Ainda a tarde ia a meio e o Oceania Dos já estava a passar a linha da chegada da Madeira. Ao final da tarde chegou o NRP Polar, com uma mudança drástica de posição.

Entre o final de tarde de Domingo e o início da tarde desta Quinta-feira muito mar sentiram os participantes da Discoveries Race 2019 a bordo do Oceania Dos, os primeiros a chegar ao Funchal. No Mac Gregor 65, de 60 pés, João Lúcio confirma o “segredo” de uma regata: “apanhar sempre o melhor vento”. 

Os irmãos, João Lúcio e José Ignacio Costa Lopes, o skipper, em conjunto com Filipe Costa e Rui Sebastião tiveram de “descer bem a sul da ilha da Madeira”. “Durante a noite virámos e conseguimos chegar aqui quase com bordo direto, aproveitando o facto do vento ir rodando”, explica João Lúcio reconhecendo que os skippers dos restantes veleiros eram também “homens com experiência oceânica”, tanto que vieram algumas vezes lado a lado. 

Confirma inúmeros horas sem dormir, uma chegada complicada, mas acima de tudo a pior noite. “Houve noites, inclusivamente ontem, em que o vento era zero o mar estava estanhado”. “É desesperante, os nervos à flor da pele, sabendo que os concorrentes vêm andando”, conta. O que há a fazer nessa altura? “Estar atento aos menores sinais das primeiras brisas e tentar sair daquele buraco”.  

“As decisões que tiveram de ser tomadas ou davam certo ou davam uma borrada completa”, e mesmo com dois marinheiros, a dada altura, a “meio gás” (um com um problema no braço e outro com uma limalha no olho) a verdade é que deram bastante certo. Quartos não fazem, as trocas são livres assim como o vento que os surpreendeu. “Prevíamos um anticiclone a nordeste da Madeira, mas sempre apostei que fazer um bordo daqueles para tão longe, e sendo que ao fim de dois dias a previsão muda, é um risco muito grande. Então fiquei no meio termo, nem me atirei para o centro do anticiclone, nem muito para o lado do Proteína”, explica. 

A falta em Viana do Castelo “está justificada”. Tiveram uma série de avarias, tanto electrónicas como mecânicas o que os impediu de chegar em tempo útil à partida da primeira etapa da regata. Mas “agora vamos a Las Palmas e vamos para ganhar”, afirma, confiante, João Lúcio.

Já no NRP Polar, o segundo a chegar, seguiam 17 participantes, dos quais três oficiais, 10 cadetes. O capitão-tenente, João Neves Simões, confirmou a falta de vento que por vezes se fez notar, no entanto, afirma não se recordar de um trajeto destes com tão bom tempo. 

O essencial a bordo é a segurança, a organização e a disciplina. E assim, este “laboratório de mar” pode ser uma óptima experiência onde se aplica a formação teórica que se aprende na Escola Naval, explica o capitão-tenente. O “sabor do sal”, a camaradagem, o espírito de cooperação – passos na formação e adaptação a esta vida de mar. 

Dos cinco veleiros previstos para esta travessia, o NPR Zarco teve um problema numa vela o que o impossibilitou de realizar o trajeto entre Cascais e Lisboa, não finalizando a saída. Entretanto, esta Quarta-feira o Proteína Sesentaycinco desistiu, ao que tudo indica, devido à falta de vento que apanhou que o terá impossibilitado de continuar por algum período de tempo.

Na classe ORC o primeiro lugar é do Swing, que fez 116 horas, 34 minutos e 53 segundos, em segundo lugar, o Proteina Sessentaycinco (tendo entrado na regata, mas não tendo chegado ao fim). Já na classe OPEN ficou em primeiro lugar o Oceania Dos, com 111 horas, 13 minutos e 47 segundos, em segundo lugar o NRP Polar (em DNF – não chegou ao fim) e, em terceiro lugar, o NRP Zarco (que não largou mas teve intenção de participar na regata).  

Notícia actualizada às 15h39 de 10 de Agosto.



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