Alunos entre os 55 e oso 87 anos aprendem economia do mar em disciplina sobre Questões de Economia e Finanças.
Moody's

No Seixal funciona aquela que é, porventura, a única Universidade Sénior do país na qual são ensinadas matérias relacionadas com a economia do mar. Uma vez por semana, em aulas de 90 minutos, alunos entre os 55 e os 87 anos frequentam uma disciplina de Questões de Economia e Finanças, “com especial enfoque na economia do mar”, esclareceu ao nosso jornal Luís Lapa, Capitão-de-fragata de Administração Naval reformado (na reserva) e professor da disciplina, em regime de voluntariado, como sucede com os restantes professores da instituição, a Unisseixal.

No actual ano lectivo, frequentam o curso 40 alunos e o acolhimento “tem sido muito bom”, refere Luís Lapa. A disciplina é ministrada há oito anos, mas a economia do mar só surgiu nas aulas há seis. Foi por iniciativa do professor, depois de uma visita de estudo com alunos ao Algarve, no final do ano lectivo 2010/2011, onde incluiu o tema no programa e verificou que foi bem recebido.

“Sendo eu um interessado pelos assuntos do mar pela minha formação, e da economia do mar em particular após a apresentação do Hipercluster da Economia do Mar, achei por bem introduzir tal matéria nas minhas aulas”, admitiu-nos Luís Lapa. Prova do interesse que o tema parece despertar são os números crescentes de alunos na disciplina. “No primeiro ano eram 18 alunos e o número tem vindo a aumentar”, explicou-nos. Há três anos eram 28, no ano passado 33 e este ano são 40.

Questionado sobre as motivações dos seus alunos, Luís Lapa foi claro: “conviver, aprender e divertir”. E a propósito da proveniência profissional dos mesmos, o professor admitiu-nos que “são das variadas origens profissionais e habilitações académicas”, incluindo antigos “bancários, juristas, engenheiros, operários, comerciais, enfim pessoas comuns”. Alunos de alguma forma mais ligados ao mar, tem tido, em média, quatro a cinco alunos por curso. Ou seja, o mar tem interessado a diferentes universos profissionais e na mesma proporção quanto ao género (50% de homens e outros tantos de mulheres, aproximadamente).

E o professor? Além da carreira militar ligada ao mar, desempenhou “vários cargos a bordo de navios e em unidades em terra, ligados às áreas financeiras e logísticas”, referiu-nos. O seu último cargo foi como “Director Administrativo e Financeiro da DGM (actual Direção Geral de Autoridade Marítima)”, que exerceu enquanto concluía, à noite, o curso do ISCAL. “Em 1999 decidi passar à reserva e dedicar-me a actividades privadas”, referiu.

A par do bom acolhimento que o tema do mar teve nas suas aulas de Questões de Economia e Finanças, pesou na sua opção de o integrar a inspiração obtida com o trabalho do professor Hernâni Lopes sobre o Hipercluster do Mar. Actualmente, a abordagem do tema faz-se a partir do Barómetro da PwC sobre a economia do mar e com recurso a visitas e palestrantes convidados, visando “sensibilizar os alunos para a importância da economia do mar, bem com transmitir-lhes alguns conhecimentos”, explicou-nos.

Neste contexto, o professor destaca uma longa série de actividades exteriores, que incluem uma subida do Rio Arade, um passeio às Grutas do Carvoeiro, visitas à Docapesca, a empresas de preparação de pescado, conserveiras, aquiculturas, administrações portuárias, museus, faróis e até à esquadrilha de sub-superfície e ao submarino Arpão.

As palestras não terão sido menos interessantes, incluindo uma sobre estratégia de apropriação dos Oceanos, pelo Almirante Silva Ribeiro, hoje Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA), outra sobre a importância dos navios de cruzeiro, e outra ainda sobre a importância da Marinha portuguesa numa perspectiva económica, pelo Mestre em Ciências Militares Navais-Administração Naval, Miguel de Jesus Luís.



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