O Anixa II levava a bordo os alunos da Escola Náutica Infante D. Henrique, que saíram de Lisboa na Sexta-feira para a regata.

As embarcações oceânicas – Jakatar e Anixa II – ficaram no pódio da regata que ocorreu Sábado, nas IX Jornadas Náuticas do Clube Naval de Peniche. Em primeiro e segundo lugar, respecivamente, num final renhido, com as restantes embarcações em competição: Maltez (3º lugar), Inquieto, Bajau, Mil milhas e 3Ms, de 20 pés a 40 pés, a uma distância mais considerável.

No final que Horácio Marteleira, Comandante do Jakatar, revelou a vitória dever-se não só à estratégia adoptada mas também ao comprimento das embarcações, explicando que as embarcações mais pequenas estavam mais limitadas. Com um vento ideal – não era muito forte nem muito fraco_, dando para velejar com pouca ondulação, confessou o comandante que “não esperava ganhar”, apesar de participar há 16 anos sem nunca ter ganho. Agora segue, por lazer, para o Algarve.

A bordo do Anixa II, embarcação que o Jornal da Economia do Mar acompanhou de perto, foram, mais uma vez, os alunos da Escola Náutica Infante D. Henrique. Cinco os alunos que embarcaram à aventura, desta vez com destino a Peniche, com o Comandante José Mesquita, da Associação David Melgueiro. 

Partiram na Sexta. Logo de início e porque, ao que parece, o fim-de-semana anterior tinha sido agitado, o comandante recomenda, para quem enjoa, o uso de uns óculos especiais que tem a bordo. Estes óculos, através do líquido das lentes, criam um horizonte artificial, concedendo ao olho a sensação que está tudo equilibrado.

Com alguns cúmulos, 10 nós de vento, genoa a estibordo, a primeira dupla de marinheiros toma o seu lugar. E duas horas depois, o Diário de Bordo é preenchido com todos os dados “a que tem direito”: na posição 38°, 43’, 009°, 30’, a pressão atmosférica, que se verifica no barómetro, encontrava-se com 934,9, o vento oeste, força 2, a visibilidade era boa e alguma ondulação. Observações: foram avistadas bóias de pesca.

E tudo corria bem quando, pouco depois de passar o Cabo da Roca, ao desligar finalmente o motor, o balão, acabado de içar, se rasga. Bem dizia, algures no tempo, o comandante que há sempre algo a reportar. Prosseguiu-se viagem tranquila, apesar da falta de vento e de alguns “vómitos técnicos”.

Um dia cheio de mar e mais mar.Depois da Areia Branca, já se avista a Lourinhã. A praia onde as rochas da terra são mais escuras, onde se descobriu um embrião com ovos de dinossauro com 80 milhões de anos e acabaram por descobrir o esqueleto inteiro do dinossauro. Narrativas que a tripulação vai conhecendo nos momentos em que o vento deixa “respirar”. A chegada ao porto, por volta das 20h15, ainda permitiu uma pequena volta pela cidade. 

Marinheiros a passar Ribamar (a meio da viagem)

Já em acção: dia da regata 

O acordar, no dia seguinte, foi certeiro, à hora indicada, dando inclusivamente tempo para um “resgate”. Os alunos, com a ajuda de um mini velejador a sair da Marina a bordo de um laser, resgataram uma garrafa de coca-cola que flutuava, apressadamente, para o mar. 

Preparados e abastecidas forças, partiram. “Hoje é a sério!”, partilha o comandante com os alunos. “Mas podemos ganhar a regata?”, pergunta um dos alunos. “Então não podemos? Temos o melhor barco da Europa”, responde o comandante poucos minutos antes de dar início à regata. O vento estava com uma “força fixe”, nas palavras dos alunos, mas a vir da proa e pouco estável. 

A poucos minutos da largada o Anixa II já se encontrava ao lado do vencedor do ano passado, à espera do aviso. O ângulo do vento está a 90 graus e as indicações são para ir largando a genoa, à medida que se vão endireitando as fitinhas. A vitória não era certa, mas o espírito positivo imperava. 

São 14h45 e no canal 9 ouve-se: “Regata das jornadas náuticas, faltam 5 minutos para a partida”. Os ânimos começam a fervilhar e, após uma breve explicação do percurso que vai, mais ou menos, ser decidido pela embarcação que comandar a regata, larga-se a genoa toda, e com 15 nós de vento inicia-se a regata, com todos a Barlavento. Partida que se fez favorável para o Anixa II _ o que iria, aliás, refletir-se ao longo da regata. Mas às 15h07 era oficial: o Anixa II era ultrapassado pelo Maltez, lugar que logo recuperou soltando um pouco a genoa e tirando a trinqueta.

A bordo seguiam os dois marinheiros principais, o Artur e o Gonçalo, com a função de afinar as velas – principalmente a genoa e a vela grande, e mais três alunos que auxiliavam nas restantes manobras necessárias, o Bernardo, o Fraga, e o Gonçalo.

À medida que ia enaltecendo a dedicação e o trabalho da tripulação, o Capitão, ousando dizer que queria o 1º lugar, ia comandando as “tropas” assertivamente: “Não comecem a fazer coisas sem eu mandar”, relembra. 

Os marinheiros, que muito estão a aprender com estas saídas, já vão dando umas dicas – umas mais certeiras que outras. Desde afinações de velas a outros procedimentos que já visionam apesar de ainda não terem a liberdade para levar avante as suas convicções, principalmente na regata. 

À chegada atraca-se passando dois lançantes (cabos que saem da proa para avante ou na popa para ré) à proa, ou seja, um é o reforço do outro, mas deixando os dois à mesma tensão para que um consiga suportar a força do outro, explica um dos alunos, Artur. 

Classificando a regata como um sucesso, Artur, que foi o imediato, com o papel de organizar e caçar a genoa, revelou ter sido “interessante estar a usar a genoa como balão”. E explicou que apesar de alguns barcos terem “um design mais virado para a performance” o Anixa II estava à frente. “A minha prestação? De 0 a 10? Nove e meio”. Ao “espírito de equipa” dá oito e meio. O que “falta mesmo é estarmos acostumados uns aos outros e adaptarmo-nos mais ao barco”.

Alunos da Escola Náutica Infante D. Henrique na Marina da Ribeira, Peniche


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