É uma conclusão possível de uma investigação de um cientista da FCUL sobre a origem do sismo de 1755 ao largo da costa portuguesa, que identificou uma anomalia tectónica onde não se julgava que existisse
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O investigador João Duarte, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) e do Instituto Dom Luiz, apresentou recentemente em conferência as conclusões de uma investigação segundo a qual o oceano Atlântico pode estar a encolher. As conclusões resultam da confirmação de uma anomalia verificada na crosta terrestre ao largo da costa portuguesa, a sudoeste do Cabo de São Vicente, e estão a ser replicadas na imprensa internacional, designadamente pela National Geographic.

Apresentado em Abril, na reunião anual da European Geosciences Union (EGU), em Viena, na Áustria, este trabalho propõe um novo mecanismo para explicar a existência de uma anomalia tectónica a Sudoeste do Cabo de São Vicente e foi desenvolvido com a colaboração de outros cientistas da FCUL, nomeadamente Filipe Rosas, Susana Custódio, Sónia Silva, Pedro Terrinha, Jaime Almeida, António Ribeiro e Chiara Civiero. Mas é uma investigação que está a ser desenvolvida por diversas instituições portuguesas e estrangeiras, como o IDL, o IPMA, o GEOMAR (Alemanha), a Universidade Livre de Amesterdão (Holanda), a Universidade de Mainz (Alemanha) e o Instituto de Estudos Avançados de Dublin (Irlanda).

“Neste trabalho compilámos vários tipos de dados para consubstanciar a sua existência e desenvolvemos um novo modelo computacional que permite simular o processo”, diz João Duarte. Foram reunidos todos os registos sismográficos da zona da anomalia, incluindo dados recolhidos no fundo do oceano durante 11 meses, em 2007, após o que foi criado um modelo computorizado, como apoio do investigador Nicolas Riehl, da Universidade de Mainz.

Como explica a FCUL, “a anomalia tectónica a SW do Cabo de São Vicente encontra-se por debaixo de uma zona completamente plana do fundo do mar – a Planície Abissal da Ferradura -, onde teve origem o sismo de 1969, com uma magnitude de 7.9”, e poderá permitir compreender a causa de sismos fortes numa área supostamente calma, longe da placa tectónica, indiciando a diminuição do Atlântico.

“Estamos a explorar a hipótese de esta ser a expressão do processo de início de subducção. As zonas subducção geram-se quando uma placa tectónica mergulha sob outra e são responsáveis pelo consumo das placas tectónicas oceânicas que levam ao fecho dos oceanos e à formação dos supercontinentes. No entanto, o processo de início de subducção é ainda muito mal compreendido no contexto da Teoria da Tectónica de Placas. A potencial identificação dum local onde este poderá estar a acontecer através de um mecanismo completamente novo dar-nos-á pistas fundamentais para a compreensão deste processo”, explica João Duarte, citado pela FCUL.

Constatou-se que a parte inferior da placa tectónica da costa portuguesa pode estar a afundar-se sob a placa continental (subducção), o que, ao longo de milhões de anos, poderá induzir a aproximação dos continentes europeu e americano, provocando o encolhimento e eventual desaparecimento do Atlântico.

De acordo com a The National Geographic, se estes dados se confirmarem, será “a primeira vez que uma placa oceânica foi apanhada no acto de descascar – e pode marcar um dos primeiros estágios do encolhimento do Oceano Atlântico, fazendo a Europa avançar em direcção ao Canadá, como previsto por alguns modelos de actividade tectónica”.

À TSF, João Duarte reconheceu que “não havia falhas conhecidas, cartografas naquela zona e o que descobrimos foi que existe uma estrutura enterrada, em profundidade, que não tem expressão à superfície, mas está lá. Conseguimos visualizá-la pela primeira vez”. Uma estrutura que, se for a origem do sismo de 1969, pode ser também a do sismo de 1755, cuja origem ainda está envolvida em mistério, até porque “há 250 anos não havia registos”, refere o investigador.



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