Com uma economia caracterizada pela acumulação de materiais, particularmente de tipo imobiliário, Portugal tem um ritmo lento na evolução para uma economia mais circular.
International Ship Recycling Association

Em 2015, dos 145 milhões de toneladas de materiais extraídos em Portugal, 73% foram minerais não metálicos, recorda o diploma que aprova o Plano de Acção para a Economia Circular (PAEC), a propósito de uma referência ao percurso do país relativamente à utilização de materiais no quadro da economia circular.

Ali se refere também que Portugal é uma “economia cumulativa em materiais: extrai e importa mais matérias-primas do que exporta produto acabado, acumulando materiais em stock, sobretudo do tipo imobiliário”, como edifícios e infra-estruturas, traduzindo o que o Governo designa por “metabolismo lento” do país na evolução da extracção, produtividade no uso, desempenho em reciclagem e emissões/efluentes.

Diz-se também que apesar da queda no consumo interno de materiais devido à crise, sem prejuízo da melhoria na eficiência material e energética da economia, não existiu “uma disrupção relativamente à produtividade no uso desses materiais”. E recorda-se que “a partir de 2014 o consumo volta a crescer em minerais não metálicos e biomassa, acompanhando a retoma no sector da construção”.

O sector da construção, aliás, é predominante entre os produtores de resíduos, apesar da diminuição na produção nacional de resíduos (-35% nos últimos cinco anos), com “a maior fatia de produção no conjunto dos sectores (40 %)”, tendo registado mesmo “um aumento da produção de resíduos por unidade de PIB gerado”.

O documento refere também que apenas 65% da água capturada é utilizada e que a reutilização é residual, face a outros Estados membros da União Europeia (UE). Já na energia, apesar da aposta nas energias renováveis, Portugal depende muito dos combustíveis fósseis importados. Quanto a emissões de gases com efeito de estufa, têm decaído desde 2005, mas 2015 assinalou uma tendência para o seu aumento, que o Governo atribui ao crescimento económico e ao uso de carvão para produção de energia eléctrica.

No quadro da economia circular e no mesmo documento, o Governo aponta caminhos. “Por exemplo, a indústria transformadora gasta 53 % do seu volume de negócios na aquisição de matérias-primas, pelo que reduzir estes gastos, mesmo que numa pequena percentagem, tem um impacto significativo”. Na agricultura tais gastos representam 42% do volume de negócios e na energia 37%.

Aos sectores que se sintam “perdedores” neste processo, o Governo sugere o caminho de incentivos para que adoptem atitudes preventivas, “planeando a sua estratégia face a um contexto de mudança, e reinventando, se necessário, o seu produto, processo ou modelo de negócio de modo a garantir a sustentabilidade perante estas mudanças estruturais”.

Já na UE, “as matérias -primas representam entre 30 % a 50 % dos custos de produção”, sublinhando o Governo que “melhorar a eficiência e a produtividade no uso dos materiais em 30 % até 2030 implicará poupanças anuais” de 600 milhões de euros, um número que, com efeitos multiplicadores, pode passar a 1,8 biliões de euros por ano”.

O Governo relembra também que, à escala mundial, “a economia funciona à razão de 65 mil milhões de toneladas de materiais extraídos ao ano”, pelo que “em 2050, será mais do dobro”, com um uso médio por habitante de “mais 70 % de materiais do que os necessários em 2005”.



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