Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro descobriu potencialidades para descontaminar a água nesta alga
Alface-do-mar

Investigadores da Universidade de Aveiro (UA) descobriram que a alga alface-do-mar “tem uma grande capacidade para remover elementos potencialmente tóxicos da água, a maior parte deles perigosos para a saúde humana e para o meio ambiente”, informou ontem a instituição em comunicado.

Um estudo da UA “indica que cada grama de alga consegue remover em simultâneo 120 microgramas de mercúrio, 160 microgramas de cádmio, 980 microgramas de chumbo, 480 microgramas de crómio, 660 microgramas de níquel, 550 microgramas de arsénio, 370 microgramas de cobre e 2000 microgramas de manganês”, refere o comunicado.

Estes elementos químicos, apesar de se denominarem clássicos continuam a ser “muito usados por várias indústrias e a sua presença no ambiente causa impactos negativos, tais como toxicidade, observada mesmo para concentrações muito baixas”, refere Bruno Henriques, investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e do Departamento de Química (DQ) da Academia de Aveiro e envolvido nesta pesquisa, acrescentando que outros problemas associados a estes elementos “estão relacionados com o seu carácter persistente no ambiente e facilidade em se bioacumularem nos tecidos dos organismos”.

“A remoção alcançada com a alga que temos testado para remover da água, entre outros elementos, arsénio, mercúrio, cádmio e chumbo, é muito elevada”, refere o investigador, sublinhando que, comparativamente a outros materiais, naturais ou sintéticos, usados hoje correntemente para o mesmo efeito, a taxa de êxito da alface-do-mar “é superior”.

Por esse motivo, Bruno Henriques entende que “estas algas são uma alternativa eficiente, pois removem percentagens elevadas de contaminantes num período curto de tempo, a metodologia é económica e mais ecológica do que os métodos clássicos para a remoção destes elementos, que são menos eficazes e, muitas vezes, mais caros, o que se traduz em baixo custo-benefício”.

A UA refere também que, segundo os seus investigadores, além da remoção dos elementos tóxicos, “as alfaces-do-mar permitem reduzir também o teor de fosfatos e nitratos em águas e ao usarem dióxido de carbono como fonte de carbono, permitem reduzir a pegada de carbono”.

Segundo a UA, o segredo da capacidade de limpeza desta alga reside na sorção, um “processo através do qual a alface-do-mar consegue incorporar nos seus tecidos os contaminantes”. O rápido crescimento destas algas, refere Bruno Henriques, “contribui para que se consigam remover os contaminantes em cada vez maior quantidade, pois o crescimento da alga aumenta o número de locais de superfície aos quais estes elementos tóxicos se podem ligar”.

Pelo que, refere o cientista, “as algas poderão ser utilizadas para diminuir a contaminação de locais muito afectados por descargas” dos elementos tóxicos, através da sua introdução “no local a descontaminar se as condições forem adequadas ao seu crescimento” ou cultivando-as “num outro local e transportando estas para os locais a serem descontaminados”.

Além de Bruno Henriques, estiveram envolvidos nesta investigação, Ana Teixeira, Paula Figueira, Joana Almeida e Eduarda Pereira (investigadores do DQ, do CESAM, do CICECO – Instituto de Materiais de Aveiro e do Laboratório Central de Análises), com a cooperação da Universidade do Porto e do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.



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