Raquel Gaião Silva foi a primeira portuguesa a vencer este prémio, obtido com um estudo sobre o efeito das alterações climáticas na distribuição das macroalgas na costa atlântica da Península Ibérica realizado no âmbito de uma tese de Mestrado em Biodiversidade e Conservação Marinha da Universidade do Algarve

A investigadora Raquel Gaião Silva foi a primeira portuguesa a vencer o prémio «Jovens Investigadores 2018», promovido pelo Global Biodiversity Information Facility (GBIF), e fê-lo graças a um estudo realizado no âmbito de uma tese de Mestrado em Biodiversidade e Conservação Marinha da Universidade do Algarve (UA). Um Mestrado que em 2017 foi substituído pelo mestrado internacional em Recursos Biológicos Marinhos (IMBRSea), esclarece a UA.

A distinção valeu à investigadora um prémio de 5 mil euros, conquistado entre 14 candidatos nomeados por “chefes de delegação de 11 países participantes do GBIF”, que é “uma rede internacional e infra-estrutura de investigação financiada por Governos de todo o mundo, que tem como objectivo fornecer, a qualquer pessoa e em qualquer lugar, o acesso aberto a dados sobre todos os tipos de vida na Terra”, refere a UA.

Segundo a UA, “os membros do comité destacaram o potencial do estudo de Raquel Gaião para a produção de importante conteúdo científico, com resultados sobre os impactos climáticos para macroalgas, um grupo taxonómico de importância ecológica, social e económica nas comunidades costeiras em todo o mundo”.

Já a investigadora, está “muito agradecida a toda a comunidade GBIF por tornar possível o acesso a dados com tanto potencial para projetos de investigação e por fomentar a colaboração, participação e inovação na ciência”, sublinhando que o prémio é um incentivo para o desenvolvimento do seu estudo “e para continuar a acreditar no impacto positivo que poderá trazer, não só para a ciência, mas também para todos os setores dependentes da presença de florestas marinhas de macroalgas e, por fim, para uma melhor consciencialização das consequências das alterações climáticas”.

A investigação de Raquel Gaião, produzida durante quase dois anos, “foi desenvolvidada com o apoio do Centro de Ciências do Mar (CCMAR)” e teve como “objectivo usar registos de ocorrência de espécies, da rede GBIF e de outras fontes, para examinar se e como o aumento da temperatura dos oceanos pode estar a alterar a distribuição de macroalgas na costa Atlântica da Península Ibérica”, explica a UA.

“As ocorrências de espécies presentes no GBIF compreendem cerca de metade dos dados do estudo da Raquel Gaião, sendo o restante proveniente de outras fontes de dados online, como o Sistema de Informação Biogeográfica dos Oceanos – OBIS e a colecção de macroalgas da Universidade de Coimbra (MACOI), ambos publicadores no GBIF”, esclarece a UA.

Diz ainda a UA que “foram usadas também as colecções de herbário portugueses do Porto, Aveiro, Lisboa, Faro e do projecto Marine Forests, uma plataforma de ciência cidadã, de acesso aberto, que promove a monitorização colectiva e internacional de algas”, acrescentando que “os resultados da sua pesquisa poderão vir a beneficiar investigadores, decisores políticos e residentes costeiros, dentro e fora das áreas de estudo”.

Em entrevista à RTP, Raquel Gaião Silva explicou que “as macroalgas são a base de um ecossistema marinho muito importante, as florestas marinhas, havendo muitas espécies com grande valor económico que dependem destas algas”, pelo que as consequências das alterações climáticas, recentemente analisadas pelo Painel Inter-governaental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla inglesa), “podem vir a ser um desequilíbrio do ecossistema” e com isso um decréscimo dos stocks dessas espécies de elevado valor económico.

“Espera-se que a investigação da Raquel Gaião possa destacar questões importantes relacionadas com os impactos induzidos por efeitos climáticos em macroalgas marinhas, do Golfo da Biscaia até o Estreito de Gibraltar, incluindo as alterações recentes na distribuição, particularmente nos limites geográficos mais a sul, das espécies”, admite a UA.

A UA espera igualmente que o estudo “possa avaliar as tendências da temperatura, uma vez que se relacionam com as preferências fisiológicas conhecidas e com os limites geográficos das espécies sob investigação, prevendo padrões de distribuição das espécies com base em modelos de temperatura”.

 



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