Uma Revista chegar ao Milionésimo número é um feito em qualquer parte do mundo e muito mais em Portugal. Um feito alcançado agora pela Revista de Marinha que merece só por isso, se mais não fora, os mais rasgados elogios, os mais sinceros parabéns e os mais reconhecidos agradecimentos.

Para além disso, para comemorar o Milionésimo número e oitenta vetustos anos de existência, a Revista de Marinha publicou igualmente um notável número especial constituído por algumas das principais figuras e actores da Economia do Mar em Portugal de modo a tornar possível uma visão panorâmica e significativamente abrangente do sector.

De facto, começando, quase se diria, naturalmente, por uma síntese da já longa história da Revista de Marinha, por Luís Miguel Correia, bem assim como por uma justa Nota Biográfica do respectivo fundador, Maurício de Oliveira, e um Memoriam a Gabriel Lobo Filho, o segundo Director e que conduziu os destinos da Revista durante longos e também atribulados anos, até 2008, os artigos seguintes estendem-se desde as questões mais estratégicas do mar até ás mais práticas questões do desporto, sem esquecer, evidentemente, as ciências e quase todas as várias e múltiplas áreas em que uma verdadeira Economia do Mar sempre se subdivide e se constitui.

Nesse enquadramento, ilustrando, sem qualquer pretensão de exaustão, encontramos desde os artigos mais estratégicos de um Adriano Moreira, reflectindo um pouco sobre a importância da mar para Portugal ao longo da sua História, bem como também um surpreendente artigo da Armando Marques Guedes a que nem sempre se dá a devida atenção, como sejam os cabos de comunicação submarinos, bem como, na perspectiva que talvez pudéssemos designar como mais-estratégico-prática, entre outros, os artigos de Fausto de Quadros, sobre a Ilhas Selvagens e o Direito, ou o artigo de Eduardo Almeida Faria, defendendo a tese da importância axial da Náutica de Recreio para todo o desenvolvimento de uma verdadeira Economia do Mar, uma vez constituir-se como um elemento gerador da indispensável massa crítica a esse mesmo desenvolvimento, a ser lido em conjunto com o texto de Isolete Correia sobre as marinas e a dinamização da náutica de recreio.

Ainda nesse plano, para além do artigo de Manuel Pinto de Abreu sobre os dias de lançamento da Estrutura de Missão de Extensão da Plataforma Continental, até à entrega da respectiva proposta nacional à Comissão de Limites das Nações Unidas,  processo do qual foi o principal responsável, importa não deixar de ler o artigo de Marta Chantal Ribeiro dedicado às Áreas arinhas Protegidas, não deixando de reflectir a sua igualmente decisiva importância numa estratégia de afirmação de Portugal no Atlântico onde, não menos importante se afigura, evidentemente, que Marinha queremos, ou talvez melhor, se torna imperioso termos no futuro de modo a permitir-nos a efectiva realização desse mesmo objectivo, como discorre Nuno Sardinha Monteiro.

Sobre os mais prementes  desafios que o mar hoje nos coloca, importa não deixar de atender à reflexão de Tiago Pitta e Cunha sobre a carbonização, ou descarbonização, do planeta e o crucial papel dos Oceanos nesse processo, bem como, interrelacionado exactamente com esse mesmo problema, se encontra a questão das energias renováveis marinhas, com António Sarmento a estabelecer as grandes linhas do que deverá ser a estratégia nacional nesse domínio, bem como, em distinto plano, a questão não menos decisiva da pesca e da aquacultura, oferecendo-nos Carlos Sousa Reis uma visão bastante ampla e exaustiva da situação actual e das oportunidades que, neste momento, também se abrem.

E se não é possível falar de futuro sem logo não s pensar igualmente na Ciência e no desenvolvimento tecnológico, essa é justamente uma ponte estabelecida Ricardo Serrão Santos, numa perspectiva mais geral do designado Crescimento Azul, ou, numa perspectiva mais particular da Biotecnologia, uma outra ponte colocada por Vitor Vasconcelos, não deixando Maia de Athayde Tavares de lembrar igualmente a importância do regresso da Biomarine a Portugal em 2018.

E numa perspectiva ainda mais prática, própria de uma Nação Marítima como Portugal, impossível seria, evidentemente, esquecer os portos, eventualmente, os portos do futuro, sobre os quais reflecte Jorge d’Almeida, com uma única certeza, a da rápida desactualização de tudo quanto escrito, embora admitamos que talvez nem tanto, assim como impossível seria não reflectir igualmente sobre o transporte marítimo e, muito em particular, sobre a Marinha de Comércio, embora, pelo estado de crescente decadência em que a Marinha de Comércio Portuguesa se encontra, João Soares não possa afirmar-se particularmente esfusiante mas, bem pelo contrário, algo sombrio, sem perder contudo ainda a completa esperança, o que conduz também, falando em portos e marinha mercante, inevitavelmente, às cadeias logísticas, abordando Carlos Vasconcelos, curiosamente, muitos dos temas e questões que têm sido mais analisados ao longo do tempo no Jornal da Economia  do Mar, como a automação ou a impressão 3D.

Mas se a Marinha do Comércio Portuguesa já conheceu bem melhores dias, o mesmo sucede, infelizmente, com a construção naval, sobre  qual, bem como sobre a manutenção naval, reflecte Victor Gonçalves de Brito, a voo de pássaro sobre a respectiva evolução ao longo dos últimos 80 anos, não deixando de ser curioso que, hoje, talvez  a mais significa actividade realizada em Portugal no que respeita à construção de novos navios, seja a construção de navios-hotel, ou seja, navios fluviais, para o Douro, sobre os quais discorre Hugo Bastos.

Em fim, sem sermos exaustivos, como referido, mesmo sem termo falado ainda no Surf, no Mergulho ou no grande Francisco Lufinha,  este pequeno resumo do muito que é possível encontrar no milionésimo número da Revista de Marinha, dá uma boa ideia do seu intrínseco valor e interesse.

Para finalizar, não podemos deixar de agradecer o gosto e a honra do convite ao Jornal da Economia do Mar para participar em singular momento, reproduzindo em seguida o texto então escrito como homenagem ao extraordinário trabalho que o Almirante Alexandre da Fonseca tem vindo a realizar ao Comando da Revista de Marinha desde 2008, em benefício de todos nós e de Portugal também.

 

Portugal e o Mar

 

«Há Portugal, não há Portugueses»

Almada Negreiros

 

São as nações eternas?

Eis uma boa e pertinente questão a formular nestes dias mais sombrios em que, pouco a pouco, quanto somos se afigura desvanecer-se, lenta mas inexoravelmente, nas «brumas da memória», ou, talvez mais gravemente, nos fumos de uma Europa, ou União Europeia, que ninguém sabe já também exactamente o que seja para ser.

Usamos aqui, por facilidade, a expressão mais simples de «nação» como sinónimo do conceito, algo mais complexo, de Estado-Nação, quanto aqui verdadeiramente importa, sem fazer grande distinção.

No caso de Portugal, uma primeira e desde logo relativamente evidente constatação é não haver aparente razão natural alguma para ter vindo à existência tal como veio _ e não só veio como persiste há quase nove séculos, ainda que, em não raros e, por vezes, longos períodos, no limiar da implosão, como se afigura suceder nos dias actuais.

Quando se refere não haver aparente razão natural alguma para ter vindo Portugal à existência tal como veio, está-se a pensar, antes e mais e acima de tudo, como é evidente, no factor geográfico, não havendo, como nunca houve, fronteiras geográficas a justificarem a separação de Portugal do resto da Península, ou, nos primórdios, dos restantes Reinos Ibéricos, entre os quais avultava então o Império do Al Andaluz ou, mais exactamente até, no caso, o Califado Almóada.

De um ponto de vista etnográfico, porém, embora a maioria dos povos que chegaram a esta Finisterra tenham-se espalhado de forma, aparentemente, homogénea, tanto os estudiosos mais antigos quanto os mais recentes, sempre se surpreenderam ao depararem-se com algumas distinções tão inesperadas como bem marcadas, num primeiro momento, relativamente à mais acentuada braquicefalia de uns ou mais nítida dolicocefalia de outros, como, mais modernamente, em relação às singulares características, igualmente inexplicáveis, dos respectivos DNA, em povos que tudo tinham para serem, aparentemente, mais semelhantes que distintos.

Um sinal?

Possivelmente, mas, mais decisivo, muito mais decisivo, como quase todos os maiores historiadores da Cultura Hispânica não deixaram de notar e salientar, de um Menéndez Pelayo a um Américo Castro, para citar apenas estes dois nomes, pelas razões que a seguir se compreenderão, é o facto de logo se ter distinguido singularmente, se assim se pode dizer, no extremo mais Ocidental da Península, desde os seus mais primordiais dias, o que viria a ficar posteriormente conhecido como Cultura Galaico-Portuguesa, sendo difícil encontrar plausível razão que justifique tal situação.

No caso de Américo de Castro, o interessante e que importa aqui reter é que, de algum modo negando, ou recusando, quase integralmente, qualquer singularidade da dita literatura árabe enquanto literatura árabe da Península Ibérica, não apenas por razões de simples aculturação mas porque, pelo estilo, fundo cultural e temperamental, sendo essencialmente Hispânico, revelar a realidade essencialmente moçárabe dos respectivos autores, como o caso mais famoso de Ibn Hazm e do El Collar de La Paloma, indo igualmente a ponto de negar ou defender nada dever o Estoicismo de Séneca nada Roma mas tudo à sua terra natal, no que respeita à cultura Galaico-Portuguesa, não só não recusa toda a sua singularidade como destaca mesmo o seu lirismo único e sem paralelo em toda a Península.

Distintas as razões para se citar aqui igualmente Menéndez Pelayo,  não porque não deixe de notar as diferenças entre as culturas de Portugal e Espanha, já enquanto tal, mas porque, mesmo num tema tão circunscrito quanto o da História dos Heterodoxos Espanhóis, quando escreve, por exemplo, sobre um Sá de Miranda, é-lhe impossível  eximir-se a não expressar a sua incompreensão pela independência e separação de Portugal, acima de tudo porque,  de tal acto resultou retirar a fachada Atlântica a Castela,  ou Espanha, antecipando quanto mesmo uma Galego como  Fraga Iribarne, amigo de Portugal, como sempre constou, viria a expressar quase nas mesmas exactas palavras em dias bem mais recentes.

Ou seja, o que aqui se pretende significar e demonstrar é que, independentemente de razões geográficas, Portugal, ou mesmo tão só território que viria a constituir-se como Portugal, sempre se revelou, pelas pessoas que sempre aí habitaram, desde a mais recuada antiguidade, uma singularidade, não deixando tal singularidade de vir a ter suas inevitáveis consequências, explicando, talvez, a directa e explícita intervenção de Bernardo de Claraval no processo de independência de Portugal, independentemente da relação de família com o Conde D. Henrique, o primeiro verdadeiro rei de Portugal, nas sábias palavras de Paulo Merêa, assim como a estreita ligação de Portugal aos Templários, desde a primeira hora, não deixando sequer de haver um Português entre os seus fundadores, assim melhor se compreendendo também a tão subtil quanto inteligentemente jogada diplomática de D. Dinis,  transpondo-os mais tarde na taõ Portuguesa Ordem de Cristo, para nos ficarmos por aqui mas não sem nos interrogarmos se tudo isto não quererá, de facto, dizer, ou indicar, pelo menos, haver, desde início, outra razão que não apenas razões de ordem natural, de mero interesse económico ou dinástico, subordinando tudo à vontade, por mais indómita que fosse, de um punhado de homens ávidos de terras ou glória, a presidir ao nascimento de Portugal?

Sim, assim se afigura.

E se regressarmos às palavras de Pelayo e de Fraga Iribarne, não será lícito deduzir do acto que tanto contestam a Portugal, uma espécie de dualidade de visão desde a mais remota origem também, mesmo que, inicialmente, mais implícita que logo completamente expressa e desenvolvida, como seja uma visão decididamente Atlântica, a de Portugal, ou de quem viria a dar nascimento a Portugal, e uma visão decididamente Continental, como sempre se manifestou Castela e, por extensão, Espanha, ao  longo de toda a sua História _ assim como as diferentes atitudes mais tarde reveladas ao longo da colonização dos novos mundos, tornariam bem patente?

Sim, sabemos que desde Afonso Henriques até D. Manuel, pelo menos, sem esquecer, evidentemente, D. João II, o sonho de uma Unidade Ibérica também inebriou os nossos Reis, mas isso não refuta nem diminui em nada essa dicotomia sempre presente na História até aos dias de hoje em que tudo surge já mais baço e contrastado.

Após 1974, renunciámos e repudiámos, de facto, mas não por acaso, todo o nosso passado Atlântico, esquecendo tudo, desde a circunstância de devermos verdadeiramente a nossa independência ao Mar, como termos sido, pequena nação do extremo da Europa, Cabeça da primeira verdadeira talassocracia moderna, verdadeiramente global, como termos sido ainda nós quem primeiro outorgou verdadeira Catolicidade à Igreja de Roma, entre muitos outro notáveis feitos.

A mesma falta de profundidade estratégica de Portugal na actualidade é a mesma do passado, e o tratado de Alcanizes não nos libertou apenas da temível tenaz de Castela que, sem o Reino dos Algarves, definitivamente seu, Portugal sempre ficaria sujeito, mas como último e decisivo passo de projecção de Portugal no Atlântico.

Não começou tudo muito antes do Infante, mesmo antes de D. Dinis?

Porque teimamos em esquecê-lo?

Sim, após 1974 iludimo-nos a fingirmo-nos pequena Nação Continental na periferia da Europa e do Mundo, com as consequências que aí advieram e se encontram bem patentes a todos. Quando o percebemos, era tarde, a máscara já estava colada à cara, como poderia dizer o Pessoa, e, hoje, já não sabemos sequer o que é ser uma Nação Marítima, ou Atlântica.

Tarde demais?

Quase…

Para revertermos a situação é necessário termos plena consciência do que significa sermos a Nação Atlântica, a Nação Marítima que somos, sabendo agir consequentemente.

Termos consciência da Nação Atlântica, da Nação Marítima que somos, significa, antes de mais, termos consciência das três instâncias em que a mesma se revela e manifesta, ou seja, numa primeira e mais imediata instância, em termos tecnológico-económicos; numa segunda instância, em termos geopolíticos e geoestratégicos, e, mais decisivamente, numa terceira instância, em termos filosófico-conceptuais.

Não será fácil, ou será mesmo impossível, expor completamente em meia dúzia de parágrafos quanto se deve entender por uma instância filosófico-conceptual, sobretudo quando vivemos num mundo que toda a singularidade é, por definição, repudiada e negada, quando se privilegia sempre a homogeneização em detrimento da diferenciação, quando a igualdade foi elevada a supremo valor que tudo domina e esmaga. Todavia, basta pensar quão diferentes somos do Norte da Europa para percebermos também que a diferença não é apenas mero fruto do acaso mas tem as mais fundas razões para assim ser e não ser de outro modo, caso ainda saibamos pensar como Portugueses, em Português, e não tivermos sucumbido já ao psitacismo pateta de quem perdeu já todo o sentido de necessária individuação e de si-mesmo.

Descendo na escala das instâncias até ao momento geopolítico e geoestratégico, tudo começa a ser mais simples e evidente, bastando pensar, por um lado, na eterna disputa entre as nações pelo acesso e posse dos mais variados e indispensáveis recursos ao desenvolvimento da vida do dia-a-dia e do mundo, tal qual os concebemos hoje, bem como, em simultâneo, atender a quem mais navega nas águas sob jurisdição nacional, em longos Cruzeiros Científicos, para percebermos onde reside o efectivo valor, importância e eventual força de Portugal.

Como diz o célebre ditado popular, para bom entendedor meia palavra basta e, estando a escrevermos para pessoas inteligentes, como só importa escrever para pessoas inteligentes, ridículo seria entendermos necessário mais adiantar.

Finalmente, no que respeita à instância tecnológico-económica, tudo se afigura de mais imediata e cristalina evidência.

Mas será assim tudo de tão cristalina evidência?

Pensemos, por exemplo, numa área de actividade tão aparentemente simples quanto a Aquacultura, qual a tendência de reacção quando tal se refere?

O mar de Portugal não é como o mar da Noruega!…

Pois não, e talvez por isso, ou por isso mesmo, as jaulas construídas e instaladas na Noruega não sejam as mais adequadas par Portugal.

Mas construímos nós, apesar de termos uma das melhores metalomecânicas do mundo, jaulas em Portugal, adequadas ao nosso mar?

Tanto quanto se saiba, nem uma.

E se falamos de Aquacultura estamos a falar da criação de peixes?

Sem dúvida. Mas apenas isso? Não estamos a falar também de sensores, robótica, embarcações, biotecnologia, ligada, por exemplo, ao desenvolvimento de novos tipos de rações, como não deixará de ser possível acrescentar ainda novos sistemas de energia renovável marinha, como quem, sabe, de novas formas de aproximação ao mercado, de novas atitudes de marketing, do desenvolvimento até de novas cadeias logísticas, enfim, de tanto mais que apenas peixe que o peixe, em determinado momento, quase poderá até parecer mais pretexto que o crucial produto.

Há plena consciência disto? Congregam-se os Portugueses em projectos como estes, ou outros equivalentes?

Infelizmente, não se vê muito, ou vê-se muito menos do que se gostaria e seria necessário ver.

Mas se apresentamos as várias instâncias em termos quase individuais, como algo quase estanque e separado, então importa pensar ainda em áreas como o Ambiente, por exemplo, que temos a obrigação de saber pensar como talvez só mesmo os Portugueses estejam, neste momento, em condições de saber pensar, compreendendo bem as eventuais vantagens geopolíticas e geoestratégicas passíveis de serem deduzidas e aplicadas, não sem também correspondentes vantagens económicas e até, possivelmente, tecnológicas.

Fazemo-lo?

Longe disso.

Porquê?

Quanto se afigura, há também três ordens de razão para ser assim.

A primeira e mais evidente razão, não sendo, porém, a mais grave, é de ordem política.

Como é bem visível e está patente a todos, do Presidente da República ao Primeiro-Ministro, à própria Ministra do Mar e até à dita Oposição, não se vislumbra um único político que se afigure atender genuína, séria e determinadamente ao Mar. O Mar serve sempre como magnífica figura de estilo em dias festivos, mas pouco mais.

Uma segunda ordem de razão respeita, mais gravemente, ao desinteresse pelos Assuntos do Mar manifestado pela Sociedade Civil em geral, incluindo mesmo, não raras vezes, quem se encontrando de algum modo ligado ao sector do mar, incapaz de pensar além do seu imediato negócio, desdenhe tudo quanto seja ter uma visão mais alargada do Mar e da real importância do Mar para Portugal, entidade que, para dizer a verdade, não é garantido que saiba já o que seja.

Finalmente, nação ocupada já também pelo Pensamento Nórdico, muito preocupados, e só preocupados, com a gestão, a eficiência, os números, os resultados, estamo-nos a transformar numa espécie de novo povo que, parafraseando Oscar Wilde, muito espertinho, sabe o preço de tudo mas não reconhece já o valor de nada, ou seja, como diria talvez Almada Negreiros, porque ainda há Portugal mas já não há, ou escasseiam, os verdadeiros Portugueses.

Exageramos um pouco?

Com certeza, mas não muito.

José Marinho costumava dizer que, para Portugal persistir, bastará haver 500 Portugueses a pensarem verdadeiramente Portugal como Portugueses.

Estamos perto do fim?

Estamos, mas Portugal ainda persiste e nós acreditamos que ainda existam ainda 500 Portugueses a pensarem Portugal como verdadeiros Portugueses.

Mais do que acreditamos, temos a certeza.

Alguns deles conhecemos. Nem todos, é certo, mas um há que todos conhecem tão bem como nós conhecemos, e não é difícil identificar de quem falamos: o Almirante Alexandre da Fonseca _ como este número da sua Revista de Marinha comprova plenamente demonstra.

Estamos perto do fim?

Estamos, mas enquanto houver e persistirem Portugueses como o Almirante Alexandre da Fonseca, e outros como o Almirante Alexandre da Fonseca, há esperança.

Portugal merece.



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«Foi Portugal que deu ao Mar a dimensão que tem hoje.»
António E. Cançado
«Num sentimento de febre de ser para além doutro Oceano»
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