Projecto de captura e armazenamento de carbono no Mar do Norte
Porto de Roterdão

Está a aumentar a pressão para colocar em prática mecanismos de captura e armazenamento de carbono e o porto de Roterdão parece ser o local ideal para ensaiar tal tecnologia. De acordo com a Reuters, até ao final do ano, o CEO da Autoridade Portuária de Roterdão, Allard Castelein, espera que seja tomada uma decisão sobre um projecto de investimento de 500 milhões de euros numa instalação para este efeito.

Segundo a Reuters, o porto de Roterdão é, aliás, “o único sobrevivente de uma dúzia de planos da União Europeia para testar esta tecnologia e que têm sido frustrados ao longo dos anos por falsas partidas”. E se existe algum local onde a experiência pode ser testada “deve ser em Roterdão”, admitiu Allard Castellein à Reuters.

A seu favor Roterdão tem a localização. O porto dispõe de uma extensa rede de canos que podem servir para transportar carbono das indústrias até aos navios, que o levaria até um depósito de gás offshore em desuso existente no Mar do Norte, onde seria armazenado. Tanto as indústrias belgas, como as alemãs e as holandesas têm um acesso fácil a essa rede, o que só favorece o projecto.

O projecto-piloto tornaria possível a captura de um milhão de toneladas de carbono por ano, durante três anos, a partir de uma central de energia alimentada a carvão, onde seria comprimido e bombeado até ao depósito de gás. A central de energia é detida pela Uniper, que juntamente com a francesa Engie investiu 100 milhões de euros neste projecto. Outros fundos deverão provir do Governo holandês e da Comissão Europeia (CE).

Hans Schoenmakers, director da Uniper, considera que o apoio do Governo holandês e da CE lhe dá confiança e acrescentou à Reuters que “existe a convicção generalizada de que não há outra alternativa”. “Temos que alcançar os objectivos de redução do CO2”, concluiu. No entanto, uma decisão definitiva não deverá surgir antes do próximo ano, o que dará tempo ao Governo holandês de acabar com as centrais a carvão.

Na Holanda, aliás, existe um forte suporte político a esta tecnologia, sobretudo depois de uma decisão judicial que apela à rápida redução da emissão dos gases com efeito de estufa. E na Europa, quer entre cientistas, quer entre empresários, especialmente nos sectores mineiros e de combustíveis fósseis, cresce a convicção de que é mais barato assumir os custos deste tipo de projectos do que correr os riscos de desvalorização dos seus produtos, especialmente depois do acordo internacional sobre o clima obtido em Dezembro de 2015.

Conforme refere a Reuters, Stuart Haszeldine, professor e especialista nesta tecnologia na Universidade de Edimburgo, considera essencial implementar ensaios, tal como os de Roterdão, quepoderão crescer e atingir economias de escala e relacionar-se com outros projectos do mesmo género. “Se isso não acontecer, então, logicamente, todas as companhias de extracção de carbono ficarão gradualmente defuntas”, esclareceu o académico.

De acordo com a Reuters, os cientistas consideram mesmo que esta tecnologia é essencial para se alcançarem os objectivos de redução de emissões definidos internacionalmente, porque o tempo necessário para acabar com os combustíveis fósseis não é compatível com as metas cronológicas dos acordos internacionais e com as necessidades do planeta.

Na Europa, no entanto, os empresários, que têm estado relutantes em investir nesta tecnologia, queixam-se de que existem poucos incentivos para esse efeito e que é mais barato queimar carvão, o combustível fóssil mais intensivo, face ao mecanismo do Sistema de Troca de Emissões (Emissions Trading System, ou ETS) da União Europeia. Mas à medida que a pressão aumenta, são cada vez mais procuradas alternativas para gerar receitas a partir de mecanismos de diminuição de emissões



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