Debater as energias renováveis marinhas, foi o objectivo do Seminário WavEC 2015 que decorreu no passado dia 16 de Novembro, na Fundação Gulbenkian.

O Seminário promovido pela WavEC na Fundação Gulbenkian, genericamente intitulado, “Portugal e França: Uma Força Condutora na Investigação e Inovação das Energias Renováveis Marinhas”, pretendeu, acima de tudo, mostrar, os projectos em curso, a sua maturidade, bem como as empresas (nomeadamente as portuguesas) envolvidas, assim como a sua importância para a internacionalização e o impacto das mesmas na sociedade.

O projecto WindFloat, encabeçado pela EDP, é um dos que estão numa fase mais avançada de testes. Baseado na tecnologia eólica flutuante, deverá entrar brevemente, segundo Pedro Valverde, da EDP, em fase de pré-comercialização – a data prevista é 2017, com a comercialização no ano seguinte. O executivo da EDP explicou o potencial da Europa e concretamente da Península Ibérica, apontando os pontos positivos da nossa costa: ligação à rede eléctrica perto da costa, uma área de cerca de 250 quilómetros com potencial para exploração, sendo que este, segundo o relatório Evaluación Potencial Energías Renovables (2007), da Universidade de Zaragoza, é de >40 TWh (~12 GW). Em termos de custos, o próximo objectivo passa por produzir energia a 100 euros por MW/hora. Algo que Pedro Valverde acredita que deverá acontecer por volta de 2025.

A Idéol é a proposta francesa que concorre com o WindFloat. A diferença está na estrutura da plataforma. Bruno Geschier, da Idéol, apontou para os novos esforços – criar turbinas maiores, que consigam produzir mais energia e a custos mais baratos. No entanto, alertou para um problema/desafio: o número limitado de navios capazes de fazer a instalação offshore das plataformas. E colocou a questão. “Há sentido em construir navios que quase nunca são utilizados?”

Hakim Mouslim, da INNOSEA France, reflectiu sobre a importância das renováveis marinhas atingirem a meta estabelecida pela França. Actualmente o país tem seis projectos de eólica (quatro deles iniciados em 2012) com o objectivo de produzir 6 GW de energia até 2020. Para 2030 as metas são (ainda) mais ambiciosas: produzir 21 GW através da energia eólica (15 GW em plataformas fixas e 6 GW em flutuantes).

Já Patrik Möller, da Corpower, apresentou uma outra tecnologia: a das ondas. Com provas dadas na costa escocesa, o executivo alertou, no entanto, para a necessidade de construir equipamento que consiga resistir a tempestades mais fortes e que, simultaneamente, forneça energia suficiente, para que se justifique o investimento.

João Costeira, da EDPR, reflectiu sobre os resultados da empresa. De 2008 a 2014 a produção de energia aumentou 17% e, actualmente, a EDPR é o quarto maior produtor de energia eólica (a liderar está a Iberdrola, seguida da Nextera e da Longyuan).

Já José Ventura de Sousa, da Associação das Indústrias Navais, revelou os números do mercado. Segundo a European Wind Energy Association (EWEA), no primeiro semestre de 2015, a Europa (a grelha eléctrica) ligou-se a 584 turbinas eólicas offshore, tendo gerado 2,342.9 MW. Em construção estão 15 parques eólicos que deverão aumentar a capacidade para 4,268.5 MW. Feitas as contas, a EWEA acredita que, em 2030, a tecnologia eólica offshore poderá produzir 150 GW, o que representa 14% do consumo europeu de electricidade.

Jacopo Moccia, da Ocean Energy Europe, colocou o “dedo na ferida”, relembrando que a Europa está dependente, em 53%, de importação de energia. São cerca de 400 mil milhões de euros por ano. Qualquer coisa como «o PIB da Bélgica», refere. E é isso que se pretende alterar. O novo conceito “Energy Union” tem como objectivo ser líder, a nível mundial, nas energias renováveis. Conseguir que todos os países da Comunidade Europeia sejam entre 85 a 90% livres de carbono até 2050. No entanto, para cumprir este objectivo, alerta Jacopo Moccia, será necessário que se procure energia renovável «em todo o lado» e não só nos grandes projectos. «E aqui a energia marinha vai ter um papel importante», sendo que a parte do financiamento é fulcral.

Uma nota positiva. Estas tecnologias significam mais e novos negócios para indústrias como a da metalomecânica. Porque as plataformas, as turbinas, os navios… tudo terá de ser construído. Mas isso também implica novas necessidades de formação de recursos humanos.

Segundo o relatório “Reorientation of Shipyards: Opportunities in Offshore Energy”, da Douglas-Westwood-OECD, o desenvolvimento da indústria eólica fará com que o número de embarcações necessárias passe das 1229 (2014) para as 1964 (2025). O que representa um crescimento anual de 3,7%.

Também interessante é o facto de se prever, segundo o Sea Europe – Market Forecast Report 2015, que, nas próximas duas décadas, as energias renováveis e a nuclear serão as formas de produção de energia que terão o crescimento mais rápido, com valores, para cada uma delas, superiores a 5% ao ano.



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