Amyris

Dentro de cinco anos, os produtos criados a partir do aproveitamento de resíduos industriais no âmbito da recente parceria entre a empresa norte-americana Amyris e a Universidade Católica Portuguesa (UCP) podem gerar cerca de 88 milhões de euros (100 milhões de dólares) anuais em vendas, estima John Melo, CEO da empresa, originário da Ilha do Pico, mas actualmente a residir e trabalhar nos Estados Unidos.

O protocolo que estabelece esta parceria foi assinado dia 17 de Junho e prevê a criação de uma plataforma de biotecnologia e um “centro de excelência europeu de bio-produtos na Escola Superior de Biotecnologia do Porto”, refere um comunicado conjunto, que se concretizarão no European Bioproducts Research Institute (EBRI).

Na ocasião, estiveram presentes, entre outros, o embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, Robert Sherman, o CEO da Amyris, John Melo, a Reitora da UCP, Maria da Glória Garcia, a vice-Reitora da UCP, Isabel Capeloa Gil, o ex-presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e o Director do Instituto de Estudos Políticos da UCP, João Carlos Espada.

A iniciativa representa um investimento de “pelo menos” 50 milhões de euros a cinco anos, dos quais “um milhão realizado de imediato” pela Amyris, segundo referiu John Melo ao nosso jornal, e “10 milhões no prazo de 18 a 24 meses, realizados pela empresa e seus parceiros”.

No horizonte dos dois parceiros está a possibilidade de recorrer a financiamentos comunitários “disponíveis para os bio-produtos e a economia circular”, referiu ao nosso jornal Manuela Pintado, investigadora da Escola Superior de Biotecnologia da UCP, igualmente presente. “Esperamos que na próxima época abram vários programas a que esperamos aceder com um posicionamento privilegiado”, referiu. John Melo também admitiu que vão “competir por esse financiamento”.

Recorde-se que, segundo a empresa, a Amyris é especializada em converter açúcares “em moléculas renováveis com múltiplas aplicações, que vão desde cosméticos e fragrâncias a produtos bio-farmacêuticos ou ainda dirigidos ao sector alimentar, de combustíveis e lubrificantes”.

 

Fixação de recursos humanos será importante

 

Segundo o comunicado, “o acordo permitirá o desenvolvimento de projectos de investigação para a Amyris no sector da Biotecnologia; contratos com empresas na Europa para produção sustentável de compostos bioactivos chave; e a promoção de programas de formação avançada no domínio da Biotecnologia para alunos de mestrado e doutoramento”.

O arranque da colaboração faz-se com “a criação de uma plataforma colaborativa sinérgica, para a concepção e desenvolvimento de projectos específicos chave, promoção competitiva da Amyris e outras empresas de Biotecnologia e atracção de pensamento científico de excelência de investigadores portugueses, que se espera que venham a integrar gradualmente o projeto”, refere-se também na informação conjunta.

Para o efeito, será instalada uma plataforma automatizada de bioengenharia na Escola Superior de Biotecnologia da UCP no Porto, “que permitirá desenvolver conhecimento de ponta e transferi-lo para o sector industrial, produzindo compostos através de processos de biologia sintética, caracterizando-os e explorando o seu potencial face às necessidades da indústria”, referem os dois parceiros.

Está prevista a contratação de mais de 100 investigadores ao longo dos cinco anos, recrutados essencialmente a nível local. John Melo admitiu-nos isso mesmo. “Iremos trazer alguns dos nossos recursos humanos para treinar os investigadores, no âmbito da transferência de tecnologia, mas o enfoque do recrutamento será no emprego local”, referiu.

O projecto envolverá a contratação de cientistas de topo “para os laboratórios de desenvolvimento conjuntos” e a transferência de “tecnologia que incremente a competitividade das empresas europeias, e em particular dos países atlânticos, na área da bioeconomia”, refere-se no comunicado.

 

Tecnologia por valorização de recursos

 

Conforme nos explicou Manuela Pintado, “vamos criar projectos que valorizem parte dos resíduos industriais gerados pela empresa e explorar toda a capacidade que existe nas suas moléculas para uma aplicação mais diversificada do que a que já possuem”. Dessa forma, “obtemos valor acrescentado para esses resíduos biotecnológicos”, algo em que a Escola Superior de Biotecnologia tem experiência.

“Vamos explorar o potencial dos produtos que a empresa já tem e valorizar os seus resíduos biotecnológicos, utilizando um micro-organismo que pode sintetizar praticamente um produto desejado”, referiu-nos a investigadora. Acrescentou ainda que “isso permite, de forma sustentável, sem consumo de fontes naturais, produzir um portfolio alargado de produtos que está a ser desenvolvido apenas nos Estados Unidos, na sua plataforma”.

“No próximo ano, esperamos implementar na nossa estrutura de biotecnologia do Porto uma plataforma com toda a estrutura de biotecnologia que eles têm nos Estados Unidos e sermos um hub de biotecnologia para as empresas europeias com suporte de todos os investigadores que aí serão integrados, uma vez que neste momento esta tecnologia não existe na Europa”, referiu-nos Manuela Pintado.

É nesta permuta de transferência de tecnologia (da empresa) por capacidade de valorização de resíduos industriais biotecnológicos (da UCP), através do EBRI, que consiste o centro da parceria. Por outro lado, ao valorizar os resíduos, algo a que empresa não se tem dedicado, será possível reduzir os custos da produção. E beneficiar outros parceiros da empresa.

John Melo sintetiza: “a nossa empresa trabalha com empresas e elas querem produtos renováveis para os seus consumidores; esses produtos têm que ser competitivos para que os consumidores os comprem e para isso importa que os resíduos tenham valor; a UCP tem feito um excelente trabalho na valorização de resíduos e eu vejo que é um benefício para o mundo a criação de valor para os resíduos, tornando os produtos renováveis sustentáveis para todas as empresas”.



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