Contra a vontade dos Estados Unidos e apesar dos receios dos seus parceiros europeus, Roma está de novo na milenar Rota da Seda, que une o Oriente à Europa
Centre for Economics and Business Research

O Primeiro-Ministro italiano, Giuseppe Conte, evocou recentemente os laços históricos do seu país com a antiga Rota da Seda para justificar a adesão da Itália ao projecto chinês «Uma Faixa, Uma Rota» (ou One Belt, One Road, como é conhecida internacionalmente), cuja designação integral é «Silk Road Economic Belt and the 21st Century Maritime Silk Road», referiu o Maritime Executive.

No último Sábado, a Itália formalizou um Memorando de Entendimento (MoU) com a China que estabelece a sua adesão ao projecto, no que será um importante aval a esta iniciativa. Até ao momento, foi o primeiro Estado da União Europeia (UE) e do G7 a fazê-lo, embora a iniciativa já tenha despertado o interesse de outros membros, como a Grécia, a Hungria, a Polónia e Portugal. Apesar das críticas de parceiros da UE, alguns dos quais admitiram investimentos chineses nos seus portos, e dos Estados Unidos, a Itália deverá aceitar investimentos directos chineses em quatro dos seus portos marítimos: Génova, Trieste, Palermo e Ravena.

No caso dos parceiros europeus que admitem investimentos chineses nos seus portos, o receio é o da penetração de Pequim na economia italiana. E há uma diferença: até ao caso da Itália, nenhum deles formalizou uma adesão ao projecto «Uma Faixa, Uma Rota». No caso dos Estados Unidos, os avisos relacionam-se com os riscos colocados à Itália, quer no plano da segurança, devido a receios do papel dos serviços de espionagem de Pequim, quer políticos, dado que normalmente estes investimentos surgem associados a contrapartidas traduzidas numa influência financeira junto do Estado apoiado e são considerados uma «armadilha da dívida».

Os críticos do projecto e da adesão italiana, que não foi sujeita a consulta dos norte-americanos ou dos parceiros europeus, referem a este propósito o exemplo do porto de Hambantota, na costa sul do Sri Lanka, que terá sido mais do que um simples negócio. Trata-se de um porto que nunca atraiu muito tráfego e que terá sido vendido à China Merchants Port Holdings como forma de pagamento de uma dívida do Sri Lanka.



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