Roma vai doar mais 12 embarcações à Líbia destinadas a combater o fenómeno migratório do Mediterrâneo com origem naquela país do Norte de África
Aquarius

O Senado italiano, com 382 votos a favor, 11 contra e uma abstenção, aprovou a doação de 12 navios à Líbia com o objectivo de travar o fenómeno migratório no Mediterrâneo. A medida contempla 10 navios-patrulha da Classe 500 da Guarda Costeira italiana e duas embarcações Corúbia da Classe 90 da Guarda Fiscal italiana, segundo refere o Maritime Executive.

O Finantial Times lembra que em 2017 a Itália doou quatro navios à Guarda Costeira Líbia para o mesmo efeito e que até ao final deste ano Roma irá fazer a manutenção dos 16 navios e prestar formação aos elementos daquela força líbia. Os 12 novos navios deverão estar aptos para serem utilizados no final de Agosto, segundo refere a publicação Safety4Sea.

Com esta medida, Roma pretende desencorajar a emigração ilegal e contribuir para salvar vidas, segundo se infere de um comunicado oficial, cumprindo a política de «Portas fechadas, corações abertos» adoptada pelo Executivo de Giuseppe Conte, que tem proibido a generalidade dos portos de Itália de acolherem navios com migrantes.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, citada pelo Finantial Times, este ano, a Guarda Costeira Líbia interceptou 12.720 migrantes no mar e devolveu-os à Líbia, de onde provinham. Diz ainda o jornal que o número de migrantes que deixaram a Líbia este ano rumo a Itália diminuiu, mas que o número de mortes no mar nas rotas que cruzam a Líbia foi de 157 em Julho deste ano, contra 68 em Julho de 2017.

A política migratória italiana seguida pelo actual Governo tem sido criticada em várias instâncias. Em 2017, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos considerou o apoio à Guarda Costeira Líbia como “desumano” face aos “horrores inimagináveis” enfrentados pelos migrantes que regressam à Líbia para centros de detenção. Segundo o Maritime Executive, as Nações Unidas e a União Europeia não consideram a Líbia um destino seguro para os navios que ali desembarcam migrantes resgatados do mar.

O Finantial Times recorda que neste momento, dois Governos rivais, um a Leste e outro a Oeste, disputam o controlo da Líbia e que largas parcelas do território estão sob domínio de milícias armadas que exploram a falta de autoridade do Estado, recorrendo ao tráfico de pessoas para obter receitas. Nalguns locais, refere o jornal, as milícias interceptam embarcações e detêm os migrantes, por vezes sujeitando-os a torturas e extorsão.

Numa entrevista recente, citada pelo Maritime Executive, o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, Joseph Borrel, acusou o ministro dos Assuntos Internos de Itália, Matteo Salvini, de “fazer política à custa, não só de Espanha mas de toda a Europa” e descreveu a política migratória italiana como “uma política de isolamento brutal”. Salvini terá reagido, afirmando que Espanha encoraja uma “imigração descontrolada”, sublinhando a complacência do Governo espanhol para receber navios que Itália recusou.

 



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