Ontem, coincidindo com o início das operações do navio Paglia no porto de Emden, na Alemanha, os conselhos de trabalhadores da Autoterminal, em Emden, e da fábrica local da Volkswagen, apelaram a uma assembleia geral conjunta de trabalhadores com o objectivo de influenciar a resolução do conflito laboral que envolve os estivadores do porto de Setúbal, conforme refere um comunicado da Federação Internacional dos Trabalhadores de Transporte (FITT/ITWF) e da Federação Europeia dos Trabalhadores dos Transportes (FETT/ETWF).
Recorde-se que o Paglia foi o navio que se deslocou ao porto de Setúbal para embarcar mais de dois mil veículos produzidos na Autoeuropa, em Palmela, destinados ao porto de Emden, e que estavam parqueados no terminal ro-ro do porto de Setúbal, acumulados por falta do normal escoamento para exportação devido à paralisação dos estivadores.
Um embarque que ocorreu na última semana com recurso a trabalhadores externos ao porto de Setúbal, cuja participação na operação foi contestada pelos estivadores habituais do porto, e à qual o FITT alude no seu comunicado, classificando esses trabalhadores externos como fura-greves.
A convocatória dessa assembleia em Emden resulta da influência da FITT que, juntamente com a FETT e a União de Sindicatos Alemã Vereinte Dienstleistungsgewerkschaft – United Services Trade Union (Ver.Di), representativa de mais de 2 milhões de membros, se uniram para apoiar a causa dos estivadores precários do porto de Setúbal, ou seja, o fim da precaridade no trabalho.
A FITT considera que os estivadores do porto de Setúbal “travam corajosamente uma luta legítima para terminar com o uso do trabalho precário no porto” e refere que “nos últimos 20 anos, a maioria dos estivadores que trabalham no terminal não beneficiaram de um contrato de trabalho permanente”, replicando as queixas que os estivadores têm vindo a partilhar com a imprensa (trabalho à jorna, ausência de protecção social na doença).
O comunicado da FITT inclui uma declaração de Thomas Mendrzik, da secção marítima do ver.di e que se terá juntado à acção em Emden. De acordo com este responsável sindical, “a luta contra as condições precárias de trabalho esteve sempre no centro da acção global dos sindicatos de estivadores” e “é pavoroso que em 2018 alguns empregadores continuem a usar as mesmas velhas estratégias para enfraquecer os trabalhadores e os seus sindicatos”.
Autoeuropa procura soluções
Também ontem, o Jornal de Negócios noticiava que muitas empresas da região de Setúbal “estão a optar preferencialmente por embarcar as cargas em Sines e em Aveiro, portos com maiores calados, assim como em Leixões” e que “também já começam a recorrer ao de Vigo, podendo vir a utilizar outros portos espanhóis, como Santander ou Algeciras”.
O mesmo jornal referiu ainda que “devido à paralisação dos estivadores em Setúbal, a Autoeuropa já começou a expedir parte da produção destinada à exportação utilizando os portos de Leixões e de Vigo, admitindo também vir a utilizar o de Santander”. O dia de ontem foi mesmo referido como o da chegada ao porto de Leixões de um navio proveniente de Espanha para embarcar cerca de 700 veículos da Autoeuropa produzidos na fábrica de Palmela.
De acordo com o Jornal de Negócios de ontem, em 22 dias de paralisação de estivadores no porto de Setúbal, o número de viaturas parqueadas já rondará as 15 mil unidades, “mesmo tendo em conta os 3.500 a 4.000 veículos que a fábrica conseguiu escoar com o carregamento de um navio em Setúbal” e “com o envio de mais de um milhar de veículos por outros portos, dos quais 700 para Leixões e perto de 600 para Vigo”.
O nosso jornal, ontem, depois de tentar apurar dados sobre essa situação, recebeu a informação não oficial de fonte próxima da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) de que essa administração não fornece informações sobre o caso.
Entretanto, em nota no blogue O Estivador, do Sindicato dos Estivadores e da Actividade Logística, datada de 27 de Novembro, refere-se que os patrões já admitem que o porto de Setúbal tem “um problema de precariedade, aceitando uma integração bem mais significativa do que aquela que pretendiam inicialmente, mas ainda não aceitam uma plataforma para um acordo colectivo sobre esta matéria por forma a que se garanta a todos aqueles que não sejam contratados sem termo um sistema de prioridade para o trabalho que acautele o seu futuro”.
No mesmo blogue, o SEAL refere que não responde a ultimatos, considerados “um formato pouco próprio para um assunto que deve ser tratado com maturidade e sentido de responsabilidade, quer face aos trabalhadores que garantem o bom funcionamento dos portos, quer face à economia que deles depende”.
Apesar deste discurso agressivo, vários meios de comunicação social avançavam ontem que poderia estar para breve um acordo relativo ao porto de Setúbal e que os empregadores poderiam estar receptivos a contratar 60 estivadores. O sindicato, por seu lado, precisaria de garantias do cumprimento futuro do acordo para suspender a paralisação. Para hoje e amanhã estão agendadas reuniões no Ministério do Mar, que poderão ter representes do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, e que são consideradas uma oportunidade para a resolução do conflito, que está a afectar seriamente a economia regional e não só. Por esclarecer está a questão da greve ao trabalho suplementar, que prossegue até ao final do ano na generalidade dos portos do país.
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