A electricidade é um bem indiferenciado. E no fim tudo se vai resumir a uma coisa: qual será a tecnologia que produzirá a electricidade mais barata? Essa é a grande questão e o potencial entrave ao desenvolvimento das energias renováveis marinhas, pelo menos segundo a opinião de António Sá da Costa, presidente da APREN, para quem outra grande preocupação é consciencializar os cidadãos da importância de medidas alternativas para garantir que as receitas ficam todas (ou a maioria) em território nacional.
A questão, grande questão, ou problema, se preferirem, é a de que hoje já existem energias renováveis “bastante baratas”. Por ordem decrescente (do mais barato para o mais caro) encontramos, segundo o presidente da APREN, as centrais hídricas que, devido à sua antiguidade, já amortizaram o investimento e por isso podem produzir electricidade a valores muito baixos; as centrais solares fotovoltaicas, que apresentam valores na ordem dos 50 a 60 euros por kilowatt-hora; e as centrais eólicas onshore, onde o valor sobe para os 60 a 70 euros por kilowatt-hora. Já os projectos de energias renováveis marinhas apresentam valores muito superiores, acima dos 100 euros por kilowatt-hora.
Há vários factores que contribuem para este diferencial. Por um lado, as energias renováveis marinhas são mais recentes, pelo que as tecnologias ainda não estão maduras. Por outro lado, e como lembra António Sá da Costa, estes projectos “vivem” em ambientes mais agressivos. Sem esquecer que «não há uma única solução para todas as regiões do mundo».
A grande dúvida é se as energias renováveis marinhas vão conseguir recuperar o tempo perdido. Se os projectos em curso conseguem dar o salto e produzir a energia a valores que sejam concorrenciais com outras tecnologias mais maduras e instaladas no mercado. Sendo que, actualmente, a maior concorrência vem do fotovoltaico.
Portugal como centro de testes
A costa portuguesa, com ondas não demasiado altas, se, por um lado, pode levar ao desinteresse por parte da implementação de parques eólicos offshore fluentes (quanto mais alta a onda mais energia é produzida), por outro, segundo António Sá da Costa, pode atrair projectos de investigação. Ou seja, as condições não são as melhores para a produção em massa de energia, mas é o ambiente perfeito para testes de conceitos. O nível das ondas é suficiente para determinar a viabilidade de determinada tecnologia, sem ser demasiado castigadora para os equipamentos utilizados. «É mais barato testar um conceito na costa portuguesa do que, por exemplo, no Mar do Norte», constata o presidente da APREN.
Cumprir as metas ambientais
A Comissão Europeia estabeleceu metas rígidas de utilização das energias renováveis. Em 2014, cerca de 54% do consumo português de electricidade teve origem renovável. Um número interessante, mas que importa melhorar. Resta saber como. Porque implica actuar em três vertentes: energia; aquecimento e arrefecimento; e transportes.
Por parte da optimização do consumo, António Sá da Costa não acredita que seja possível baixar muito mais os valores. Porque os grandes consumidores – as empresas – já têm o seu sistema optimizado. Resta o consumidor final, que está mais atento e sensibilizado para as questões de eficiência energética e que tem substituído equipamentos mais gastadores por outros mais eficientes. A questão é que, entretanto, surgem novas formas de consumo. Novos equipamentos, como os tablets, os smartphones… hoje o consumidor pode gastar menos por unidade, mas tem mais dispositivos. Por outro lado, um dos maiores contribuidores para o aumento da energia é o aquecimento e arrefecimento. Ainda não há a consciencialização da poupança conseguida em utilizar alternativas, como sistemas fotovoltaicos para aquecimento de águas, por exemplo. Sem esquecer que a maioria das casas portuguesas não está devidamente preparada para grandes amplitudes térmicas. O resultado final são facturas, por vezes, avultadas ao final do mês.
Já no transporte tudo se resume a uma coisa. O não incentivo na aquisição do transporte eléctrico. É certo que isso significava um aumento do consumo. Mas é o consumo, por um lado, de energia limpa e, por outro, de energia produzida em Portugal. Ou seja, o valor pago ficaria em território nacional e seria reinvestido. Ao contrário do que actualmente acontece, em que parte da energia é importada.