Em velocidade de cruzeiro atinge entre 6 a 10 nós, e está preparado para levar cerca de 7 pessoas a bordo. O agora Anixa II está provido com todos os equipamentos electrónicos que permitem uma navegação idêntica àquela que se pratica nos navios: radar, sondas, ploters, sistemas de comunicação por satélite e sem ser por satélite, bem como sistemas de salvamento. E só em sistemas de modernização e navegação do veleiro gastou o Comandante José Mesquita cerca de 30 mil euros.
O veleiro, de pavilhão belga, por uma questão de facilidade do processo (que não teria de passar por uma burocracia extremamente complexa e custos elevados) respeita, não obstante, estritamente, todas as imposições de segurança, sendo, ainda para mais, o impulsionador deste um Capitação da Marinha Mercante, como se afirma, com certificado de Comandante de navios sem limitação de tonelagem.
Ao nível ambiental, também o veleiro está bem equipado. Com baterias alimentadas por painéis solares e gerador eólico, tendo inclusivamente um dessalinizador, pelo que até em água é autónomo.
“Faço do comandante chato”
Um “mini-veleiro escola”, como lhe chama José Mesquita, é, como explica, um instrumento de prática ao dispôr dos alunos da Escola Náutica que lhes permitirá aprender, para que quando chegarem ao mar, mais tarde, poderem dizer: olha este vento é força três, o diário de bordo faz-se assim, etc. “Um dos grandes dramas que têm em muitos sectores de formação é que sabem muito tecnicamente, mas depois quando chega à parte de pôr a mão na massa…”, revela o próprio, que afirma ser difícil fazer a ligação entre aquilo que aprenderam na Faculdade ou no laboratório e a sua vida prática.
Quando confrontados com jovens que até sabem menos, de outros países, esses jovens têm normalmente a prática no seu currículo de formação. Como se justifica que num país que forma jovens na Escola Náutica, a maioria deles nunca tenha entrado dentro de uma embarcação ou navio? “Ninguém aprende o mar num ano, demora muitos anos, mas tem de se começar logo quando se está no banco da escola”.
E qual é o plano daqui em diante? “Eles vão ter de, de uma forma voluntária, de manifestar o interesse de complementar as aulas com uma saída prática, ou duas ou três. Não é uma obrigação, não faz parte do programa curricular, infelizmente, mas se eles quiserem, têm à sua disposição. Quem me dera a mim, quando estudei na Escola Náutica, que tivesse havido um veleiro à minha disposição”, destaca.
A associação David Melgueiro assinou igualmente protocolos com Universidades, entre elas, a Universidade Porto, a Universidade de Aveiro, o Instituto Superior Técnico, a Universidade da Madeira, e o MARE (que tem oito universidades integradas). E todas elas apresentam pequenos projectos, geralmente de Mestrado, que se desenvolvem aqui na costa. Portanto, este veleiro representa também uma plataforma para os alunos desenvolveram esses mesmos projectos.
Pedro Finamor é um exemplo. Um jovem que está a desenvolver um projecto – estudo dos cetáceos e dos mamíferos ao longo da costa portuguesa – num veleiro de 10 metros que vai pertencer à Associação também. “Custa dois tostões, e conseguem fazer-se coisas magnificas. E fazer aquilo que navios oceanográficos não podem fazer por serem tão caros. De uma forma não exploradora, porque a Associação não tem fins lucrativos”, elucida.
O case study foi o Anixa I, actualmente propriedade de um suíço chamado Vicente, (em fase de treino para começar a colaborar em iniciativas da associação). E o Anixa III, que é o Casta Diva do Pedro Amaral, que está a terminar para auxiliar também nesta área. “Se quisermos fazer coisas em prol social e dos nossos jovens, conseguimos e dá-nos muito prazer e os nossos jovens aprendem imenso”, conclui.
“Estamos a pensar daqui a um fim de semana ou dois fazer um embarque”
Os alunos já estão a pensar usufruir: “Nós a nível da tuna já temos um grupinho feito. Estamos a pensar daqui a um fim de semana ou dois fazer um embarque”, refere um aluno em nome da Nautituna, presente na inauguração.
“A nível da Escola não temos muita componente prática no nosso curso – damos muito teórica, mas a nível prático temos apenas os simuladores, e os melhores só são utilizados no mestrado. A nível de licenciatura temos mesmo muito pouco. Por isso, é muito bom porque há muitas pessoas que não têm qualquer contacto com o mar. E é bom embarcarem e terem a sensação do que é estar no mar, o dia inteiro, pois os nossos dias de trabalho vão ser isto – estar embarcado seis meses”, explica Filipe Fraga, do 2º ano de Pilotagem, que apesar de já ter algum contacto com embarcações de recreio, vê nesta embarcação uma possibilidade de praticar, que é crucial.
O curso que fazem na escola, admite, fazem-no com o intuito de trabalhar em navios de cruzeiro, navios de contentores, mas este navio, com todos os equipamentos que um navio de 300 metros vai ter a nível de cartas electrónicas, de radar, entre outras coisas, é um excelente “professor”.
O aluno da ENIDH confessa já ter embarcado no Anixa I, referindo também a possibilidade de embarcar na Marinha de Guerra, que só leva duas pessoas de cada vez, mas que já contam como possibilidades.
“Quando se está no meio do oceano não há preocupações”
“Quando se está no meio do oceano não há preocupações”, foi assim que começaram a contar Paul e Rachel Chandler a sua aventura naquele que outrora foi o Lynn Rival e é hoje o Anixa II. O casal inglês que viveu uma aventura nos mares há 11 anos esteve, na última Sexta-feira, em Oeiras, para a inauguração.
“Havia cinco ou seis dias que não víamos navio algum, nada, apenas o mar”, e “todos os dias são como uma rotina” – no entanto há muito que fazer tendo que pescar para se alimentar, tomar conta do barco, verificar a meteorologia – “vive-se ocupado”, revela Rachel, que velejava a embarcação com o seu marido, já desde 2005, confessando que este estilo de vida saudável a faz perder alguns quilos por viagem. De noite, nem sempre há vento para velejar, especialmente perto do equador, e aí tem de usar-se o motor, mas realmente más experiências, à excepção da fatalidade de que foram alvo, não se lembram. De resto, os bons momentos passados no mar, em que só se vê mar, são momentos esplêndidos e gratificantes, nas palavras do casal.
No início, começaram por trabalhar seis meses e velejar outros seis, que foi bom por dois anos, mas em 2007 decidiram partir da Turquia e descer o Mar Vermelho. Velejaram até à India e depois atè às Seychelles, onde passaram alguns meses em 2009, e foi quando saíram de Seychelles que foram raptados por cerca de 10 piratas, que tentavam sem êxito encontrar um grande navio para sequestrar. Como naquele dia só o casal Chandler pairava pelas bandas, foi raptado. Serviriam não só de isco aos grandes navios como, mais tarde, para os libertar, 13 meses depois, os piratas pediram um resgate de 7 milhões de dólares (cerca de 6 milhões de euros).
Quando se tem uma experiência deste tipo, “no depois”, a única coisa que há a fazer é “seguir em frente”, para que aquele momento que os prendeu mais de um ano não perdure ainda mais, conta Rachel. Quando pedido um conselho, apesar de ter feito uma expressão de liberdade, de alguma forma, respondeu que quem quer ir para o mar tem “de se preparar para qualquer eventualidade – qualquer coisa pode acontecer. Mas, se não se arrisca, não se pode levantar da cama de manhã”.
Ainda assim, Lynn Rival, para o casal, significa “felicidade” por terem passado tanto tempo a viajar e velejar nele. Agora têm um catamaran, que por estes dias está no Seixal, em Amora, que é um pouco maior, mais estável, atinge mais velocidade, para continuarem a aventura pelo mundo, pois como refere Rachel – se não se arriscar, não se vive. E acima de tudo, o que importa são os amigos, a família e a sua liberdade. Pelo que de seguida vão para Lagos e seguem para as Canárias – fugindo do frio, seguem para o calor.
Uma aposta que tem “mão” de Oeiras
Nas palavras de António Almeida, CEO da Oeiras Viva na gestão de equipamentos culturais e desportivos, a oferta da Associação David Melgueiro encaixa-se e integra-se na “estratégia da Oeiras Viva de estender as actividades náuticas à comunidade escolar, especialmente aos jovens alunos do concelho de Oeiras”, de forma a criar laços com os desportos náuticos, e auxiliar o projecto de Oeiras de ser “uma porta para o mar”.
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