Quando o mercado treme porque a China está a diminuir, como esperado, a suas taxas de crescimento, todos os olhos se viram agora para Índia como o raiar de uma nova esperança.

No Verão de 2013, os países que compõem o chamado BRICS, sofreram uma forte desvalorização das suas moedas com a antecipação dos mercados internacionais na alteração da política monetária da Reserva Federal Americana. Na Índia a rupia desvalorizou mais de 10%, mas ao contrário dos seus pares no acrónimo, foi o país que mais rapidamente se adaptou ao novo contexto monetário internacional. As eleições legislativas de Maio de 2014, que deram a vitória a Morendra Mori do partido Bharatiya Janata Party, considerado pelos actores económicos e financeiros como um probusiness, acabaram por promover um importante impulso no investimento. As reformas iniciadas por Mori que visam modernizar o país assim como a reforma do sistema financeiro iniciada pelo Reserve Bank of India, sob a direcção de Raghuram Rajan, um prestigiado economista mundial, permitiram que em 2015 o crescimento económico indiano ultrapassa-se o crescimento chinês. Para 2016, o elogio de Rajan ao orçamento apresentado em 29 de Fevereiro pelo ministro das finanças Arun Jaitley, que propõe uma redução do défice de 4,5% para os 3,5% do PIB, foi entendido como podendo estar para breve um corte nas taxas de juro. Rajan, disse aos jornalistas “the country was broadly moving in the direction of boosting growth”. Com um crescimento previsto de 7,5% para este ano e com uma classe média com poder de compra que corresponde a um total de 75 milhões de pessoas, segundo o National Council of Applied Economic Research, a Índia surge agora como a grande esperança na economia mundial.

No sector marítimo, os numerosos incentivos fiscais apresentados no orçamento de 2016-2017, revelam o interesse do governo em promover e tornar mais competitivo este sector. Petroleiros e igualmente os navios de granéis sólidos, olham com esperança para o crescimento indiano e tem razão para estar optimistas. De acordo com o último relatório do IEA, as previsões no consumo de petróleo na Índia são “particularmente favoráveis”, apontando para um crescimento anual, até 2021, em cerca de 4,2%. Em 2015, a procura de derivados do petróleo cresceu 9%, o que faz com que outros analistas sejam ainda mais optimistas comparando o desenvolvimento indiano aos últimos 10-15 anos da China. Se assim for, os petroleiros poderão ter nos próximos anos um futuro risonho pois a Índia, com reservas de petróleo limitadas – a produção doméstica é inferior a 900,000 b/d – pode tornar-se num grande importador. Se tradicionalmente as importações de petróleo provinham sobretudo do Médio Oriente, verifica-se agora uma alteração nas rotas, com predominância na África Ocidental e América Latina, o que tem deixado muito satisfeitos os respectivos armadores. E para além de tudo mais, a Índia tem um grande potencial no seu dividendo demográfico. Dos actuais 1290 milhões de habitantes espera-se só para este ano um aumento de mais 20 milhões. Baseado nesta trajectória de crescimento é esperado que a população trabalhadora ultrapasse a China em 2025. As iniciativas e reformas de Modi que visam modernizar a Índia para a tornar competitiva com as maiores economias mundiais está a colocar o país na mira dos investidores, armadores e dos transportes marítimos, compreendendo-se assim também todos os investimentos que estão a ser feitos nos seus portos.



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