O Alexander (“Alex”) Panagopoulos é um grande amigo de Portugal. Isto é de assinalar porque o Alex é um armador grego que resolveu instalar-se em Portugal em 2008. Na boa tradição grega, o Alex pertence a uma família de armadores, em que o seu pai, Pericles, é reconhecidamente uma grande figura do shipping na cena internacional. Em 2007 a família Panagopoulos vendeu a sua participação no grupo Attica e, em Janeiro de 2008, Alex fundou a Arista Shipping. Esta empresa tem vindo a crescer com a aquisição de navios modernos, concentrando-se no mercado de graneis sólidos (ver www.aristashipping.com). A sucursal portuguesa da Arista Shipping é responsável pela gestão comercial e técnica da frota própria e de terceiros em “outsourcing”.
O termo “armador” presta-se a confusão porque sendo a tradução habitual do termo inglês shipowner  não tem exatamente o mesmo significado. No actividade de shipping (termo que também não tem tradução apropriada) distinguem-se cinco figuras que podem coincidir ou não na mesma entidade:
Shipowner é a entidade que tem direito de propriedade do navio, seja por compra, aluguer ou outro mecanismo financeiro.
Shipmanager é a entidade responsável pela gestão técnica do navio, que inclui tripulação, manutenção, abastecimentos, etc. Presumo que o termo “armador” deriva desta função de “armar” o navio.
Ship Operator é a entidade responsável pela exploração comercial do navio, quer contratando diretamente com o carregador quer subcontratando o navio a outro operador (operação designada por fretamento ou charter-out do lado do primeiro e de afretamento ou charter-in do lado do segundo).
Disponent Owner é o termo utilizado para designar o operador que não é o shipowner
Beneficial Owner é o termo utilizado para designar a entidade que detém o controlo efectivo do shipowner, quando este é apenas uma sociedade veículo (usualmente offshore).
Para poder navegar, o navio tem que ser registado em nome do shipowner num Estado que ofereça esse serviço. Esse será o Estado da bandeira do navio. Portugal oferece dois registos com bandeira portuguesa: o registo convencional e o registo internacional da Madeira (MAR). Este último teve um forte crescimento nos dois últimos anos, com a transferência de navios de registos offshore que caíram em desfavor. Só por si, a contribuição financeira dum navio registado no MAR é relativamente pequena, pois não obriga a sediar a atividade económica em território nacional. Mais interessante será atrair outros armadores com a Arista Shipping para se instalarem em Portugal.
A vinda de  Alex para Portugal foi, em larga medida, obra do acaso. Antecipando os problemas que  vieram a ocorrer com a crise financeira de 2008 e subsequente colapso da economia grega (e não só), Alex decidiu transferir a sua actividade para Genebra. Ao fim de um ano começou a ter saudades da qualidade de vida do sul da Europa e decidiu procurar uma alternativa em Espanha. Depois de percorrer a costa espanhola chegou a Sevilha sem encontrar o que pretendia. Foi aí que teve uma epifania e resolveu visitar Portugal. Para sua surpresa encontrou em Portugal as condições ideais para se instalar: um país seguro, com boa qualidade de vida a preços razoáveis, dotado de excelentes infraestruturas e meios de comunicação.
Desde que se instalou em Portugal, o Alex não se cansa de apregoar junto de outros armadores as virtudes do nosso país. Está firmemente convencido que se forem criadas em Portugal condições semelhantes aos de todos os outros países marítimos da UE, o seu exemplo será seguido e Portugal tornar-se-á um centro de shipping de nível mundial.
Quando visitei o Alex recentemente na companhia dum colaborador do Ministério do Mar, o seu rosto abriu-se num enorme sorriso de satisfação, convicto que, finalmente, este Governo vai ouvi-lo e vai actuar. Estou certo que sim.



4 comentários em “Dos Mundos do Mar”

  1. Antonio Luis Simões diz:

    Ao vaguear por aqui e por acaso dei com “Dos mundos do Mar” e de ler o nome de Alex Panagopoulos,em boa hora o fiz.Como sou um apaixonado pelo mar e navios e de cruzeiros um amante.Qual o meu espanto que ao continuar a ler e dou por mim a ver o nome de G.P.Patamianos imediatamente associei o mesmo ao paquete Funchal.G.P.Patamianos era um homem com um H enorme.Conheci o muito bem e cheguei muitas vezes a pedir lhe pessoalmente quando era para fazer as reparações do Funchal dizendo me sempre que sim.Um pouco mais tarde comecei a navegar (cruzeiros) pelos seus navios ( Funchal-Princess Danae e Athena )…Foi trágico o seu desaparecimento ( morte ) e de não darem continuação há sua obra e de a mesma ter caído nas mãos de quem não percebia nada de navios.Grato G.P.Patamianos…

  2. Joaquim Bertão Saltão diz:

    Perante a magnífica exposição do Luís Miguel Correia só me resta dar-lhe os meus mais profundos parabéns.

  3. Obrigado George,
    Alex Panagopoulos não é o único grego com raízes marítimas a se encantar por Portugal. O meu Querido Amigo George Petrus Potamianos descobriu Portugal em 1975 por acaso, quando veio inspeccionar o paquete FUNCHAL, então propriedade da CTM, o qual na altura tinha sido retirado da carreira das llhas e se encontrava para venda. GPP apaixonou-se pelo navio e por Portugal e a partir de Maio de 1976 passou a afretar o FUNCHAL anualmente para um programa de cruzeiros de Verão a partir de Gotemburgo, para o mercado sueco, que teve enorme êxito. Em Agosto de 1985, com a liquidação da empresa pública CTM, o FUNCHAL foi vendido em leilão e comprado por George Potamianos. Em vez de pegar no navio e o levar para a Grécia, fez o contrário, trouxe a família para Portugal, comprou uma casa em Caxias, os filhos mais novos foram para o colégio inglês de Carcavelos ao mesmo tempo que abriu um modesto escritório na rua do Alecrim, onde instalou a Arcalia Shipping. Manteve o nome original ao FUNCHAL e a tripulação portuguesa, e quis manter este paquete com tanto significado para Portugal com bandeira portuguesa no nosso registo convencional, isto em 1985, quatro anos ates de ser criado o MAR. A legislação portuguesa no que se referia a hipotecas de navios não permitiu essa primeira opção por a aquisição do navio ter sido feita com o financiamento de um banco sueco que exigiu o recurso ao registo do Panamá como garantia do empréstimo. A operação do FUNCHAL não podia ter corrido melhor sob a gestão Potamianos, o navio gerou um lucro suficiente para pagar o empréstimo logo ao fim do primeiro ano de operação, e o passo seguinte foi a compra do INFANTE DOM HENRIQUE, adquirido ao Gabinete da Área de Sines e abatido por Portugal como sucata. GPP promoveu a reconstrução e modernização deste grande navio e quando por insistência de um afretador alemão, teve de mudar o nome ao INFANTE, teve o cuidado de escolher outro nome português com dignidade adequada ao paquete; pensou em vários, nomeadamente FERNANDO DE MAGALHÃES, mas era necessário um nome que se pronunciasse de forma simples em inglês, ao contrário de IDH e F de Magalhães. Procurou, procurou e uma tarde ao estacionar a sua viatura à porta de casa na rua Vasco da Gama, em Caxias, olhou para a placa com aquele nome e resolveu o assunto: o INFANTE DOM HENRIQUE, nome impronunciavel na Alemanha, passou a ser o VASCO DA GAMA. A frota continuou a crescer, o escritório foi mudado para a sede da Rinave num andar de um prédio da 24 de Julho, onde depois se expandiu para outros andares e para o prédio do lado, e criou uma escola e renovou as tradições portuguesas no mercado de cruzeiros com uma geração de oficiais portugueses que hoje comandam um número significativo de navios de cruzeiros no mercado internacional. Chegou a ter 2500 pessoas a trabalhar para as empresas surgidas no âmbito da marca Classic Iternational Cruises, muitos dos quais portugueses, e com o registo MAR, em 2001 o FUNCHAL e os restantes navios da CIC passaram a ter a nossa bandeira. Em 2011 tentei com outro amigo, propor à Presidência da República uma condecoração para o grande amigo de Portugal que foi G.P. Potamianos, mas não houve o mínimo interesse em reconhecer o trabalho de uma vida e de forma simbólica agradecer a dedicação genuína a Portugal. GPP faleceu em Maio de 2012 e repousa em Oeiras. As suas empresas passaram para os filhos mais novos que não conseguiram dar continuidade ao trabalho do Pai, como acontece tantas vezes com Gregos cujas empresas armadoras não resistem à passagem de testemunho do fundador. Não foi o que aconteceu felizmente com Pericles Panagopoulos, o qual, muito antes de o filho Alex descobrir Portugal quisera instalar aqui uma nova actividade com um “cruise ferry” que seria baseado em Lisboa para uma operação semanal às ilhas da Madeira e Canárias, isto após ter vendido a sua Royal Cruise Line ao Grupo NCL. As dificuldades então criadas e os entraves burocráticos foram tais que teve de desistir de Portugal, mas não da actividade com ferries, pois por essa altura criou na Grécia a Attika Ferries com o bem sucedido conceito de Superfast Ferries. Ainda bem que o seu filho Alex acabou por redescobrir Portugal. LUÍS MIGUEL CORREIA

    1. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves diz:

      Feita integral justiça a um Homem que serviu Portugal, os Portugueses e a sua Marinha.

      Parabéns a Luís Miguel Correia-

      Que alguém faça o que não queremos fazer. Bem-vindo Sr. Alex Panagopoulos e que se cumpra a esperança de Jorge d’ Almeida.

      Ortigão Neves

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