Em 2018, 744 grandes navios comerciais foram vendidos para desmantelamento, dos quais 518 (90,4% da tonelagem bruta mundial) foram desmantelados em praias do sul da Ásia, referiu a organização não governamental (ONG) Shipbreaking Platform, que desde há muito denuncia as condições de insegurança laboral e ambiental dessas operações naquela região do globo.
De acordo com a organização, em 2018, morreram pelo menos 38 trabalhadores no desmantelamento de navios. Pelo menos 14 terão perdido a vida nos estaleiros de Alang, na Índia, que terá conhecido um dos seus piores anos da última década nesta matéria. Duas dezenas morreram e 12 ficaram gravemente feridos em estaleiros do Bangladesh e no Paquistão morreu uma pessoa e 27 ficaram feridas, refere a mesma organização.
“Os números de 2018 são chocantes; nenhum armador pode dizer que desconhece as terríveis condições dos estaleiros na praia, todavia, continuam a vender massivamente os seus navios aos piores estaleiros para obterem o melhor preço; o mal causado por esses estaleiros é real”, referiu a propósito destes resultados a fundadora e Directora Executiva da Shipbreaking Platform, Ingvild Jenssen, acrescentando que “os trabalhadores arriscam as suas vidas, sofrendo pela exposição a tóxicos, e os ecossistemas costeiros ficam devastados, pelo que os armadores têm a responsabilidade de vender os navios a estaleiros que investem nos seus trabalhadores e no ambiente”.
A organização coloca os Emirados Árabes Unidos, a Grécia e os Estados Unidos no topo da lista dos países que mais navios enviam para desmantelamento. Os primeiros terão sido responsáveis pelo maior número absoluto de vendas de navios a estaleiros sul-asiáticos (61); os gregos terão vendido 57 navios a esses estaleiros, de um total de 61; e os armadores dos Estados Unidos terão vendido 53 navios ao mesmo tipo de estaleiros daquela região.
Num documento publicado recentemente com estes resultados, a organização identifica algumas empresas entre as principais responsáveis pela venda de navios em fim de vida a estaleiros do sul da Ásia, designadamente, a estaleiros situados em praias, identificando igualmente algumas das empresas mais responsáveis nesta matéria. E refere também o papel da indústria das plataformas offshore neste fenómeno.
A ONG sublinha também que o tema não passa despercebido às instituições financeiras e outros investidores na sua relação com os armadores, a quem pressionam cada vez mais para que deixem de vender os seus navios a estaleiros localizados em praias. Bancos e fundos de pensões, por exemplo, estão a prestar cada vez mais atenção a esta questão e a exercer influência no sentido de melhorar as condições sociais dos trabalhadores deste sector e do ambiente que envolve este tipo de operações.
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