Como salientou Alda Carvalho, Presidente do INE, 2,1% foi quanto cresceu a economia do mar cresceu entre 2010 – 2013 quando a economia portuguesa caiu 5,4%, como revelam os dados da Conta Satélite do Mar nacional, a única existente em âmbito europeu.

Um «crescimento não desprezível que mostra bem, já hoje, a importância da economia do mar», considerou Alda Carvalho, numa leitura dos números  da primeira Conta Satélite do Mar (CSM) portuguesa.

Como explicou também a Presidente do INE esse crescimento registado entre 2010-2013 deve-se essencialmente à subida do Valor Acrescentado Bruto (VAB) da aquicultura (4%), dos portos, transportes e logística ( 3%) e do recreio, desporto e turismo que registou um VAB de mais 5,4%.  Subidas, considera Alda Carvalho, que anunciam a oportunidade para a economia do mar «ser potenciada e elevada a um patamar bem superior».

Um «zoom» aos números que vem afirmar também a importância da chamada economia azul nas contas nacionais, tendo a economia do mar representado já 3,1% de toda a riqueza nacional produzida no ano de 2013, com as cerca de 59 mil empresas do sector a representarem igualmente cerca de 3,6% do emprego gerado em toda a economia nacional.

Em termo de peso relativo, o turismo e o recreio foram as atividades com mais peso na economia do mar, representando mais de 35% do VAB das atividades ligadas ao mar, estando à frente de actividades como a pesca, os serviços marítimos, portos ou transportes.

Vendo ainda mais de perto a CSM permite a comparação do peso da economia azul na produção da riqueza nacional, e esta revela-se «superior a outros ramos de atividade como as telecomunicações (1,9%), a agricultura  e produção animal (1,5%), ou o vestuário (0,9%).

Em termos de emprego , a economia do mar surge igualmente com uma «dimensão superior à do vestuário  que representa apenas 2,3%, ou do fabrico de veículos automóveis que representa 0,7% do VAB no conjunto da economia  nacional».

A CSM é um instrumento estatístico pioneiro que desde Junho disponibiliza «informação credível» sobre as atividades ligadas ao mar, assegura a Presidente do INE, acrescentando que esta serve também para «apoiar a decisão política».  Aliás, «a CSM surgiu da vontade da Direção Geral da Política do Mar, integrada na Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020», e, esclarece a responsável do INE, «é mesmo decisiva para permitir uma adequada monitorização da sua evolução».

O pioneirismo desta conta obrigou a um grande trabalho de investigação, que partiu quase do zero, onde o INE contou com a colaboração de 21 entidades públicas e privadas, tendo como ponto de partida a definição do conceito de economia do mar, aplicando-se no entanto uma noção  restrita, uma por limitações contabilísticas, áreas como o capital natural marinho e os serviços não transaccionáveis  não se encontrarem ainda como parte integrante desta primeira Conta Satélite do Mar, englobando-se assim no âmbito da CSM, 9 grandes agrupamentos de actividades já consolidadas, incluindo outras emergentes, não deixando de se considerar também actividades transversais, como os serviços marítimos, e as actividades favorecidas pela proximidade do mar, como o turismo costeiro e a restauração, entre outras actividades, perfazendo 3 níveis de observação e mais de 65 deferentes tipos de actividade económica a considerar.

 

Só Portugal e as Filipinas têm uma conta satélite do mar.

Portugal avança no conhecimento do sector da economia do mar. É o primeiro país da europa a dispor de uma conta satélite do mar. É certo que a preocupação por parte de governos, agentes económicos e da sociedade em geral  é crescente quanto à avaliação contabilística do mar e o seu peso nas economias nacionais mundiais. No entanto,  a nível internacional só as Filipinas têm uma conta satélite do mar, como sublinha Alda Carvalho, não hesitando quanto ao «contributo e utilidade da CSM no estabelecimento de metodologias de contabilização da economia do mar igualmente aplicáveis noutros países, com destaque muito em particular, na Europa, onde somos, de facto, pioneiros e onde a falta de harmonização de metodologias torna qualquer comparação, no mínimo, precipitada, para não se dizer mesmo falaciosa.

Nesse sentido, em termos comparativos, a Presidente do INE é cautelosa na divulgação de algumas das estimativas realizadas sobre o valor dos oceanos e quantificação da importância do mar na economia de alguns países, em termos de VAB e de emprego, aceitando apenas como termos de comparação o estudo da OCDE realizado para 4 países.

Um estudo onde, em termos da riqueza produzida pela economia do mar, estudo Portugal surge colocado em segundo lugar, muito próximo da Holanda, e acima da Irlanda e de França, e no que respeito ao emprego, mesmo em primeiro lugar, «devido à preponderância das fileiras do turismo e da pesca, sectores, como se sabe, de trabalho intensivo».

Num sector em movimento, de olhos postos no futuro, Alda Carvalho considera que a CSM tem de ser aprofundada, contabilizando o capital natural e os serviços de ecossistemas, através da intensificação do conhecimento e do acompanhamento das actividades emergentes. No entendimento da Presidente do INE, é nos novos usos e recursos do mar, dinâmicos e inovadores, sem tradição nos sistemas económicos dos países que reside «o grande desafio que a elaboração desta conta vai enfrentar no futuro, como a exploração de recursos minerais e energéticos do mar e do mar profundo».

 

 

 Actividades e Sectores Incluídos na Conta Satélite do Mar

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