A Rússia atacou e apreendeu três navios militares ucranianos no Estreito de Kerch, abrindo uma crise que a comunidade internacional considerou grave, a ponto de ter provocado uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas
DNV GL

O Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu ontem de emergência na sequência de um conflito armado que ocorreu no fim-de-semana entre a Ucrânia e a Rússia, condenando a atitude russa.

No último Domingo, um navio da guarda costeira do Serviço Federal de Segurança russo (FSB, ex-KGB), disparou sobre três navios da Marinha ucraniana (duas lanchas e um rebocador que se dirigiam do Mar Negro para o Mar de Azof), interceptando-os e apreendendo-os no Estreito de Kerch, que liga o Mar de Azof ao Mar Negro, entre a península da Crimeia, na Ucrânia, e a península de Taman, na Rússia.

No incidente que foi confirmado pela Rússia, terão ficado feridos seis tripulantes ucranianos, três dos quais terão sido hospitalizados, e todos, pensa-se que 23, terão sido detidos. De acordo com a imprensa internacional, o ataque russo foi justificado pelo facto de Moscovo considerar que os navios ucranianos penetraram em águas territoriais russas, numa acção que Moscovo considerou provocatória e preparada entre Kiev e Washington, e provocou a suspensão do tráfego marítimo no Estreito de Kerch por parte da Rússia, entretanto reaberto.

Já a Ucrânia referiu que se tratou de um acto de agressão e reclamou uma reacção da comunidade internacional. Paralelamente, o Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, declarou o estado de excepção a partir de 28 de Novembro por 30 dias para reforço de poderes militares, sem com isso querer assumir uma declaração de guerra, mobilizar tropas ou prejudicar o início da campanha eleitoral para a Presidência do país, agendado para o princípio de 2019. E em Kiev, segundo alguns meios de comunicação, mais de uma centena de pessoas concentraram-se junto à Embaixada russa e provocaram distúrbios numa acção de protesto contra o ataque.

Essa reacção internacional traduziu-se desde logo na convocação de uma sessão de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas não só. A Alta Representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini, pediu a restauração da liberdade de navegação no Estreito de Kerch e apelou a todas as partes para actuarem com “a maior contenção para baixar a tensão imediatamente”. Mogherini sublinhou também que “a União Europeia não reconhece e não reconhecerá a anexação ilegal da península da Crimeia por parte da Rússia”. Entretanto, a União Europeia exigiu a libertação imediata dos tripulantes e dos navios ucranianos.

Quem também reagiu foi a NATO, que admitiu inicialmente estar a acompanhar a situação e “em permanente contacto com as autoridades ucranianas”, para depois convocar uma reunião destinada a debater o assunto, tendo também manifestado o seu apoio à Ucrânia e apelado à libertação imediata do navio e dos tripulantes. Numa primeira reacção, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, terá admitido que está a monitorizar a situação. E o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Heiko Maas, comunicou no twiteer que “os desenvolvimentos na Ucrânia são preocupantes”. Há referências de que a Alemanha e a França poderiam intermediar uma eventual resolução do conflito.

A China, por seu lado, apelou à contenção de ambas as partes e a que evitem o agravamento do conflito, que deve ser resolvido por via diplomática, no seu entendimento.

Portugal, em comunicado do Ministério ds Negócios Estrangeiros, manifestou “a sua séria preocupação com os graves incidentes ocorridos”, reafirmou “o seu apoio à soberania e integridade territorial da Ucrânia” e apelou “à contenção de todas as partes envolvidas, à restituição imediata à Ucrânia dos navios apreendidos, bem como ao desbloqueio da passagem marítima no estreito de Kerch”.

Alguns analistas recordaram que o incidente pode gerar uma escalada de tensão numa zona já volátil devido à anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 e que a suspensão da navegação no Estreito de Kerch prejudica a actividade económica da Ucrânia, que possui portos na costa do Mar Negro e dois no Mar de Azof. Recordaram também que seria pouco provável que o Conselho de Segurança das Nações Unidas tomasse alguma decisão contra a Rússia, pois esta tem poder de veto naquele órgão.



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