HMM reúne parceiros para ocupar o lugar da empresa no Sudeste Asiático
Hanjing Shipping

Apesar da decisão do Tribunal de Seul que aprovou a reestruturação da Hanjing Shipping, a Alphaliner defende que dificilmente a companhia de navegação recuperará a posição que mantinha até ao seu colapso, refere o World Maritime News. Na sequência dessa decisão, segundo refere alguma imprensa, os portos de Roterdão, Los Angeles e Singapura continuarão disponíveis para receber os navios da Hanjing Shipping, e a companhia terá que apresentar um plano de recuperação até 25 de Novembro. Entretanto, a companhia também já terá recebido garantia de protecção semelhante no Reino Unido, Singapura e Japão, de acordo com o Korea Herald.

Mas provavelmente nem as boas notícias que são uma decisão judicial norte-americana que confere protecção temporária à companhia face aos seus credores nos Estados Unidos e permite aos seus navios descarregarem mercadoria nos portos norte-americanos e a provável aquisição de alguns dos seus activos pela Hyunday Merchant Marine (HMM) impedirão os efeitos nefastos desta falência.

Segundo a Alphaliner, citada pelo jornal, “a rápida desintegração da companhia enviou ondas de choque a todo o mercado do transporte marítimo”. Armadores e transportadores apressaram-se a tomar medidas de contingência para preencher o vazio de mercado deixado pelo desaparecimento da Hanjing Shipping.

Afinal, era o principal armador sul-coreano e o sétimo maior mundial no transporte de contentores, com uma quota de mercado global próxima dos 3%, sendo que, de acordo com alguma imprensa, detinha 6,7% da capacidade de transporte nas rotas Transpacífico, 4,9% nas de Ásia-Pacífico e 9% no tráfego Ásia-Mediterrâneo.

Desde que foi pedida a protecção dos credores, não pararam de surgir notícias que foram dando conta da dimensão da catástrofe e do caos instalado no mercado. No dia 5 de Setembro, a BBC referia 540 mil contentores com mercadoria retidos no mar, com base em dados da consultora Sea Intelligence. E mencionou também 12,3 mil milhões de euros em mercadoria por recuperar, bem como 89 navios de um total de 141 (ou 90 de 128, segundo outras fontes) em dificuldades. Além disso, as acções da empresa caíram a pique, até ao limite, na Bolsa de Seul.

Entretanto, autoridades portuárias de várias latitudes recusavam descarregar carga dos navios da Hanjing Shipping, temendo não serem pagas, e retinham navios em portos para garantir pagamentos em falta. Por outro lado, várias companhias de transporte de mercadorias cessaram relações com a empresa e decidiram transferir carga própria a bordo de navios da Hanjing Shipping para os seus navios, bem como proibir embarcar carga da Hanjing Shipping a bordo das suas embarcações.

Uma das soluções que tem vindo a ser avançada na imprensa é o financiamento de operações de desembarque de mercadorias em navios da Hanjing Shipping pelo Hanjing Group, a que pertence a empresa, com recurso a ajuda do Governo sul-coreano. A principal medida e que tem colhido adeptos, no entanto, parece ser a aquisição dos melhores activos da empresa pela HMM, outra empresa sul-coreana do sector. As autoridades sul-coreanas já terão admitido a venda de activos da Hanjing Shipping, entre os quais navios, vendas além-mar e força de trabalho, à HMM, numa tentativa para manter a competitividade possível da empresa.

Nesse sentido, segundo o World Maritime News, a HMM já revelou planos para criar uma aliança, a Mini Alliance, destinada a minimizar o impacto da falência da Hanjing Shipping nas rotas do Sudeste Asiático. De acordo com fontes da HMM citadas na imprensa, esta decisão terá sido tomada para “minimizar as perdas dos carregadores nas rotas do sudeste asiático” e “competir com as linhas globais”.

Entre os parceiros dessa aliança, estarão, além da HMM, a Korea Marine Transport, a Sinokor Merchant Marine e a Heung-A Shipping, segundo o Korea Herald, citado pelo World Maritime News. A partir do final de Setembro, a aliança pode colocar 15 navios nas rotas entre portos sul-coreanos e Singapura, Malásia, Indonésia, Vietname e Tailândia. De acordo com a Cargonews, a HMM utilizará um navio de 5 mil TEU, um de 2.800 e outro de 2.200.

Estas e outras medidas directamente relacionadas com a falência da Hanjing Shipping, contudo, não escondem o que parecem ser dificuldades generalizadas sentidas pelo sector do transporte marítimo de mercadorias, e de acordo com vários analistas, não resolvem problemas já identificados. O caso da companhia sul-coreana pode até ser apenas o primeiro de vários com contornos semelhantes, embora os analistas prefiram não antecipar nenhum e considerem a Hanjing Shipping uma excepção.

Alguma imprensa, no entanto, recorda que em Abril, a consultora Drewry estimou em 5,3 mil milhões de euros as perdas do sector em 2016. E analistas referem que 25% da capacidade dos navios de transporte marítimo de mercadorias aguardam serviço. Paralelamente, algumas das grandes operadoras mundiais já registaram perdas elevadas este ano. Queda dos preços dos fretes, suspensão ou adiamento de entregas de navios e desmantelamento antecipado de navios são efeitos visíveis dessa situação.

A todos estes elementos não serão alheias a antecipação de encomendas de navios, que demoram anos até serem entregues, e a crise da economia mundial, com o abrandamento da economia chinesa à cabeça.



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