainda vivemos mas não tão acentuada como no ano passado.

Este estudo, que ainda decorre, poderá fornecer várias conclusões que poderão marcar o futuro dos oceanos, já que será possível compreender como este “silêncio” imposto teve impacto na vida marinha.

Promovido pelo International Quiet Ocean Experiment, este trabalho de pesquisa recorre a cerca de 230 hidrofones (sensores da acústica subaquática) não militares distribuídos por todo o mundo, sendo possível medir as diferenças no ruído do canto das baleias ou dos sons emitidos pelos cardumes, por exemplo, já que não houve no ano passado a poluição sonora habitual dos motores de navios, das actividades pesqueiras de arrasto, das actividades militares e das plataformas de petróleo e mineração submarina, entre outros.

Além dos hidrofones, os pesquisadores recorrem a outros artifícios, como por exemplo a monitorização de animais com sensores, para obterem o máximo de dados e “inputs”.

De referir que os oceanógrafos esperam mais do que centrar as suas análises em 2020, já que a meta é investigar a acústica oceânica antes, durante e depois da pandemia. Ou seja, 2020 será o ano referência para este estudo, fruto do que a pandemia permitiu que acontecesse e que de outro modo seria algo impossível de acontecer: a drástica redução de actividades marítimas em todo o mundo.

Os investigadores já revelaram a sua surpresa com alguns dos resultados obtidos até ao momento, o que fez com que a comunidade científica se organizasse com o intuito de obter mais recursos para este projecto, o que demonstra ao mesmo tempo a sua importância, com o International Quiet Ocean Experiment a nomear 2020 como o Ano Internacional do Oceano Silencioso.

Os pesquisadores esperam com esta iniciativa construir um mapa acústico marítimo onde será possível identificar, entre outros, o som das rotas dos navios e compreender os padrões migratórios das baleias.

Ou seja, a meta é literalmente “ouvir” os mares para encontrar um ponto de equilíbrio entre a actividade humana e os processos naturais dos oceanos, já que, ao longo das últimas décadas, o ruído produzido pelo homem sobrepõe-se cada vez mais a acústica natural marítima, o que acaba por afectar o comportamento dos animais marinhos para além da poluição e iluminação terrestre, outros dos dois factores determinantes para a fauna e a flora dos oceanos.

Ao ser criado o desejado “mapa da acústica oceânica”, os cientistas esperam que ele forneça dados concretos sobre as causas negativas que o ruído provoca no oceano. Não podemos ignorar que as espécies marinhas dependem precisamente do som para a sua comunicação, alimentação e deslocação. Como tal, o ruído humano (e não só…) acaba por afectar todo o ecossistema marítimo. Enquanto nós, primatas, utilizamos a visão como o nosso sentido de distância, a vida marinha utiliza o som para se localizar no seu ambiente, por isso a necessidade urgente da redução do barulho, tanto a nível externo como interno.

Por exemplo, o Guardian divulgou recentemente estudos no nordeste do Pacífico no qual demonstraram um aumento de três decibéis a cada dez anos em sons gerados por humanos abaixo dos 100 hertz, entre os anos 1960 e o início dos anos 2000. Essa poluição sonora alterou por completo a vida marinha no local durante essas quatro décadas.

São estas e outras consequências que os investigadores esperam agora mapear com este projecto, que começou em 2015 mas que ganhou novos objectivos em 2020 devido à Covid-19. Tudo devido ao inesperado… silêncio do oceano.



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