Os armadores de navios tanque para transporte de crude (crude tankers) estão a reagir à estagnação do seu segmento transportando produtos refinados do petróleo (gasolina, gasóleo, nafta, querosene, jet fuel), normalmente deslocados em navios de um segmento próprio dos navios tanque (product tankers), refere um relatório recente da Gibson Shipbrokers (empresa de corretagem de navios) citado pelo World Maritime News.
Segundo o jornal, a tendência é particularmente visível nas rotas de Leste para Oeste e desagrada aos armadores de product tankers, que assistem à absorção do seu mercado por outro segmento e ao impacto que isso gera, quer nos mercados de embarque, quer nos de desembarque, como terá já sucedido este ano no Extremo Oriente, de acordo com o relatório.
“Este ano, quando o Maran Aphrodite e o New Eminence embarcaram gasóleo na China e na Malásia, colectivamente tiraram potencialmente 11 a 15 navios de gama média do mercado asiático de product tankers, impactando negativamente o mercado regional da procura de navios tanque”, refere o documento. Note-se que um navio tanque de gama média tem um porte bruto (deadweight tonnage, ou DWT) entre 35 mil a 55 mil toneladas.
O mesmo jornal refere que à medida que estes navios chegam aos pontos de desembarque, exercem um impacto nos preços regionais do gasóleo que por sua vez tem efeito na actividade comercial no Atlântico, podendo resultar na saída do mercado de mais 11 a 15 navios tanque de gama média.
Conforme explicou Peter Sand, analista da BIMCO (organização privada internacional representativa de armadores e operadores de transporte marítimo), citado pelo jornal, a procura de very large crude carriers (VLCC, navios tanque com porte bruto entre 160 mil e 320 mil toneladas) está muito fraca, com ganhos diários abaixo dos 2 mil dólares (1.700 euros).
O jornal refere igualmente que o excesso de oferta de crude e as tensões geo-políticas podem tornar 2018 um ano de perdas para os armadores. E acrescenta que o mercado para o transporte de crude não deve melhorar significativamente antes do segundo semestre de 2019. O desespero dos armadores de crude tankers é especialmente sentido nas viagens inaugurais, para as quais procuram avidamente carga, mesmo se isso implicar absorver uma parcela do mercado dos product tankers.
Face a este contexto, o jornal fala em paciência a ter pelos armadores de product tankers, para quem, no entanto, já se vislumbra uma luz no fundo do túnel, com a aproximação da entrada em vigor das regras sobre os níveis de enxofre nos combustíveis marítimos a partir de 2020. Atendendo à esperada necessidade de combustíveis com menor teor de enxofre em todo o mundo, os donos dos product tankers podem vir a beneficiar, pois terão que transportar este tipo de carga para vários pontos do globo.
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