Desde Fevereiro que o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto coordena um projecto europeu de investigação para desenvolvimento de “serviços e produtos com valor comercial para responder a incidentes no mar provocados por derrames de petróleo”, refere a instituição. O projecto denomina-se «Spilless» (First-line response to oil spills based on native microorganism cooperation) e é promovido em parceria com o INESC TEC (Universidade do Porto), a Universidade de Vigo e as empresas ACSM, Biotrend e MARLO, com um horizonte temporal de dois anos.
O custo estimado é de 370 mil euros, financiado em 80% pelo do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP) da União Europeia. Metade do financiamento “foi atribuído aos dois centros de investigação da Universidade do Porto (CIIMAR e INESC-TEC), que são responsáveis, respectivamente, pelo desenvolvimento dos consórcios microbianos para biorremediação e pela adaptação de veículos autónomos para o seu transporte e libertação”, referiu o CIIMAR ao nosso jornal. A outra metade é repartida entre a Universidade de Vigo e as empresas, esclareceu-nos o CIIMAR.
Em concreto, refere o CIIMAR, “o «Spilless» pretende desenvolver uma solução integrada que permita responder a derrames de petróleo utilizando microrganismos nativos com capacidade para biodegradar petróleo (biorremediação) e sua incorporação em veículos autónomos não tripulados que permitam a sua aplicação nas zonas afetadas pelos incidentes de poluição”. Trata-se de uma “abordagem eficiente, rápida e de baixo custo” que “poderá ser usada como uma primeira linha de resposta a derrames de petróleo associados a acidentes com plataformas offshore de petróleo, navios, portos ou outros complexos industriais”, refere Ana Paula Mucha do CIIMAR, líder do projecto.
Como nos explicou a investigadora responsável, a questão de “serem microrganismos nativos é muito relevante, uma vez que é um dos pontos diferenciadores desta tecnologia”, pois “já existem fórmulas microbianas disponíveis no mercado que apresentam a desvantagem de não serem nativas do ambiente em que serão aplicadas, apresentando assim vários problemas como a dificuldade de adaptação e baixa eficiência ou o perigo de introdução de espécies não nativas (ex. espécies invasoras)”.
O CIIMAR refere que vai ser feita produção em larga escala de colecções de microrganismos nativos de diferentes locais da zona costeira da região Norte de Portugal e Galiza “para biorremediação e de mistura de nutrientes para a sua bio-estimulação (rápido crescimento)” e uma adaptação de veículos autónomos não tripulados”, como drones e veículos superficiais e submarinos, “para o seu transporte e libertação”. Serão também realizados “testes de campo num cenário quase real, com vista ao desenvolvimento de um protocolo de acção in loco para aplicação no Oceano Atlântico”, com possibilidade de transposição para outras áreas.
De acordo com a instituição, “esta tecnologia constituirá um sistema de combate aéreo, superficial e submarino, que poderá operar sob condições meteorológicas desfavoráveis e severas, com baixa intervenção humana”. No final, estarão disponíveis vários produtos, “como uma biblioteca de consórcios microbianos nativos para biorremediação, misturas de aditivos para estimular a actividade desses microrganismos, dispositivos para incorporação destes agentes em veículos aéreos, de superfície e submarinos e um protocolo integrado para aplicação desta ferramenta”.
Todos os produtos serão disponibilizados em soluções chave-na-mão para combate a ocorrências de poluição marítima com petróleo. Pensado para os mercados ibérico e europeu, com hipótese de transferência para outros mercados, este projecto “inclui uma tarefa específica relativa à exploração dos resultados, que envolve a identificação do mercado potencial, avaliação do alinhamento dos produtos com o mercado e sua eventual adaptação, e a definição de um plano de exploração comercial”, esclareceu-nos a investigadora responsável.
Tal levantamento ficará a cargo da consultora norueguesa MARLO, que tem escritórios na Alemanha e em Portugal, e está bem implantada nos sectores petrolífero e dos transportes.
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