A «sustentabilidade é uma das coisas que temos de considerar em termos de futuro», refere Maria Emília Cunha do IPMA, que se tem dedicado a investigar em Olhão sistemas de aquacultura multitrófica.
A aquacultura multitrófica, ou Integrated Multitrophic Aquaculture (IMTA), são sistemas de aquacultura em que os desperdícios da produção aquícola «são aproveitados por um organismo, como os bivalves, que vão utilizar o desperdício como alimento», que por sua vez produzem matéria inorgânica, que é usada para a produção de algas. A utilização da ração inicial é rentabilizada na produção de peixes, bivalves e algas.
A aquacultura multitrófica em Portugal está a ser feita em tanques de terra em Olhão, que muitas vezes estão abandonados, estando o IPMA a tentar rentabilizar a sua utilização. Actualmente há algumas empresas no Algarve que estão a produzir ostras combinadas com produção natural de peixe.
A aquacultura multitrófica apresenta algumas vantagens como a eficiência na recuperação dos nutrientes, redução da eutrofização, controlo da proliferação das algas e transformação dos resíduos em novos produtos, assim como rentabilização, diversificação económica, divisão dos riscos e maior aceitação social. No fim, para além da produção do peixe, também se poderão vender as ostras e algas, diversificando as fontes de rendimento do produtor aquícola.
Os tanques de terra em aquacultura integrada acabam por ter melhor e mais estável qualidade da água, menos stress para os peixes, graças à melhor qualidade da água, e menos propensão para doenças, diminuindo a mortalidade dos peixes.
A partir de 2010 o IPMA tem realizado experiências para determinar as melhores características que maximizem o rendimento deste tipo de aquacultura, como a combinação de espécies de peixe, bivalves e algas que melhor se adapta a este tipo de aquacultura, ou que características para a produção de bivalves são necessárias. O IPMA usou também o pepino do mar, uma espécie com grande valor comercial nos mercados chineses, como substituto de algas, mas não houve grande sucesso.
As experiências do IPMA têm comprovado que os sacos de rede para as ostras funcionam melhor em IMTA, por ser mais fácil o manuseamento dos sacos, embora as ostras não se liguem aos sacos com a mesma facilidade. Quanto aos peixes, é com a dourada e várias espécies de sargo que se têm tido experiências positivas.
Alguns dos resultados encontrados até agora foram um maior crescimento dos peixes em aquacultura integrada do que piscicultura, o bom crescimento das ostras até atingirem dimensões comercializáveis (12 meses para a ostra do pacífico e 15 meses para a ostra portuguesa), e a descoberta que a ostra do pacífico tem maior taxa de mortalidade, pois a ostra portuguesa está mais adaptada às condições atmosféricas.
O programa operacional Mar 2020 pretende apoiar projectos que incentivem «o investimento produtivo na aquicultura multitrófica dando maiores garantias aos investidores mediante o desenvolvimento de um sistema segurador das populações aquícolas e a promoção de condições equitativas para os operadores da União a fim de aumentar, diversificar e valorizar a produção aquícola nacional privilegiando o aumento da produção de peixes de águas temperadas, de moluscos bivalves, e de algas; a revitalização de áreas de salgado inactivas em regimes de produção semi-intensivos ou extensivos; o aumento do valor acrescentado dos produtos aquícolas». Para a aquacultura multitrófica, ou biológica, o Mar 2020 irá disponibilizar quatro milhões de euros.
ALGAplus e Materáqua
A ALGAplus e a Materáqua são um exemplo de aquacultura multitrófica em Ílhavo, produzindo algas (ALGAplus) e dourada e robalo (Materáqua). Desde meados de 2012 que as duas empresas produzem em regime de aquacultura multitrófica. As duas empresas têm vantagens na optimização da rentabilização do espaço e na redução dos custos de fertilizantes para as algas.
Para a produção de algas e peixes, as duas empresas partilham espaço, rentabilizando o espaço em tanques de terra e tanques artificiais que de outra maneira não seria utilizado, nomeadamente as instalações de apoio, de processamento e tratamento de algas. A ALGAplus reaproveita ainda as águas residuais de produção piscícola para obter os nutrientes necessários para o crescimento das algas, além de aumentar o valor das algas produzidas por serem processadas de forma natural, sem recorrer ao uso de químicos.
Desde meados de 2012 que a ALGAplus tem desenvolvido estudos pilotos de aquacultura multitrófica, tendo entrado em fase comercial no início de 2014. A empresa produz à volta de uma tonelada de algas frescas por mês.
Rui Pereira, Director-geral da ALGAplus, explica que o envolvimento da ALGAplus em sistemas de aquacultura multitrófica faz parte da sua estratégia de reaproveitamento das águas residuais da produção piscícola, associando-se assim a empresas aquícolas já existentes. Eventualmente, a ALGAplus poderá alargar a sua actividade a outras empresas aquícolas semelhantes à Materáqua.
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Não explicam o que é o IPMA.