Há cerca de 100 anos acreditava-se que não existia vida para lá dos 600 / 700 metros de profundidade. A razão dessa crença assentava na ideia de que a vida animal, principalmente a vegetal, necessita de luz para que aconteça a fotossíntese. A fotossíntese, que é um processo físico-químico, a nível celular, realizado pelos seres vivos clorofilados, que utilizam dióxido de carbono e água, para obter glicose através da energia da luz solar, está na origem da maior parte das cadeias alimentares na Terra. Sem ela, os animais seriam incapazes de sobreviver porque a base da sua alimentação estará sempre nas substâncias orgânicas proporcionadas pelas plantas verdes. Nas localizações do oceano com águas mais limpas para lá dos 600 / 700 metros de profundidade, a luz rareia e a escuridão toma conta das profundezas dos oceanos, impedindo a fotossíntese nas plantas, limitando assim a possibilidade de vida dos seres vivos que dependam deste processo.
Esta crença, da total dependência da existência de condições necessárias à fotossíntese para existir vida, foi começando a ser questionada no final do século XIX, início do século XX, pelos resultados das expedições oceanográficas, nomeadamente as dos monarcas de Portugal (Carlos I) e do Mónaco (Alberto I), que, utilizando técnicas de palangre que conseguiam chegar a profundidades elevadas recolhiam animais, nunca antes vistos pelo ser humano, a profundidades superiores aos 600 / 700 metros. Estas primeiras expedições oceanográficas, que incluíam registo de batimétricas e catalogação de novas espécies marinhas começaram a revelar que o mar era mais profundo do que se pensava e que essa profundidade tinha mais recursos do que apenas água.
No entanto, só em 1960, numa expedição organizada pelos Estados Unidos da América, é que o homem conseguiu chegar ao local mais profundo dos oceanos, a Fossa das Marianas, no Pacífico. Nesse ano, o record de profundidade, cerca de 10.900 metros, foi alcançado. No entanto, não foi possível registar em fotografia a Fossa das Marianas. Só em 1985, através do uso de um ROV (remotely operated underwater vehicle) e de um minisubmarino é que se conseguiu, pela primeira vez recolher imagens abaixo dos 1.000 metros de profundidade corroborando as pesquisas dos monarcas do início do século XX de que existe vida para além das condições necessárias para a existência de fotossíntese.
Se tivermos em consideração que, só nas últimas décadas do século XX é que conseguimos recolher imagens abaixo dos 1.000 metros de profundidade, que no nosso planeta existem mais áreas cobertas por oceanos do que áreas emersas, que a maior parte da área coberta por oceanos tem mais de 1.000 metros de profundidade e que nem 10% dessa área está estudada em detalhe, é fácil concluir que estamos ainda a prepararmo-nos para o início da Grande Expedição. Os avanços e os recuos, neste processo de descoberta, continuarão a ser imensos, no entanto, a curiosidade humana e o elevado ritmo de crescimento demográfico, levarão a um acréscimo de pressão sobre os recursos naturais tornando inevitável o avanço para o mar profundo.
Geograficamente falando, esta será a última grande expedição no planeta terra. Todo o espaço terrestre e aéreo do nosso planeta foi já analisado com razoável detalhe. Só o mar profundo ainda não foi analisado convenientemente. Saibamos todos aproveitar bem o tempo de preparação desta Grande Expedição, pois o seu sucesso não resultará apenas dos novos conhecimentos que se venham a adquirir, nem dos novos produtos que se venham a criar, o seu sucesso, resultará, acima de tudo, da manutenção do equilíbrio e da sustentabilidade dos Oceanos!