Um estudo realizado no estuário do Mondego revelou que um aumento máximo de temperatura de 2º celsius face aos níveis da era pré-industrial, conforme proposto pelo Acordo de Paris sobre as alterações climáticas de 2015, não provoca alterações significativas nos estuários temperados, ao contrário do esperado.
O estudo foi coordenado por investigadores do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), com recurso a análises financiadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e foi publicado na Scientific Reports, do grupo Nature. A investigação envolveu 10 investigadores e teve a participação das universidades de Aveiro (UA) e Minho (UM).
Segundo a Universidade de Coimbra (UC), o estudo conclui que os ecossistemas estuarinos lidam bem com um aumento máximo de temperatura de dois graus Celsius, evidenciando que o valor proposto no Acordo de Paris “é um valor seguro para os sistemas biológicos dos estuários, zonas muito dinâmicas e com uma elevada importância ecológica e ambiental”, refere Danel Crespo, investigador principal do projecto.
Como o estudo reforça “a ideia de que os valores indicados pelo Acordo de Paris para o aquecimento médio global podem ser seguros para a manutenção do devido funcionamento ecológico dos sistemas estuarinos temperados como o estuário do Mondego”, segundo Daniel Crespo, ele pode constituir “um contributo relevante para pressionar os decisores políticos a manterem o aumento máximo nos 2ºC”.
Conforme explica a UC, “para determinar os efeitos do aquecimento global nos estuários temperados, a equipa manipulou a temperatura no estuário do Mondego através da colocação de pequenas estufas em duas zonas intertidais (áreas que ficam emersas durante a maré baixa) com habitats distintos: um de areia nua e outro coberto por Zostera noltei, uma espécie de planta macrófita importante para estabilizar os sedimentos e evitar a erosão costeira”.
Em seguida, explica a UC, “avaliou-se o comportamento da microfauna (fungos, bactérias, etc.) e da macrofauna (por exemplo, bivalves e crustáceos), bem como processos ecológicos importantes como a bioturbação (movimento de fluidos e partículas no sedimento), nos dois habitats manipulados”. Os investigadores concluíram que “a metodologia aqui desenvolvida pode ser aplicada com sucesso em sistemas estuarinos de características e áreas geográficas diferentes”.
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