Açores acolheram workshop sino-açoriano sobre ciências do mar
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“Os institutos de oceanografia chineses estão a desenvolver projectos que se podem articular com estudos realizados pela Universidade dos Açores, havendo em alguns casos grande complementaridade”, admitiu o Secretário Regional do Mar, Ciência e Tecnologia dos Açores, Fausto Brito e Abreu, ao nosso jornal.

Até ao momento, as áreas temáticas mais relevantes identificadas são a biodiversidade dos ecossistemas do mar profundo, incluindo os sistemas hidrotermais associados à crista dorsal média do Atlântico, a oceanografia por detecção remota (via satélite), a biotecnologia marinha, genética e outras áreas no quadro da biologia molecular, a gestão e proteção do espaço marítimo e a dinâmica dos sistemas costeiros.

“São áreas que estão perfeitamente alinhadas com a estratégia europeia para o Crescimento Azul e são muito semelhantes aos interesses estratégicos da China nestes domínios”, referiu-nos Fausto Brito e Abreu. A tais interesses, contudo, não será alheio o facto de “Portugal ser um país europeu com uma enorme zona marítima Atlântica sob sua jurisdição”, o que faz do nosso país um parceiro privilegiado da China em assuntos do mar.

E não lhe faltam os meios. Ao nosso jornal, Fausto Brito e Abreu admitiu que as instituições científicas chinesas com que tem contactado em matéria de assuntos marítimos “estão muito bem capacitadas, tanto em tecnologia como em recursos humanos”.

 

 

Encontros de cooperação

 

Neste contexto, tem vindo a ser desenvolvida uma cooperação sino-açoriana em assuntos do mar, em particular no plano científico, conforme o demonstra o workshop realizado nos dias 23 e 24 de Maio, na cidade da Horta, com a presença de Fausto Brito e Abreu, do Director Regional para os Assuntos Marítimos, Filipe Porteiro, e de cerca de duas dezenas de investigadores do 2.º e do 3.º institutos de Oceanografia da Administração Estatal Oceânica da China e de investigadores da Universidade dos Açores.

Fausto Brito e Abreu fez um balanço “muito positivo” do encontro, assinalando que o mesmo “é corroborado pelos cientistas de ambos os países que cá estiveram”. E recorda-nos que “esta não é a primeira iniciativa no âmbito desta cooperação entre os Açores e a China em assuntos do mar”.

Em Junho de 2015, uma delegação chefiada pelo Administrador Adjunto da Administração Estatal Oceânica chinesa, Fang Jianmeng, visitou os Açores. A deslocação incluiu “encontros com empresas do setor portuário, das pescas, das conservas, e uma reunião com o Reitor e cientistas da Universidade dos Açores”, recordou Fausto Brito e Abreu.

“Nessa visita oficial, a comitiva deu especial atenção à possibilidade de colaborar no esforço de investigação oceânica, não só na oceanografia biológica e na biotecnologia associada a ambientes extremos, mas também, nas geociências, pela exploração dos recursos minerais e em áreas relacionadas com alerta e previsão de riscos naturais”, explicou-nos.

Também nessa visita, a comitiva chinesa demonstrou interesse na troca e intercâmbio “de professores e alunos entre universidades chinesas e a Universidade dos Açores” e no teste de “equipamentos tecnológicos para exploração dos oceanos”. Foi ainda discutida “a possibilidade de experimentar nos Açores um submarino chinês tripulado, que tem capacidade para descer a 7 mil metros de profundidade”, admitiu o Secretário Regional do Mar, Ciência e Tecnologia dos Açores.

Depois disso, em Novembro do ano passado, Fausto Brito e Abreu, “no âmbito de um convite da tutela dos assuntos do mar da República Popular da China”, participou no Fórum de Cooperação Marítima entre a China e os Países do Sul da Europa, em Xiamen.

Na ocasião, visitou “várias unidades de investigação do Terceiro Instituto de Oceanografia chinês, um projecto de requalificação e conservação costeira em Wuyuan, uma unidade de produção da Xiamen Huison Biotech, uma empresa de biotecnologia especializada em produção de compostos com valor farmacêutico a partir de organismos marinhos”, recordou-nos.

 

China atenta a exploração de minerais nos fundos submarinos

 

Na opinião de Fausto Brito e Abreu, “a importância destes intercâmbios científicos prende-se essencialmente com a partilha de conhecimento e de experiências entre investigadores de diferentes instituições, e com a criação de redes de contatos internacionais”.

Nalgumas áreas de elevado potencial económico, como “a exploração de minerais dos fundos submarinos, que acredito que vai ser uma realidade nas próximas décadas nos Açores”, Fausto Brito e Abreu, o “estudo dos impactos ambientais que esta actividade extractiva pode ter em ecossistemas vulneráveis é seguramente útil para Portugal e para a China, bem como para outras grandes nações marítimas com quem temos colaboração científica, nomeadamente Noruega, Canadá, Estados Unidos e Brasil”.

Questionado sobre do recente encontro organizado na Horta resultou algum investimento da China nos Açores em matérias relacionadas com a investigação oceânica ou a exploração de recursos (designadamente, minerais) no mar profundo açoriano/português, Fausto Brito e Abreu reconheceu que não. “Para já, ficou o interesse, expresso de parte a parte, de se intensificarem as relações e parcerias científicas em áreas de interesse comum, e cada parte tratará de encontrar os mecanismos e recursos próprios para financiarem a sua participação nestas parcerias, esclareceu-nos.

Embora o investimento chinês seja uma realidade incontornável na economia portuguesa, o mar não tem despertado o interesse desse capital. Ao contrário da Grécia, onde a China mantém interesses na construção naval. Mas a cooperação científica com a China em assuntos marítimos, a que o Governo açoriano tem dado apoio no âmbito da política regional para a ciência, os laços históricos entre os dois países, a presença chinesa em empresas nacionais e os horizontes económicos abertos pela vastidão do mar português, podem contribuir para alterar essa realidade.



Um comentário em “China atenta ao mar português”

  1. Luis G Brandão diz:

    Foi pena não ter já ficado assente qq. Cooperação entre o Governo R dos Açores com a China, no recente encontro das
    Partes, na Horta.
    Mas as intenções propaladas tem que ter efectividade , digamos assim, para interesse de ambas.
    Gostei de tomar conhecimento
    destas notícias e creio que os
    Açores estão muito bem representados com o Secretário Fausto Brito e Abreu
    a liberar esta Parte .
    Seguirei com interesse esta questão .

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