Se os Estados Unidos e a China não chegarem a acordo sobre a sua relação comercial até ao final do mês, Pequim vai aplicar igualmente novas taxas aduaneiras sobre produtos norte-americanos importados. Uma guerra que preocupa a indústria do transporte marítimo, mas pode ser benéfica, a médio ou longo prazo, para concorrentes dos fabricantes chineses, que podem ser uma alternativa às suas exportações para os Estados Unidos
Porto de Chabahar

A China manifestou esta semana intenções de reagir ao mais recente aumento de taxas aduaneiras impostas pelos Estados Unidos aos produtos chineses importados pelos norte-americanos. Segundo anunciado, a partir de 1 de Junho, se não houver um acordo entretanto, vários produtos exportados dos Estados Unidos para a China serão por sua vez sujeitos a um aumento de taxas aduaneiras, no que é uma medida assumidamente retaliatória, embora os dois países tenham admitido que prosseguem as negociações bilaterais para alcançar um acordo bilateral que ultrapasse o actual conflito comercial entre ambos.

Segundo relatos da imprensa chinesa, com base em dados das autoridades de Pequim, produtos norte-americanos até aqui sujeitos a taxas adicionais de 5% e 10%, serão sujeitos a taxas suplementares de 10%, 20% e 25%. O gás natural liquefeito (GNL) norte-americano, por exemplo, passará de uma taxa de 10% para outra de 25%, o que reduzirá o volume de transporte de GNL dos Estados Unidos para a China. Nos primeiros quatro meses deste ano, apenas dois navios fizeram este transporte até agora, quando normalmente, no mesmo período, ele teria sido feito por 14 navios.

Outros bens sujeitos a taxas de 25% (2.493 categorias, segundo alguma imprensa) serão o óleo de soja, o óleo de amendoim, os petroquímicos, os vegetais congelados e a cosmética. Já a taxa suplementar de 20% incidirá sobre 1.078 categorias de produtos. De acordo com Pequim, a China foi forçada a ajustar as suas taxas aduaneiras adicionais sobre bens importados dos Estados Unidos para salvaguarda dos mecanismos multilaterais de comércio e dos seus próprios direitos e interesses, reagindo a um acto de unilateralismo e proteccionismo dos Estados Unidos, refere a imprensa internacional.

A medida incidirá sobre produtos norte-americanos estimados em 60 mil milhões de dólares (53,4 mil milhões de euros), mesmo assim, abaixo do valor dos produtos chineses importados pelos Estados Unidos sujeitos a novas tarifas adicionais. Em causa estão mais de 4 mil categorias de exportações norte-americanas, desde peças sobressalentes a bens agrícolas, na maioria dos casos taxados em 25%, acima dos 10% anteriores.

No seu último anúncio, Washington disse que ia aplicar tarifas adicionais a bens chineses importados estimados em 300 mil milhões de dólares (267 mil milhões euros) anuais. A proposta foi no sentido de aplicar taxas de 25% a cerca de 3.800 categorias de produtos, cobrindo, essencialmente todos os produtos chineses ainda não sujeitos a taxas aduaneiras norte-americanas, mas exclui produtos farmacêuticos, bens médicos, terras raras e minerais críticos, por exemplo.

Noutras ocasiões em que aumentou as taxas suplementares sobre bens chineses importados, Washington procurou minimizar o impacto sobre os consumidores, deixando de fora bens para os lares, preferindo incidir sobre equipamentos industriais, materiais e outros bens que não surgem normalmente nas prateleiras das lojas. A nova lista já contém uma ampla gama de produtos para o mercado de consumo, como vestuário, equipamentos desportivos, electrónica, entre outros.

Esta guerra comercial, porém, pode ser benéfica para exportadores de países em desenvolvimento, segundo os defensores do Generalized System of Preferences (GSP), que é um programa comercial norte-americano vocacionado para promover o crescimento económico nesses países e que admite a entrada de cerca de 4.800 produtos de 130 origens nos Estados Unidos sem sujeição a taxas aduaneiras.

Membros deste programa já terão admitido que esta guerra comercial está a impulsionar empresas de países como a Índia, a Tailândia, o Camboja, a Indonésia e a Turquia e pode sugerir uma transferência da preferência por fabricantes chineses para fabricantes de países em desenvolvimento.

De acordo com o Maritime Executive, a escala de transferência para produtos ao abrigo do GPS ainda é pequena. O aumento do comércio neste programa durante o primeiro trimestre ascendeu a 750 milhões de dólares (668 milhões de euros), uma fracção dos 130 mil milhões de dólares (116 mil milhões de euros) de produtos que os Estados Unidos importam trimestralmente da China. Mas se forem mantidas, as taxas adicionais podem criar rupturas nas cadeias de abastecimento e abrir portas a concorrentes chineses.

Tais vantagens, porém, não diminuem os receios dos armadores. Vários meios de comunicação internacionais dão conta das preocupações manifestadas pela Asian Shipowners’ Association (ASA) e pela European Community Shipowners’ Associations (ECSA) junto da Organização Mundial do Comércio (WTO, em inglês) onde terão criticado a recente vaga de medidas proteccionistas e apresentado dois documentos que destacam a importância do sector do transporte marítimo para a preservação e promoção das políticas e dos princípios do comércio livre em todo o mundo.

Segundo a Safety4Sea, os documentos referem que s medidas restritivas à importação aumentaram sete vezes desde 2017, o que representa um custo adicional de 524 mil milhões de euros para o comércio global. Diz-se ainda que entre 2017 e 2018, foram implementadas 137 novas medidas de restrição ao comércio, criando um fardo e um custo significativo ao livre movimento de mercadorias.



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