Portugal tem condições naturais para exploração das energias renováveis marinhas com a vantagem de possível grande benefício económico directo e indirecto

A Europa, e particularmente Portugal, debatem-se com um profundo problema de segurança de abastecimento de energia, pelo que a CE tem produzido orientações para fomentar o desenvolvimento das energias renováveis.

Cada país da CE teve de elaborar um plano nacional incorporando o mix das ER como mais lhe conviesse. Portugal integrou dois tipos de Energias Renováveis Marinhas (ERM): a energia das ondas e a energia eólica offshore. Qualquer destas tecnologias tem recebido nos últimos anos fortes apoios da CE.

Pretende-se demonstrar neste artigo as razões pelas quais Portugal deve, mais do que apostar neste sector, posicionar-se como um dos seus líderes mundiais. Portugal, através do IST nos anos oitenta, é um dos pioneiros no estudo da energia das ondas e tem mantido sempre um forte interesse no seu acompanhamento. Hoje variadas instituições portuguesas têm forte conhecimento do sector (IST, LNEG, WavEC, INEGI, Instituto Hidrográfico, …).

Estas instituições têm participado em testes de vários protótipos instalados em Portugal e em projectos europeus, liderando alguns deles. Está, assim, criada um rede global de mais de cem instituições prestigiadas, desde universidades a utilities, passando por fabricantes de várias indústrias a empresas de consultoria e ambientalistas. De acordo com Fontes4, o WavEC é o actor central desta.

Este papel relevante desempenhado por Portugal foi-se construindo devido a condições muito favoráveis existentes no país: bons recursos de ondas e de vento constante, clima temperado que movimentou 75% da população para junto do mar e, consequentemente, a uma tremenda ramificação da rede eléctrica ao longo de toda a costa. As condições climatéricas proporcionam múltiplas janelas de oportunidade para operar no mar, pelo que se desenvolveu também uma rede multi-facetada de portos e estaleiros que facilita todo o tipo de actividade decom excelente montagem, instalação, operação e manutenção.

Uma série de protótipos de energia das ondas – desde a Central na ilha do Pico, uma das mais antigas a funcionar em todo o mundo, até ao Pelamis, Waveroller (a funcionar em Peniche) e um de energia eólica em plataforma flutuante (com excelente performance na Póvoa de Varzim) – contribuíram também para a formatação de um pacote legislativo, quer administrativo, quer regulatório, quer…, criando condições favoráveis ao desenvolvimento do sector. E estimularam mais de quarenta empresas portuguesas a participar desde início nos projectos e a adquirir um know-how especializado.

Com uma ambição declarada de expansão para o estrangeiro, a EDP Renováveis já ganhou concursos de grande dimensão para instalar parques de energia eólica offshore na Escócia e em França, e está muito atenta a novos mercados. Como consequência, irá “arrastar” consigo outras empresas, com destaque para a internacionalização da metalomecânica A. Silva Matos.

Com a actual Zona Económica Exclusiva e a previsível Extensão da Plataforma Continental em 2017, Portugal irá gerir uma área quarenta vezes maior que o território continental. E, tendo em conta que o Windfloat pode ser instalado a 100 km da costa e que decorrem testes de energia das ondas com plataforma flutuante, está disponível uma área enorme para explorar.

Todo este cenário foi explorado no projecto Observatório Tecnológico das Energias Offshore, destacando-se as seguintes conclusões:

– 70% ou mais do investimento nas ERM pode ser feito em Portugal;

– Sectores como a indústria naval, eléctrica, de cablagem, de âncoras, …, têm capacidade para exportar;

– Os conhecimentos adquiridos potenciam a venda de serviços de consultoria altamente especializada;

– Estas actividades terão de ser executadas por recursos humanos altamente qualificados.

Este relevante conjunto de condições favoráveis – as existentes no país e as orientações europeias, nomeadamente a Energia Azul que criou o Fórum de Energia Oceânica, um conjunto de peritos que vem apresentando propostas a nível da tecnologia, do licenciamento e das iniciativas de financiamento numa perspectiva conjunta público-privada, com o objectivo de atingir um custo de produção competitivo no mercado até 2025.

E todo este potencial a nível da economia contribui ainda para o combate às alterações climáticas.

Nuno Matos, consultor na WavEC

 



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