A alma do Tejo. Foi a tentar preservar a alma do Tejo que a ANCORAS – Associação Náutica Clássicos de Oeiras reuniu neste Sábado várias embarcações tracionais para uma regata, seguida de uma série de passeios gratuitos no maior rio da Península Ibérica. Combinando desporto, cultura e algum lazer, a associação quis aproximar as pessoas de canoas, catraios, arrais e outros que tais.
Mais do que desfrutar do rio, aquilo que a associação, com a colaboração de empresas e outras entidades, procurou fazer foi despertar o público para o potencial das embarcações tradicionais do Tejo, outrora verdadeiros modos de vida e subsistência, hoje convertidas em suportes turísticos, mas cuja conservação requer o esforço de cada vez menos peritos na sua construção e curtos meios financeiros disponíveis para as manter.
O nosso jornal viajou a bordo da canoa Gavião dos Mares, construída pela empresa de Ricardo Conduto, que é sua proprietária, sob o comando do seu dono e arrais, já depois da embarcação ter vencido a regata Marquês de Pombal, na categoria de canoas. Alguns minutos de uma prazenteira viagem foram outros tantos de um breve passeio pela herança de um rio, das suas margens e das suas gentes.
A bordo daquela embarcação em madeira, de 8,80 metros de comprimento, 5 toneladas, capaz de navegar até 8 nós e com 12 anos de rio, ficámos a saber um pouco mais sobre os materiais de que eram feitos estes pequenos navios, das cores que os decoravam, da carga e das pessoas que transportavam, dos tripulantes que os conduziam, tudo pela voz do arrais Ricardo Conduto.
Que a madeira certa deve ser de pinheiro manso ou pinheiro bravo, sem as árvores sangradas e cortadas entre Outubro e Fevereiro, que a calafetagem das vigas era com estopa envolvida em óleo de linhaça, que algumas cores, embora não obrigatórias, eram mais usadas que outras, e nalguns casos tinham um significado para os colegas do rio (como o luto da tripulação), que o barrete do arrais era usado de forma a protegê-lo do sol, tudo isto e muito mais foi partilhado com os passageiros.
Actualmente, uma embarcação com as características da Gavião dos Mares, construída por menos de 50 mil euros, requer uma manutenção anual e não dispensa despesas de estacionamento. Por isso, esta, como outras embarcações tradicionais do Tejo, são usadas para passeios pagos, cujas receitas se destinam, essencialmente, à sua conservação, explicou-nos o arrais. Afinal, a embarcação tradicional do Tejo registada mais antiga é a catraio PéLeve, de 1900.
O propósito desta iniciativa da associação ANCORAS, ajudar a resgatar a alma do Tejo, está expresso no nome da sua própria embarcação, a Alma do Tejo, que também participou na regata e classificou-se imediatamente atrás da Gavião dos Mares. É uma “canoa da picada, típica de Oeiras/Paço de Arcos, sendo usada nos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX para ir buscar o pescado aos grandes navios que se encontravam ao largo e trazê-lo para a lota o mais rapidamente possível, sendo por esta razão barcos velozes com peso total relativamente baixo”, lê-se do folheto da ANCORAS.
A associação não tem fins lucrativos e dedica-se “ao estudo, divulgação e defesa do rico património flúvio-marítimo do rio Tejo e, em particular, das suas embarcações tradicionais de madeira”, com uma “componente da sua actividade orientada para os associados, outra para fins sociais e culturais e outra ainda no âmbito turístico”, refere o mesmo folheto. O seu programa de passeios turísticos inclui o roteiro dos fortes costeiros, divulgando o respectivo património histórico, o roteiro dos tesouros da barra e “simples passeios de lazer”, refere o folheto.
Por falar em memórias, aqui fica o registo da classificação da regata:
Categoria Catraios
1º Lugar – PéLeve (arrais João Fortuna)
2º Lugar – Henriques (arrais Carlos Henriques)
3º Lugar – Raposinho (arrais Bruno Almeida)
Categoria Canoa
1º Lugar – Gavião dos Mares (arrais Ricardo Conduto)
2º Lugar – Alma do Tejo (arrais Manuel Morais)
3º Lugar – Salvaram-me (arrais Luís Filipe)
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