Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.

Sim, olhamos para o mar e vimos espelhado o céu, o céu do futuro sonhado de Portugal, sem cuidarmos suficientemente, talvez, dos mais negros abismos que sempre o compõem também, como talvez mais represente a mais actual realidade.

Sim, mesmo neste momento, é ainda Pessoa, quem sempre nos acompanha, que citamos.

Sim, como todos bem sabemos, não foi Pessoa génio de grande sucesso na imediata existência, embora longe também da figura de quase indigente que Gaspar Simões, a determinado momento, parecia querer fazer crer _ não sem escândalo da família, evidentemente.

Sim, sem o destino trágico do seu amigo Sá Carneiro ou o êxito mediático, apesar de tudo, como hoje se diria, de um Almada Negreiros, também amigo e companheiro do Orfeu, nesta nossa vida de todos os dias, nunca foi mais do que um mero pacato cidadão, simples empregado de escritório, recolhido sempre sobre o que mais importa, como gostava, mas continuamente pensando, perscrutando e vendo o mistério de Portugal como só quem tocado pelo Alto será, talvez, verdadeiramente capaz de pensar, perscrutar e ver.

Sim, se Portugal é quanto Portugal hoje é, é porque só Portugal teve, como só Portugal, sendo Portugal, poderia ter e ter tido um Pessoa, um Pascoaes, um Régio, um Frei Agostinho da Cruz, um Camões, para nos ficarmos apenas pelos poetas e por estes.

Sim, são os poetas, são sempre os poetas que, sabendo pensar, perscrutar e ver o mistério de Portugal, escrevendo poesia, prosa ou seja o que for, como só quem tocado pelo Alto será, talvez, alguma vez capaz de escrever, pensar, perscrutar e ver, fazem que Portugal seja Portugal, concedendo-nos o sublime orgulho de nos fazer sentir também Portugueses, fazendo-nos saber pensar, perscrutar e ver o mistério de Portugal como só quem tocado pelo Alto seria e é capaz de nos fazer pensar, perscrutar e ver.

Sim, olhando para o mar e vendo mais espelhado o céu do futuro de Portugal do que os negros abismos em que, pouco a pouco, nos afogamos, sem a arte, o engenho ou a sabedoria dos que, tocados pelo Alto, nos fazem realmente pensar, perscrutar e ver os mistérios dos destinos de Portugal, incapazes de ir mais além e concitar os apoios necessários e suficientes  à prossecução de um projecto como o do Jornal da Economia do Mar, esgotados todos os recursos nos mais diversos planos da mais imediata existência, não temos senão de reconhecer o fracasso irremediável para o qual tão determinadamente nos encaminhámos, temendo sempre, apesar de tudo, mais a vergonha de não termos tentado realizar quanto entendíamos dever ser realizado, do que fracassar, irremediavelmente como, quem sabe, seria sempre nosso, talvez inexorável.

Sim, fracassámos.

Não sem uma certa grandeza, apesar de tudo?

Talvez, mas fracassámos, e esse é o facto.

Fracassámos, mas se é sempre possível, mesmo do maior mal, retirar sempre algum bem, como os mais antigos e sábios sempre defenderam, para além de, perante todos quantos, no decurso de três longos anos e meio, acompanharam e apoiaram, de um modo ou outro, o desenvolvimento do projecto do Jornal da Economia do Mar, não podermos senão inclinarmo-nos, comovidamente, em profunda e reverente vénia de reconhecido agradecimento, talvez importa lembrar também as palavras do nosso António E. Cançado, segundo o qual o que sempre fica não é mais do que as ruínas dos grandes sonhos nunca inteiramente cumpridos.

De sonhos e projectos por cumprir de pouco valerá mais adiantar, assim como das ruínas que ficam, aí estando bem patentes a todos, tampouco muito mais haverá a dizer, a não ser talvez haver a esperança de, aberto um novo caminho, outros, com mais capacidades, mais arte e engenho do que nós, não deixando de prosseguir quanto agora apenas esboçado, possam chegar onde nunca chegámos.

Sim, com a mesma «independência de alma» com que se iniciou o projecto, o mesmo se dá agora por concluído, sem mais ser necessário acrescentar.

O que significa, em mais práticos termos, pelos compromissos já assumidos, manter-se quase tudo sem grandes ou muito profundas e visíveis alterações, ao longo do presente mês de Novembro, entrando-se, porém, em Dezembro, efectivamente na fase de «fim de festa», para tudo terminar, definitivamente, em grande apoteose de encerramento, a 17 de Janeiro de 2018, quando tiver lugar, no Oceanário de Lisboa, a Conferência Internacional dedicada ao tema, «If the Oceans Will Rule the World, Who Will Rule the Oceans», visando debater, primordialmente, entre outos temas, o papel individual das nações europeias na determinação, condução e defesa dos respectivos interesses e consequentes políticas marítimas, em contraponto do poder que a própria União Europeia não deixará nunca de querer impor e exercer, a par, evidentemente,  das possibilidades e formas de articulação entre umas e outras.

Uma Conferência sobre a qual esperamos poder dar mais informação muito em breve, assim como, pelos menos, dois outros Seminários em ultimação, o primeiro dedicado ao tema, «Ambiente e Economia Circular no Mundo Marítimo», bem como um segundo dedicado ao tema, «Potencialidades e Oportunidades no Mercado da Hidrografia e Oceanografia».

Tememos não nos encontrarmos já em condições de mais podermos realizar.

Entretanto, como diria o velho Nietzsche _ ó ironia das ironias _, «Temos a Arte para não morrermos de Verdade»:

Sim, nunca quisemos ser um deles mas sempre, teimosamente, nós mesmos, como, em diferentes termos, lembraria talvez Peter Gabriel…

Sabendo que, mesmo perante as maiores dificuldades, não há senão que continuar, como num ensaio, entre a primeira e a segunda fase da carreira dos Van Der Graaf Generator, quando o grupo sofria de graves problemas financeiros, deixava Peter Hammill gravado em tom de genial brincadeira…

… Talvez porque os Mares não sejam só Sete, como queriam os Sétima Legião…

E porque sabemos que Portugal, tendo vivido já momento bem difíceis, sempre os soube ultrapassar porque sempre soube contar também com verdadeiros Portugueses de Alma Inteira, porque, mesmo onde se imagina não termos tradição, como na música, sempre soubemos ter alguns dos melhores entre os melhores… Se os ignoramos, se não temos consciência de nós, isso é já outra questão.

E sendo tempo de terminar, com o devido respeito e as mais Altas Homenagens Marítimas,

Gonçalo Magalhães Collaço,

Director do Jornal da Economia do Mar que, único responsável pelo presente fracasso, não pode deixar senão de aqui escrever ainda uma palavra de comovido apreço por uma tão singular quanto magnífica pequena equipa e uma imensa Alma, veridicamente Salgada e Portuguesa, a merecer bem mais glorioso destino _ que não deixará de ter, com certeza, mas mais tarde _, e perante quem, Ana Rita Vieira, Fernando Serras, Jorge Alves e a mais recente, mas não menos promissor elemento, Vera Fortuna, se inclina igualmente em sinal da maior admiração, respeito e reconhecimento por todo o brilho que as ruínas que aí se patenteiam e manifestam, real e verdadeiramente,  para todo o sempre lhes ficam a dever.

 

E no fim, sabemos: Time Heals …

… e a música, a mais metafísica das artes, talvez também.



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«Foi Portugal que deu ao Mar a dimensão que tem hoje.»
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«Num sentimento de febre de ser para além doutro Oceano»
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