O mar sempre teve uma relação muito forte com a Lua. Deslocando-se à volta do planeta Terra, numa órbita que tem o mesmo sentido da rotação do nosso planeta, este satélite natural provoca uma atração gravitacional originando quatro marés por dia, em cada ponto costeiro, duas altas e duas baixas.
A existência de marés tem múltiplas consequências nos habitats e nas comunidades costeiras. Reforçam a vida animal anfíbia, tornam acessível ou impedem o acesso de embarcações ou animais de grande porte a determinadas áreas de mar, em combinação com a força da chuva e dos rios, ampliam inundações, e nas zonas em que as marés ocorrem com maior intensidade, permitem a geração de energia…
Se juntarmos à perspetiva física das coisas, a perspetiva social e civilizacional, percebemos que, não sendo a Lua parte do nosso planeta Terra, numa visão alargada, é parte do nosso Mundo. O homem já foi à Lua, o homem sempre observou a Lua, sempre se deixou encantar pelo seu Luar, para se orientar no tempo criou calendários lunares… Tendo em consideração que Mundo é, também, um conceito ligado à nossa civilização, sem dúvida que a Lua faz parte da nossa civilização e como tal do nosso Mundo.
Para que a humanidade continue a ser bem-sucedida, ou seja, para que continue a crescer e a se desenvolver é fundamental que mantenha uma visão alargada do Mundo, capaz de rasgar horizontes e de motivar todos para novas descobertas. O grande poeta Luís de Camões retrata muito bem o rasgar de horizontes que os Portugueses, através dos descobrimentos marítimos, proporcionaram à nossa civilização, na sua expressão “dar novos Mundos ao Mundo”.
Infelizmente, nem sempre, no mar, se teve uma visão alargada, capaz de rasgar horizontes, de tornar sonhos em realidade, através da concretização metódica de ações no terreno. De uma forma geral, salvaguardando algumas exceções, grande parte do último século não foi um grande exemplo de visão alargada para o mar. Por vezes, com algum lamento, se ouve dizer que foi uma pena, não se ter investido no mar, o mesmo que, no século XX, se investiu nas viagens espaciais.
Aparentemente, o início deste século promete, pois tenta colocar o mar, num patamar superior de prioridade e tenta enquadrar este recurso num plano tridimensional, englobando de forma integrada assuntos relacionados com a superfície do plano de água, a coluna de água, o leito marinho, o espaço aéreo acima do mar e a monitorização do mar através de satélites, a partir do espaço.
Recentemente o plano alargou-se ainda mais, pois a NASA confirmou que uma Lua de Júpiter contém, debaixo de uma camada de gelo, um grande oceano de água salgada. Neste contexto, está aberta a porta, para no futuro existir uma abordagem tridimensional do mar da Lua de Júpiter Ganímedes. O mar do planeta Terra deixa de ter a hegemonia dos temas marítimos. Cientistas afirmam também que a Lua de Saturno, Encéladus, possui correntes de água debaixo da sua superfície gélida.
Este século fica marcado por um novo olhar civilizacional sobre o espaço, um olhar mais azul, onde o oceano volta a ser central, mesmo que fora do planeta Terra. Tudo isto consequência de uma Lua que conseguiu “transportar” o Mar no Mundo para fora dos limites do nosso planeta, abrindo assim novos horizontes para a humanidade…