A missão da Fundação Oceano Azul assenta na produção de literacia, na sensibilização e educação sobre os oceanos e tem uma visão clara: só gerando conhecimento sobre o capital natural dos oceanos é possível formar uma geração mais azul, consciente da ligação de Portugal ao mar e do respectivo potencial para um futuro melhor para todos.

O Oceano constitui o maior capital natural do planeta mas, infelizmente, até agora, são poucos ainda os que têm plena consciência disso, bem como a consequente compreensão de que o «novo capital, capital natural», se assim se pode dizer, reside essencialmente nos bens e serviços que a natureza nos oferece, o que não deixa, ou não deverá deixar, de implicar também uma nova abordagem às bases de funcionamento do próprio sistema económico.

Essa a visão de José Soares dos Santos, Presidente da Fundação Oceano Azul, deixada na II conferencia do Jornal A Economia do Mar, pela voz do seu Administrador Executivo, Tiago Pitta e Cunha, não sem também deixar de afirmar ser exactamente esse «novo olhar que irá permitir alterar, para melhor, a situação e saúde dos oceanos».

Na verdade, como igualmente sublinhado, a degradação dos oceanos tem vindo a ter um impacto global profundo no funcionamento dos ecossistemas naturais, começando as respectivas consequências a serem «bem visíveis na economia e correspondente qualidade de vida das populações, «começando a ser mais reconhecido que a nossa sociedade e a economia global estão intimamente dependentes do sistema ecológico do qual fazem parte. Levar a sociedade a abraçar a nova economia do mar enquanto economia da natureza e reconhecer o valor dos serviços ecosistémicos», faz parte do pilar de capacitação da Fundação que tem como primordial objectivo apoiar uma nova geração de actividades e mercados que, assentando nesse mesmo capital natural, contribuam para criar empregos e riqueza, não apenas não sem o deteriorar mas também recuperando-o mesmo, sempre que a situação ainda o permita.

Porque «explorar o capital natural do mar significa começar por proteger» mas para gerar à mudança «é necessário proceder à sensibilização e mesmo educação das pessoas para desfazer a errada ideia de que o oceano tudo suporta e nele tudo podemos depositar».

 

Salvar os Oceanos da nossa Ignorância

Nas últimas décadas, com a ajuda da ciência, começámos a ver o mar e a biodiversidade marinha como parte do ecossistema natural da terra. «Ainda não é, porém, suficiente porque nós, raça humana, nos vemos ainda também como uma espécie separada, superior», e acreditamos que «a tecnologia resolve tudo». Uma fase que importa «ultrapassarmos urgentemente se quisermos ir a tempo de não sacrificarmos irremediavelmente o bem estar das próximas gerações».

Para o homem que acredita que só mudamos através das emoções, o estado do mundo não nos tem poupado a emoções fortes, como o estudo realizado pela World Wildlife Fund publicado em Outubro, apontando para a perda de metade da população de vertebrados nos últimos 40 anos, não deixa de revelar, corroborando, de resto, outros estudos que mostram igualmente como a humanidade já iniciou, de facto, a manterem-se os níveis actuais de degradação a que diariamente submetemos a Terra, à sexta maior extinção do planeta.

Um problema conhecido há duas décadas mas que só hoje, dadas as suas consequências económicas e sociais se está a tomar a devida consciência e a transformar-se no principal desafio da humanidade, no principal problema dos tempos modernos. E para enfrentar os desafios das Alterações Climáticas ou a impiedosa exploração do Oceanos não basta a suposta superioridade tecnológica.

As Alterações Climáticas são um facto e, além de conduzirem a fenómenos meteorológicos cada vez mais extremos, também têm conduzido, e irão continuar a conduzir, a um aumento da subida do nível das águas, levando assim também, por consequência, a sucessivas levas de migração de populações de múltiplas cidades costeiras, bem como a crescente acidificação dos oceanos com a perda de biodiversidade, destruição de habitats, a par da sobreexploração de recursos e a introdução mesmo de espécies exóticas em muitas áreas, não anunciam nada de auspicioso, obrigando assim também a repensar a política de instituição de novas Áreas Marinhas Protegidas, bem como nos meios para as defender, sob pena de vermos repetidas as situações de maior deterioração  de  patrimónios naturais de incalculável valor, como sucedeu ao longo do último ano com a

grande barreira de coral da Austrália, parte da qual é já dada como inelutavelmente arruinada, ou mesmo inexoravelmente desaparecida, não deixando de ser igualmente um sinal «particularmente preocupante de que esse futuro mais negro já chegou».

Se o problema é conhecido, porque persiste há mais de uma geração?

Aparentemente, porque existe um fosso entre a realidade e a consciência dessa mesma realidade, como das gravíssimas consequências de um desenvolvimento insustentável, continuando, em grande medida, a crer-se na resiliência dos oceanos, a admitir que tudo suportam, que podem ser um depósito de todos os lixos que sempre os regeneram.

Por isso mesmo também a importância de uma nova consciência, de uma nova capacitação, na determinação de um novo paradigma em relação aos oceanos como fonte e alternativa às energias renováveis e limpas, como ao transporte ambientalmente mais sustentável e o mesmo no que respeita à alimentação e á descarbonização do planeta.

É necessário terminar com a incompetência, mesmo política, não bastando agora sequer evitar apenas os erros do passado e a ruptura, mas restaurar, regenerar, repor, tanto quanto possível, as condições de um ecossistema saudável, deixando de causarmos o dano que temos causado ao Ambiente em geral e ao Oceano em particular. A bem do futuro, do futuro de todos nós e das gerações futuras também.



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