Veículo tinha sido apreendido na quinta-feira no Mar do Sul da China
China

A China devolveu ontem aos Estados Unidos o veículo autónomo (vulgo drone) submarino (também designado por ocean glider) capturado na quinta-feira no Mar do Sul da China, de acordo com informações oficiais chinesas e norte-americanas, citadas pela CNN.

Segundo a estação televisiva, que cita o Ministério da Defesa da Defesa chinês, “após consultas amigáveis entre a China e os Estados Unidos, a transferência do drone submarino dos Estados Unidos foi concluída pacificamente”. O Jornal de Notícias refere que a devolução terá ocorrido às 4 horas, tempo de Lisboa (12 horas, tempo da China).

A CNN refere que o Pentágono terá assumido que os Estados Unidos continuarão a investigar a apreensão «ilegal» que terá ocorrido em águas internacionais a cerca de 50 milhas de Subic Bay, nas Filipinas.

A estação norte-americana cita um comunicado do Pentágono no qual se diz que “os Estados Unidos permanecem comprometidos na preservação dos princípios e normas da lei internacional e da liberdade de navegação e sobrevoo e continuarão a sobrevoar, navegar e operar no Mar do Sul da China onde quer que a lei internacional o permita, do mesmo modo que operam em todos os outros locais do mundo”.

Na sua conta do Twitter, Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos, afirmou a propósito que “devíamos dizer à China que não queremos o drone que eles roubaram e que fiquem com ele”, mantendo a acusação de roubo do equipamento pela China que já tinha feito.

De acordo com um porta-voz do Ministério da Defesa da China, citado pela CNN, o Governo chinês discorda do termo «roubo» usado por Donald Trump, que considera “inteiramente inadequado”. A mesma fonte considera que a marinha chinesa teve um comportamento responsável e profissional, por forma a prevenir a segurança da navegação e das pessoas.

Vários meios de comunicação atribuem ao ministro da Defesa da China, Chang Wanquan, a explicação de que um navio militar chinês detectou uma peça de um equipamento não identificado, que retirou da água por motivos de segurança, sem saber que era material dos Estados Unidos.

Por seu lado, os Estados Unidos defenderam que o equipamento estava legal e bem identificado e que não devia ter sido retirado da água. Manifestaram igualmente o desejo de o recuperar, mas o processo demorou alguns dias porque desde o início despoletou tensão diplomática entre os dois países, já de si complexa, quer pela questão das ilhas artificiais chinesas no Mar do Sul da China, quer pelo comportamento provocatório de Donald Trump em relação à China desde que foi eleito, nomeadamente, dialogando com o presidente de Taiwan, Estado não reconhecido por Pequim.

O veículo em causa é, segundo os Estados Unidos, destinado à recolha de dados sobre salinidade, claridade e temperatura da água. Pertencia ao USNS Bowditch, “um navio de pesquisa oceanográfica não armado”, que procurava recuperá-lo, bem como a outro veículo submarino.

De acordo com as autoridades norte-americanas, um navio de salvamento chinês foi lançado à água e capturou o drone, ignorando pedidos sucessivos de devolução provenientes do USNS Bowditch. As autoridades chinesas terão insinuado que o veículo estava em águas chinesas e alegado que os Estados Unidos mantêm as águas chinesas sob vigilância aérea e naval, comportamento a que se opõem e ao qual estão determinadas a reagir com as medidas consideradas necessárias.

Para alguns analistas, a captura do drone pode ter sido uma reacção da China às declarações de Donald Trump sobre a China e à sua contestação da política norte-americana sobre Taiwan, que os Estados Unidos reconhecem desde há anos como parte integrante da China. E, tal como os actos de Donald Trump, que em Janeiro assumirá oficialmente a presidência dos Estados Unidos, em nada contribuirá para o desanuviamento das relações diplomáticas entre os dois países.



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