No mês em que se celebra o Dia da Mulher, a Aporvela juntou várias mulheres ligadas ao mar, na Casa Pia de Lisboa, para quebrar o estigma de que as águas ainda são um lugar de homens.
A conversa juntou Tânia Pereira, da Docapesca, Margarida Almodovar da Secretaria de Estado do Mar, Dulce Cruz, da Rebonave, Ana Pires da Marinha, e Joana Pratas, velejadora olímpica, e cada uma contou a sua história profissional, assinalando o quanto (ou não) o seu género foi um obstáculo.
Tânia Pereira falou de como a Biologia a levou à Docapesca, onde trabalhou, entre outros projectos, na valorização do pescado. Explicou que ser uma mulher, ali presente para observar os pescadores, ainda é alvo de desconfiança inicial, mas «quando percebem que há ali um trabalho, o interesse é crescente».
Dulce Cruz, directora de funções na Rebonave, afirma que quebrou barreiras apesar de ser mulher, mas que o género não é sequer um tópico nos navios onde trabalha, optando por contar aos alunos como os meses no mar podem afectar as relações com os familiares, mas não esqueceu o tópico da empregabilidade, que considera muito boa, especialmente com bons conhecimentos de inglês.
Ana Pires, Tenente da Marinha e responsável pelo abastecimento da embarcação Creoula, focou o seu discurso na importância que a paixão tem numa carreira ligada ao mar, mas também defende que o género não é um factor. «O mar trata-nos todos por igual» disse.
Outra área possível é o desporto, representado nesta palestra pela velejadora olímpica e treinadora Joana Pratas, que contou como foi uma batalha não pelo género, mas pelo tamanho, pois era considerada pequena e com pouco peso quando começou a lutar pelo seu sonho.
Mas a campeã de vela reconhece a raridade da sua história. Até 2012 «apenas duas mulheres tinham ido aos jogos em vela. Hoje há mais raparigas a praticar, mas os cargos de treinadora, diretora… ainda é difícil singrar, mas vamos conseguir».
Margarida Almodovar, da secretaria de Estado do Mar, conta que foi o seu gosto por criar que a levou até ao mar, e que todas as actividades profissionais podem ter a ver com as águas, incluindo novas profissões que estão a surgir. «Há um leque tão grande! Ensino, navegação… se tivermos um sonho, formos bons, acreditarmos e não desistirmos, conseguimos».
Quanto à questão de manter a feminidade no trabalho, o assunto não é se é possível manter, a conclusão é que não interessa, face ao ambiente. «Há que saber estar» explica Dulce Cruz, pois os navios não são lugares de vestuário casual ou clean cut, mas para se vestir o mais prático possível ou as fardas próprias do local.
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