O plano de desenvolvimento e expansão da GALP para os próximos anos prevê investimentos até 2035 de 1400 mil milhões de dólares no Brasil, 300 mil milhões de dólares em Angola e 200 mil milhões em Moçambique

«A Galp tem tido a felicidade de ter estado envolvida em muitas destas novas descobertas», explica Helena França, Responsável da Exploração e Produção nas Operações de Marrocos. São nos países lusófonos que recentemente se têm feito importantes descobertas de petróleo e gás natural em águas profundas ou ultra profundas.

O investimento previsto para este sector é de 1400 mil milhões de dólares no Brasil (até 2035), e 300 mil milhões de dólares em Angola e 200 mil milhões em Moçambique. A Galp prevê investir no Brasil cerca de 1,5 mil milhões de dólares americanos por ano.

A Galp tem vindo a criar um amplo e diversificado portefólio de exploração de petróleo e gás, com projectos em Angola, no Brasil (os maiores projectos em quantidade) e Moçambique, por exemplo, e ainda um projecto em Portugal, onde se espera que comece a furar em 2016. Será interessante conseguir implementar em Portugal toda a experiência acumulada nos outros países, esperando Helena França que haja alguma descoberta interessante.

Para as próximas décadas, o grande desafio da humanidade será, para além do abastecimento de água potável, a energia, pois espera-se que a procura de energia no futuro ultrapasse em larga escala o consumo actual. O crescimento da população mundial exercerá maior pressão nos recursos, estimando-se um crescimento de 1,5 a 2% de aumento de procura de energia por ano. Para ir ao encontro das necessidades energéticas futuras, há uma grande “fatia” do défice energético cujas fontes estão ainda por descobrir e à medida que os recursos de combustíveis fósseis em terra se forem extinguindo, é preciso concentrar esforços na exploração em mar, ou off-shore.

A exploração de petróleo iniciou-se em campos de terra na Arábia Saudita, onde é barata a exploração. No entanto, esses recursos são controlados pelos países que os detêm e não são capazes de responder a todas as necessidades energéticas, que têm aumentado especialmente em países como a China e a Índia. Tornou-se necessário encontrar fontes alternativas de petróleo e gás natural, nomeadamente em águas profundas, desde campos até aos 200 metros de lâmina de água até campos de águas profundas, como é o caso do Brasil, com 400 metros de profundidade de lâmina de água e os sete quilómetros de profundidade dos poços.

Tudo isto representa uma «grande complexidade tecnológica» e um grande custo de produção, daí a importância do preço do petróleo para tornar estes projectos viáveis, já que apenas um custo do petróleo suficientemente alto motivará as empresas em investir em off-shore. As reservas dos países lusófonos são aquelas que têm tido um crescimento maior nas últimas décadas e onde se têm feito as descobertas mais importantes em termos de quantidade: em 2012, a descoberta de um reservatório de gás natural em Moçambique foi a mais importante descoberta do sector, que vai mudar a economia moçambicana.

No Brasil, existem já muitos blocos em produção ou em exploração off-shore, todos eles com potencial «gigantesco de crescimento em termos de produção». Dado o grande esforço brasileiro, Helena França espera que o Brasil vá ser o mais importante produtor de petróleo do mundo. Em2013/14 a produção Brasileira rondava os dois milhões de barris de óleo equivalente por dia e em 2020 estima-se que vá rondar os quatro milhões de barris por dia. Os blocos para exploração e produção foram divididos e concessionados a um consórcio ou uma empresa que se responsabiliza pela exploração do mesmo. A Galp está presente em vários destes blocos, contando com o apoio de diversos parceiros, e detém participações que rondam à volta de 10 a 14%.

A Petrobrás, empresa estatal do Brasil, detém o monopólio da exploração destes blocos, para os quais foi necessário desenvolver um trabalho tecnológico desafiante para assegurar a perfuração de 400 metros de lâmina de água e 7000 metros de profundidades que incluiu uma camada de sal e uma camada de rocha para chegar às camadas de petróleo. Só em 2010 é que se conseguiu obter tecnologia e se tornou economicamente viável a produção petrolífera em off-shore.

Em Moçambique, a Galp participa ainda num projecto de exploração de gás natural com parceiros italianos, chineses, moçambicanos e coreanos. O gás natural que se irá produzir em Moçambique terá de ser liquefeito, usando novas tecnologias de extracção directa do gás natural para os navios e conduzi-lo directamente sem passar por terra. Este projecto está em fase de desenvolvimento para depois se incrementar em fase comercial, estando a ser amplificado desde 2005 e o qual só deverá estar preparado para comercialização em 2018.

As operações de exploração envolvem grandes riscos: geológico, políticos e económicos (já que a maior parte das grandes reservas são em zonas do globo que são instáveis politicamente), tecnológicos, de inflação de preços devido à crescente procura, e de ambiente e sustentabilidade. Finalmente, a segurança das operações é uma preocupação fundamental da indústria, para assegurar que há equipamentos e protocolos prontos para fazer face a perigos.

Em off-shore, quanto maior a profundidade, maior o custo: as drill ships, essenciais para fazer a perfuração em águas muito profundas, podem custar um milhão de dólares por dia.

Só no caso do Brasil, os projectos planeados ou em curso irão exigir mais 28 sondas de perfuração (com um custo entre 100 mil e um milhão de dólares de custo por dia), a construção de mais 35 plataformas de produção e pelo menos 19 navios especiais para lançar os gasodutos até terra. Tudo isto terá um impacto à escala global, por exemplo na indústria da construção naval para responder às necessidades dos estaleiros, abastecimento de aço e outras matérias-primas, tripulações e recursos humanos qualificados, abastecimento dos navios, entre outros.

Para o país que explora os recursos, a exploração off-shore trará benefícios para a economia e a criação de emprego, mas a falta de preparação do países às exigências da indústria provoca atrasos e aumenta os custos de alguns projectos, especialmente para países como o Brasil que, querendo triar proveito dos recursos endógenos, colocam restrições e criam legislação em volta da sua exploração.

A produção de um bom poço pode durar até 25 anos, mas é nos primeiros anos que atinge o pico de produção, daí a estratégia da Galp em constante procura de novos poços. Outra estratégia passa pela diversificação do risco financeiro, operacional e tecnológico associado, daí a necessidade de estabelecer consórcios. A probabilidade de ter sucesso com um poço onde nunca houve exploração poderá ser de 20%, para investimentos muito avultados.



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