Mostra de documentário incentivou Espinho a debater o actual estado da Arte Xávega

 

“É de Espinho Viva!”  é o título do mais recente projecto de uma equipa de finalistas do curso de Cinema e Audiovisual, liderada por Ricardo Leite. Trata-se de um documentário, inserido no âmbito da disciplina “documentário cinematográfico”, que tem por tema a Arte Xávega. Tem cerca de 14 minutos de duração e foi maioritariamente filmado no Bairro Piscatório do Concelho de Espinho.

O objectivo da mostra do documentário, que retratou o dia-a-dia dos pescadores da Arte Xávega e os problemas desta segundo os mesmos, pretendia «incutir o debate sobre o estado actual da Arte Xávega», explica Ricardo Leite, o realizador do documentário.

É na parte cultural, mais retratada no documentário, que Leonor Fonseca acredita que se deva “pegar” para motivar as medidas para a protecção da Arte Xávega. Para Alfredo Pinheiro Marques, há três dimensões relevantes para a Arte Xávega: económica e social, política e jurídica e cultural e identitária. A criação da Associação Portuguesa de Xávega fez avançar a dimensão social e económica, promovendo o associativismo; também a dimensão política parece ter avançado com a aprovação da criação de medidas para a melhoria da Arte Xávega. Todavia é a dimensão cultural e identitária que dá grande valor à Arte Xávega. Por exemplo, a Arte Xávega tem uma expressão económica muito significativa na Costa da Caparica, representando cerca de 40% da economia local e tem um impacto local em termos de emprego muito elevado, explicaram pescadores da Costa da Caparica. Alfredo Pinheiro Marques indicou que se fez em Dezembro de 2012 uma candidatura da Arte Xávega portuguesa como património cultural da humanidade.

Alfredo Pinheiro Marques, professor e historiador, explica que a Arte Xávega é única, pois não é feita a partir de portos como as outras artes de pesca, mas a partir de praias, tendo as embarcações de atravessar a rebentação. A Arte Xávega teve origem no Mediterrâneo, sendo no Atlântico uma arte mais difícil de praticar. As areias de Portugal são especialmente boas para a Arte Xávega.

Neste momento, a Arte Xávega está em risco de desaparecer, ameaçando também a identidade de Espinho com esta arte. Alfredo Pinheiro Marques, historiador, considera que o Secretário de Estado do Mar em Assembleia da República, no passado dia 7 de Novembro em que a Arte Xávega esteve em discussão, fez declarações «preocupantes» para esta arte.

José Vieira explica que a fiscalidade existente de momento não é excessiva, mas impõe limites ao sector pois há no total cinco entidades que fiscalizam a Arte Xávega: Docapesca, ASAE, Polícia Marítima, Autoridade de Segurança no Trabalho e Brigada Fiscal.

Leonor Fonseca, Vereadora na Câmara Municipal de Espinho, explica que não há estudo biológico que comprove que os ecossistemas de carapau estão em risco, cujas TAC são calculadas em função das capturas. Ao mesmo tempo, não há indícios de que a prática da Arte Xávega tenha impactos negativos na abundância de carapau ou na abundância dos jaquinzinhos.

José Vieira, presidente da Associação Portuguesa de Xávega, declarou que a União Europeia não apresentou impedimentos para a promoção da Arte Xávega e que reconhece as pequenas artes de pesca. De todas as pescas, a Arte Xávega é aquela que representa o menor desperdício e menor impacto ambiental, pois o nível de pescado capturado por esta arte é «insignificante» comparado com as outras artes de pescado, explicou Alfredo Pinheiro Marques.

Há também uma geração mais jovem que se está agora a envolver na Arte Xávega em Espinho, especialmente da área da construção civil, que se encontra em crise. Também na Costa da Caparica neste momento existem mais pescadores jovens (desde 24 anos de idade) dedicados à Arte Xávega.

A Arte Xávega é especialmente relevante em Espinho, Praia de Mira, Vieira de Leiria e Costa da Caparica. Uma solução para a arte que está em discussão pode ser uma quota turística atribuída à Arte Xávega.

 



Um comentário em “Arte Xávega”

  1. muito interessante este encontro, ficam no entanto por referenciar outras praias onde a xávega também tem expressão: furadouro, torrão do lameiro, vagueira, costa de lavos, leirosa, praia da cova, praia da tocha e pedrógão.

    é importante discutir e defender a xávega, mas não se pode fazê-lo esquecendo praias onde a mesma se desenvolve. creio que em espinho há 2 companhas a trabalhar, na torreira há 3, só para dar um exemplo.

    gostava de saber em que pé está a candidatura da arte-xávega a património nacional feita em 2012, porque entretanto já foi aprovada este ano a candidatura apresentada pela câmara municipal de almada e se reporta só às praias da sua influência.

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