Navio patrulha da Marinha colabora a partir de Setembro
Krill

Hoje, a investigadora Ana Mafalda Correia embarca a bordo do navio «Monte da Guia», da Transinsular, do grupo ETE, para mais uma campanha de recolha de dados no âmbito do projecto CETUS de monitorização de cetáceos na Macaronésia (arquipélagos dos Açores, Madeira, Cabo Verde e Canárias). O projecto arrancou em 2012, no âmbito de uma tese de mestrado, e hoje integra a tese de doutoramento da investigadora, dedicada ao tema “Distribution and habitat modelling of cetacean species in the Portuguese Economic Exclusive Zone (Northeast Atlantic Ocean)”, orientada pela professora Isabel Sousa Pinto (directora do Laboratório de Biodiversidade Costeira do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental – CIIMAR – da Universidade do Porto) .

A tese de doutoramento, com a duração de três anos, iniciou-se em 2015 e tem apoio do CIIMAR e financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Conta ainda com apoio de grupos de investigação que colaboram com o CIIMAR e de empresas que disponibilizam instalações e refeições a bordo dos seus navios aos voluntários do projecto encarregues de acções de monitorização no âmbito do projecto (Transinsular e Porto Santo Line).

O projecto conta igualmente com a colaboração do CIMA Research Foundation, de Itália, e do Oceanlab – Universidade de Aberdeen, da Escócia. O primeiro foi local de formação da investigadora e um dos seus investigadores (Massimiliano Rosso) é co-orientador da tese. O último é a segunda instituição de acolhimento da tese (a investigadora tem uma bolsa de doutoramento mista da FCT) e local de afiliação de outro dos seus co-orientadores (Graham Pierce). De acordo com Ana Mafalda Correia, a partir de Setembro, a Marinha “também irá oferecer as instalações” de um navio patrulha, para monitorização entre a Madeira e as Ilhas Selvagens.

O objectivo do CETUS é registar “ocorrências de baleias e golfinhos para determinar a sua distribuição e abundância nesta vasta área do Oceano Atlântico”, esclarece o CIIMAR. Com esses dados, será possível criar modelos de habitats para mapear, explorar e antecipar os principais pontos de presença dos cetáceos nesta área e assim contribuir para estabelecer prioridades internacionais em termos de conservação de espécies e apoiar processos decisórios nas instâncias europeias, refere-se no site dedicado ao projecto.

A instituição recorda que desde 2012 até ao fim de 2015, o projecto já implicou a navegação de 140 mil milhas náuticas, das quais apenas 40 mil foram monitorizadas, e permitiu 1.343 avistamentos de 26 espécies, tendo contribuído para um programa de doutoramento, 4 teses de mestrado e 3 dissertações de licenciatura. Este ano, as campanhas de recolha de dados estão em curso desde Julho.

De acordo com a investigadora, face aos resultados obtidos, já foi possível identificar “algumas preferências das espécies e grupos de cetáceos avistados” e “começa a ser possível observar alguns padrões na distribuição que, acoplados com as análises de preferência de habitat que faço no âmbito do doutoramento, começam a permitir entender quais os habitats oceânicos preferenciais nesta área”.

A propósito da monitorização de 40 mil das 140 mil milhas náuticas navegadas, a investigadora esclareceu-nos que “os navios percorrem uma distância enorme” (as tais 140 mil milhas), “e nós apenas monitorizamos do nascer ao pôr-do-sol e em boas condições meteorológicas para que os dados sejam válidos”, o que significa “que não monitorizamos durante o período nocturno e más condições meteorológicas”.

A campanha deste ano tem novidades face às de anos anteriores. Uma é a dinamização de uma “campanha educacional através de um programa itinerante, com enfoque nas comunidades do Porto e das Ilhas da Madeira e Cabo Verde”, refere o CIIMAR, acrescentando que “as actividades serão centradas na conservação dos cetáceos, mas também nos efeitos da poluição marinha e na susceptibilidade dos ecossistemas oceânicos, de forma a consciencializar os grupos mais jovens para a conservação dos oceanos”.

Outra novidade é a colaboração do “grupo de investigação do Observatório Oceânico da Madeira – CIIMAR Madeira, incluindo assim duas novas rotas desde a Madeira a Porto Santo e às Ilhas Selvagens”, adianta o CIIMAR. Conforme explica Ana Mafalda Correia, “esta colaboração permitirá aumentar a colecta de dados na área da Madeira e ilhas adjacentes, para além daqueles já recolhidos nas regiões de alto-mar com as rotas dos navios cargueiros”. O Observatório Oceânico da Madeira – CIIMAR Madeira coordena “a rota de ferry da ilha da Madeira à ilha de Porto Santo, a bordo do «Lobo Marinho», ferry da Porto Santo Line”, companhia cuja colaboração também ocorre este ano pela primeira vez.

Até aqui, em termos de navegação, o projecto contava apenas com o apoio da Transinsular, inicialmente na rota entre o continente (Porto e Lisboa) e a ilha da Madeira, em 2012. Em 2014, arrancou a monitorização na rota do continente (Porto e Lisboa) para os Açores (Ponta Delgada, Horta e Praia da Vitória) e em 2015 arrancou também a rota do continente (Porto e Lisboa) para as Canárias (Las Palmas), Mauritânia (Nouakchott e Nouadhibou) e Cabo Verde (Palmeira e Sal-Rei), sempre com a Transinsular, “que permite que os seus navios de carga funcionem como plataformas de oportunidade para observação nas rotas entre Portuga continental e as ilhas da Madeira, Açores e as Canárias e Cabo Verde”, refere a investigadora.

Também pela primeira vez o projecto terá uma participação no programa da Universidade Itinerante do Mar, “que resultará na formação de monitorização de cetáceos e contribuirá também para o aumento da colecta de dados durante a rota percorrida pelo navio Creoula, desde o norte de Espanha até Lisboa”, refere o CIIMAR. De acordo com a investigadora, haverá dois cursos, com um total de 60 pessoas inscritos.



Um comentário em “Começa hoje mais uma campanha de recolha de dados do CETUS”

  1. Agatha Gil diz:

    Parabéns! A reportagem esta mesmo muito boa !!

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