Portugal tem o melhor peixe do mundo e não é só propaganda mas falta-lhe saber explorar as suas potencialidades e o que não acontece apenas por falta de dimensão.

Portugal é o segundo maior consumidor de peixe per capita do mundo e tem, todos o reconhecem, o melhor peixe mundo, todavia, em termos de mercado, está ainda muito longe de saber explorar totalmente todas as virtudes dessa situação.

Essa poderá ser uma das primeiras conclusões da conferência que encerrou o Curso, Gestão e Valor na Fileira Alimentar do Mar, organizado pela Coimbra Business School na Figueira da Foz, sob orientação de Miguel Marques, Associado da PwC, tendo exactamente em vista proporcionar uma visão e negócio e um conhecimento de gestão mais profissional e mais alargado a quem trabalha no sector.

Como explicitou o Director da Coimbra Business School, logo a abrir a Conferência, o intento sempre foi desenvolver um curso eminentemente prático que possa não apenas transmitir uma visão mais alargada do negócio mas também proporcionar ferramentas de gestão que permitam, de facto, às empresas do sector, maioritariamente PME, quando não mesmo microempresas, uma outra acção no mercado.

Segundo números do INE, o valor da fileira do pescado, rondará, hoje, directamente, 1,2 milhões de euros, todavia, nós também apenas pescamos cerca de 1/3 de todo o peixe consumido.

Logo aqui se coloca a questão de saber porque, nessa circunstância, a produção de peixe em aquacultura é ainda tão incipiente, havendo desde logo algumas explicações, como, por exemplo, tanto o preconceito que ainda existe em relação à própria produção em aquacultura como às condições do nosso mar.

Todavia, poderíamos, deveríamos produzir muitíssimo mais e, nesse sentido, Manuel Castelo Branco também fala do projecto de transformar o estuário da Figueira da Foz num centro de aquacultura, como, pelo menos, 90 há de exploração plena, não sem consciência de em Portugal a maturação do pescado ser muito mais longa ao que sucede na Grécia ao na Turquia, quase o quádruplo, não nos podendo assim distinguir pelo preço mais pela qualidade, sendo necessário, para isso, acima de tudo, conhecimento, um tema considerado igualmente decisivo pelo Secretário de estado das pescas, José Apolinário.

Destacando a importância das actividades tradicionais, às quais nem sempre se presta talvez a devida atenção, José Apolinário não deixou no entanto também de reconhecer a dificuldade do sector em se organizar como um todo, tendo uma voz comum e trabalhando em rede como hoje é indispensável que suceda.

Todavia, não deixando de assinalar os progressos já realizados e mesmo a inovação que o sector tem conhecido, também regista dificuldades que se têm verificado, inclusive com os apoios europeus, esperando no entanto que o FEAMP, uma vez regulamentado e com procedimentos mais simplificados, possa dar uma resposta que até agora ainda não foi possível dar, uma vez ultrapassadas também algumas negociações difíceis com Bruxelas.

De qualquer modo, como não deixou igualmente de acentuar, importa nunca esquecer o contributo de 1/3 da fileira do pescado para os 3,1% que os negócios do mar representam hoje em termos de PIB Nacional.

Em termo de inovação e de promoção do peixe nacional, se assim se pode dizer, Paula Queiroga, da Docapesca, apresentou os vários projectos em que têm estado envolvidos, desde a valorização do pescado, começando pela preocupação da qualidade e, consequentemente, da instalação de uma rede de frio eficiente e eficaz, até à cooperação como vários Chefs, entre os quais até o José Avillez, para a confecção de novas receitas com peixes como a cavala., tão rica do ponto de vista nutricional, incluindo o célebre Ómega 3, mas até agora também muitíssimo desprezada, a ponto de ser um peixe tradicionalmente rejeitado.

Preocupação de Ana Paula Queiroga é igualmente a questão da inerncionalização, tal como a de Manuel Tarré, da Gelpeixe e Presidente da ALIF, Associação da Indústria Alimentar pelo Frio, que referiu os esforços em congregar os principais produtores principais, pela necessidade de dimensão, para exposições internacionais, sendo a mais famosa a que ocorre anualmente na Bélgica.

Porém, como referiu Rui Costa e Sousa, entre os principais do sector está o pouco valor que fica para os pescadores e a questão da distribuição e da grande distribuição que esmaga completamente os fornecedores, o que não deixou de merecer também a concordância de de Pedro Jorge, da Frip, para quem, além disso, importa ter igualmente em atenção para a importação de peixe de zonas do globo como a China onde a produção em aquacultura, para exportação, não é realizada com as mesmas regras impostas pela União Europeia para produção interna mas permite que tal suceda neste caso, para importação.

Além disso, Pedro Jorge chamou igualmente a atenção para o facto de não só estarmos hoje a pescar ou a produzir cerca de 1/3 das nossas necessidades, com tendência para uma constante diminuição de volume, como, também por razões de regras europeias, nada ter vindo a ser feito nem estar a ser feito no que respeita à frota e à sua modernização, não deixando também de exortar o Secretário de estado das Pescas a aplicar plenamente o que sabe.

Mas nem tudo é negativo e Sérgio Real, da Poveira, falou da Loja das Conservas, onde existem hoje mais de 700 referências, sistematicamente visitada por inúmeros turistas, existindo muito mais do que as pessoas conhecem, incluindo hoje conservas gourmet, como as da Briosa, também presente no curso, um dos aspectos mais singulares do mesmo.

De facto, procurando conjugar os aspectos mais teóricos com os mais eminentemente práticos, uma das características do Curso de Gestão e Valor na Fileira Alimentar do Mar, foi exactamente o de englobar no curriculum o contributo de várias empresas do sector onde, além da Briosa, a Poveira, a Frip e a Gelpeixe, já referidas, como também Associação Portuguesa de Aquacultores, Cooperativa de Produtores do Centro Litoral e até mesmo a  Mútua dos Pescadores, entre outas entidades e individualidades.

 



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