A China tem planos para construir uma base naval junto ao porto comercial de Gwadar, no Paquistão, na costa do Mar Arábico, revelou ao jornal South China Morning Post o analista de Defesa Zhou Chenming. Segundo o jornal, outra fonte, próxima das Forças Armadas chinesas, confirmou que a Marinha chinesa vai instalar uma base militar próximo de Gwadar semelhante à que já existe em Djibouti, na África oriental.
De acordo com essas fontes, citadas pelo jornal, a Marinha chinesa que faz o patrulhamento do Golfo de Aden e escolta petroleiros chineses no Índico precisa de uma base naval para manutenção dos navios e serviços logísticos e de abastecimento, porque não tem acesso a tudo o que necessita no Paquistão.
O local em estudo parece ser o pequeno porto de pesca de Jiwani, numa península a oeste de Gwadar, não muito longe da fronteira com o Irão. O jornal cita um Coronel na reserva do Exército dos Estados Unidos, Lawrence Sellin, segundo o qual existem negociações para o efeito entre altas patentes militares chinesas e paquistanesas. O acordo envolve a modernização do porto e de uma base aérea próxima, além da criação de uma zona de segurança e do realojamento dos residentes da zona.
Fora de questão está o porto de Gwadar, essencialmente por ser uma infra-estrutura civil. “É prática comum ter instalações separadas para navios militares e comerciais, devido à diferente natureza das suas operações; os navios mercantes precisam de um porto maior, com muito espaço para armazéns e contentores, enquanto os navios militares requerem uma vasta gama de serviços de manutenção e logística”, refere Zhou Chenming. Fonte próxima dos militares chineses terá acrescentado que Gwadar não oferece condições de segurança para operações de logística militar.
Zhou Chenming referiu ao jornal que a China pretende melhor acesso ao Índico, que actualmente se faz sobretudo pelo Estreito de Malaca, no Sudoeste Asiático. Além disso, o apoio a Gwadar torna-se importante porque este porto pode ser uma plataforma deligação entre rotas terrestres e marítimas quando estiver operacional o corredor ferroviário entre a China e o Paquistão, contribuindo para reduzir os custos logísticos para a China.
O plano para a nova base naval chinesa, porém, está sujeito a outras análises. Lawrence Sellin refere que se trata de uma militarização do Paquistão e do Índico pela China. Algo que observadores militares chineses desmentem, admitindo porém que a mesma terá importância geo-estratégica e militar para a China.
Já Rajeev Ranjan Chaturvedy, um investigador da Universidade Nacional de Singapura, considera que a Índia está atenta aos planos da China para o Paquistão. Segundo este investigador, “a China acha útil usar o Paquistão contra a Índia e ignorar as preocupações indianas, especialmente no que se refere a questões do terrorismo”, o que tem gerado alguma tensão nas relações entre Pequim e Nova Deli. E acrescenta que a capacidade naval e experiência indiana no Índico é boa e melhor do que a do Paquistão e da China.
Por outro lado, Swaran Singh, a professor na Universidade Jawaharlal Nehru,em Nova Deli, entende que nem Gwadar nem Jiwani são uma boa escolha para uma base baval devido à sua proximidade ao porto de Chabahar, no Irão, no qual a Índia tem forte interesse e onde investiu cerca de 83 milhões de euros em dois cais para promover o comércio entre o Afeganistão e a Ásia Central contornando o Paquistão.
O assunto também trouxe novamente para o debate uma proposta que terá sido feita à China em 2011 pelas autoridades paquistanesas para construção de uma base naval avançada chinesa em Gwadar. A existência de planos chineses para essa base foi desmentida pelo Governo paquistanês, que acusou tais notícias de se destinarem a minar as relações económicas entre a China e o Paquistão.
E em 2016, segundo o Maritime Executive, o ministro chinês dos Negócios Estrageiros negou ambições chinesas de construir uma base militar no Paquistão. Um porta-voz ministro apelidou então os rumores de uma base naval em Gwadar de “relatos irresponsáveis”.
A base agora anunciada para Jiwani acaba por reflectir uma aproximação entre a China e o Paquistão, o que não constitui surpresa, sobretudo se recordarmos que recentemente os Estados Unidos travaram um apoio de 830 milhões de euros em assistência militar a Islamabad, que acusam de fazer um esforço reduzido para afastar terroristas de solo paquistanês. Uma acusação rebatida pela China, que elogiou o esforço do Paquistão no combate ao terrorismo. Além disso, a China tem apoiado este país com dezenas de milhares de milhões de dólares em projectos de Defesa e infra-estruturas, traduzindo uma aproximação que sai reforçada com o referido distanciamento norte-americano.
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