Ontem, dia 25 de Abril, o príncipe Mohammed bin Salman, da Arábia Saudita, anunciou um conjunto de reformas aprovadas pelo governo – o plano “Vision 2030” – que visa acabar com a dependência do país das receitas do petróleo. Optimista, Mohammed anunciou a uma cadeia de televisão que “we can live without oil by 2020”. Nos planos do príncipe está a oferta pública de venda da gigante estatal Saudi Aramco em menos de 5%, mas o suficiente para alimentar um fundo soberano que pretende constituir com um montante na ordem dos 2 triliões de dólares. Para se ter uma noção da grandeza, este montante seria suficiente para comprar a totalidade da Apple, Microsoft, Google e a Berkshire Hathaway. O objectivo de Mohammed é diversificar os activos do fundo em sectores não petrolíferos e assim deixar de estar dependente das receitas do petróleo. Com apenas 31 anos e um controlo sem precedentes no petróleo do país, Mohammed diz que faz parte de uma geração com outros sonhos. Mas nem todos seguem o seu sonho e revelam-se cépticos em relação à futura gestão do fundo. Como poderá o fundo garantir uma receita superior ao petróleo? Porque por o património da nação em risco? Se por um lado reconhecem que o país precisa de diversificar a sua economia, veem com cepticismo os investimentos futuros do fundo.
No ano passado, com o preço do petróleo em queda desde meados de 2014, o pânico instalou-se entre os conselheiros do príncipe ao descobrirem que as reservas em divisas do país gastas para subsidiar a economia só lhes daria para dois anos, muito aquém dos cinco anos previstos pelo FMI. Para fazer face aos gastos públicos Mohammed já pôs em prática várias medidas, como um corte substancial de subsídios à gasolina, água e electricidade e promete avançar com taxas sobre produtos de luxo e bebidas açucaradas, mas avisa que é só para os mais ricos. Num país com 21 milhões de habitantes dois terços trabalham para o estado e 30% dos jovens estão desempregados. A tarefa não se adivinha fácil.
Na reunião de 17 de Abril no Qatar onde membros da OPEP e a Rússia julgaram poder chegar a um consenso o poder de Mohammed revelou-se: sem o Irão não haverá congelamento na produção. Como revelou: “We don’t care about oil prices, $30 or $70, they are all the same to us…This battle is not my battle”. Para os observadores esta interferência de um membro da família de Saud nos assuntos petrolíferos é inédita, pois sempre foi deixada ao Ministro do Petróleo amplo espaço de negociação. Uma semana após o impasse, e ao contrário do que se esperava o preço do barril subiu quase 5%.
Estima-se que derivado do efeito contango, 160 milhões de barris de petróleo estejam armazenados em petroleiros no alto mar. Com a subida recente do barril já não é económico manter os petroleiros como armazéns de petróleo. Em breve estes navios iram descarregar a carga nalguma costa. Com esta descarga será que a subida do preço se mantêm?
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