A economia circular no mundo, e no caso particular da Lisnave, sob o olhar de Peter Luijckx.

O Administrador Delegado da Lisnave, Peter Luijckx referiu que uma importante ferramenta da economia circular é a manutenção, precisamente o que faz a Lisnave aos navios, prolongando o “fim da vida. Esta consideração foi feita durante a Conferência sobre «Economia Circular no Mundo Marítimo», promovida no dia 10 de Janeiro, pelo Jornal de Economia do Mar e a Associação de Indústrias Navais (AIN).

Apresentando a Lisnave, que opera em seis docas secas com oficinas e escritórios para lidar com cerca de 100 navios por ano, referiu reparações e inspecções, focadas principalmente em providenciar serviços aos armadores. E, num mundo internacional, referiu, “temos que exportar os nossos produtos e por isso quase 100% do que fazemos, exportamos”.  Na ocasião, descreveu o que poderá ser a economia circular, começando com a operação do navio, que poderá passar por, numa primeira fase, manutenção, pois se tivermos um navio com boa manutenção, durará bastante tempo; em segundo lugar, a reutilização, que supõe reutilizar para qualquer solicitação que não a originalmente criada; e numa fase posterior, a reciclagem, onde os navios são desmantelados e as peças aproveitadas.  O mesmo responsável considerou que a reparação dos navios pode ser feita em vários níveis, começando na manutenção regular – inspecções, testes, certificações, limpezas, pinturas. Há que ter em atenção também, no caso do estaleiro, a actualização dos regulamentos, que mudam constantemente e podem afectar o período de vida dos navios, impedindo, por exemplo, a sua certificação. E à medida que os navios vão envelhecendo, é importante considerar um fim de vida extenso. Por último, a conversão: assim que um navio chega a uma certa idade, pode não interessar o propósito para o qual foi criado, mas pode ser utilizado em algo completamente diferente. As conversões mais comuns que vemos no mercado são as de um petroleiro convencional convertido em plataforma de petróleo.  Um dos principais tópicos actuais na economia circular dos navios é o tratamento das águas de lastro, que causa muita poluição no mundo e afecta espécies, referiu Peter Luijckx. Uma proposta que está a ser feita é para se alterarem os combustíveis, nomeadamente para o gás. Os requisitos são conhecidos e os prazos estão estipulados, no entanto há 600 mil navios no mundo, e apenas uma pequena percentagem está conforme com estes regulamentos. E ainda que os regulamentos já requeiram um sistema de gestão das águas de lastro, no futuro, estas terão que ser tratadas a bordo, o que requer desenhos e modificações, que serão caras, mas isso não deixa de ser os desafios do futuro.  Peter Luijckx defendeu que o transporte marítimo é, no entanto, o transporte mais amigo do ambiente, mesmo poluindo bastante. Há metas de poluição, segundo a Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla inglesa) e outras organizações. Para o futuro, as metas serão mais rigorosas e os navios têm de se actualizar, o que poderá ser difícil para o transporte marítimo. Diz-se que o CO2 terá de ser reduzido 30% até 2030. E no transporte marítimo terá que ser reduzido em 50% até 2050.  Há muitos passos a dar: o primeiro poderá passar por controlar a eficiência energética dos navios. Temos de olhar para alternativas, sistemas, baterias, filtros, e é completamente diferente se operarmos um navio que faz longas viagens em detrimento de outro. O futuro pode passar por discussões sobre o tema, workshops ou encontros técnicos para que, em cooperação, se perceba quais são as opções que existem.

No caso do transporte marítimo, importa gerir a energia que usamos na empresa, atentar ao modo de reciclar lixo, prevenir a poluição, eventualmente introduzir exemplo painéis solares. Em síntese, o Administrador Delegado da Lisnave referiu que “a economia do mundo depende fortemente do transporte marítimo e das rotas, o transporte marítimo é o motor importante de valor económico e alternativas como energia eléctrica têm sido investigadas”. “O desafio de todos nós é contribuir” e assegurarmo-nos de que “um navio bem conservado pode durar até 40 anos antes de ter chegado ao fim de sua vida e destinar-se à reciclagem”.



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