No passado mês de Junho, o rebocador «Montenovo» da Rebonave foi responsável pelo reboque da corveta «General Pereira d’Eça» desde Lisboa até Porto Santo, para efeitos de afundamento e criação de um recife artificial.
No âmbito da operação, a empresa foi responsável pela selagem do navio rebocado, peamento (acomodação segura) adequado dos objectos capazes de o danificar e pela distribuição de lastro para efeito de estabilidade da embarcação.
A «General Pereira d’Eça» foi uma das seis corvetas da classe João Coutinho, construída nos estaleiros Blohm & Voss, na Alemanha, e “aumentada ao efectivo dos navios da Armada em 10 de Outubro de 1970”, recordou a Marinha.
Desde Junho de 2010 que a corveta ficou no estado de desarmamento e iniciou o processo de abate ao efectivo em Julho de 2014. Foi cedida à Região Autónoma da Madeira “através de um processo de interesse público, nas áreas do turismo subaquático da cultura e preservação histórica, da protecção da vida marinha e da economia”, explicou a Marinha.
No dia 13 de Julho, em apenas dois minutos, a corveta foi afundada após terem sido realizados estudos técnicos e ambientais “inerentes à concretização deste tipo de operação”, referia então uma nota do Governo Regional da Madeira.
Na mesma nota, referia-se que o recife artificial fica instalado “na zona costeira da ilha do Porto Santo, entre o Porto de Abrigo, a Oeste, e o Ilhéu de Cima, a Leste, na Área Marinha Protegida deste ilhéu, pertencente à Rede de Áreas Marinhas Protegidas do Porto Santo, entre as batimétricas dos 28 e dos 30 metros de profundidade, assente sobre uma área de substrato arenoso entre as seguintes posições geográficas: proa (33º 02,778’N 016º 18,118’W); popa (33º 02,880’N 016º 18,016’W); posição de meio navio (33º 02,827’N 016º 18,056’W)”.
Trata-se de uma “zona com protecção especial com vigilância e controlo da competência do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza IP-RAM”, referiu-nos fonte da Secretaria Regional do Ambiente e Recursos Naturais (SRARN) do Executivo madeirense. A mesma fonte adiantou-nos que no local já existe outro recife artificial, criado em 2000, a partir de outro navio afundado, o «Madeirense».
A SRARN referiu-nos também que, “a exemplo do que aconteceu em 2000, com o afundamento do «Madeirense», não se prevêem efeitos negativos e sim um aumento de vida na área”.
Segundo apurámos, a instalação do recife artificial com recurso ao afundamento da corveta ficou a cargo da empresa Tecnovia Madeira, S.A., por um valor 318.880 euros, adjudicado em 5 de Novembro de 2015 no âmbito de um concurso público.
O financiamento, até ao momento, “é integralmente do Governo Regional da Madeira”, embora se aguarde “a aprovação de fundos comunitários para ver se é aprovada a sua candidatura de criação de um recife artificial”, refere a mesma fonte da SRARN.
Os efeitos deste recife artificial são de dois níveis. Por um lado, “do ponto de vista ambiental, contribuirá para um aumento da biomassa e ictiofauna” (conjunto de espécies de peixes existente numa zona biogeográfica) naquela área, favorecendo o repovoamento da Reserva Natural, “assim como das zonas adjacentes”, refere a SRARN.
A sua implementação é “um processo dinâmico que já apresenta resultados com a fixação de vida no local e, a exemplo do caso anterior, dentro de um ano estará completamente cheio de vida”, refere a mesma fonte. Neste plano, contribuirá igualmente para a investigação científica, através de uma monitorização a realizar ao longo dos anos.
Por outro lado, no plano económico, vai proporcionar maior oferta para o sector das pescas e potenciar “a procura por parte de mergulhadores e aumentar a procura do Porto Santo como local por excelência para a prática desta modalidade, devido à limpidez, temperatura das suas águas e a proximidade de potenciais mercados europeus”, refere a SRARN.
Para esta entidade, existe a expectativa de que, a curto prazo, se torne “um dos melhores locais de mergulho da Europa, contribuindo para a economia regional e do Porto Santo, onde ao longo de todo o ano é possível mergulhar com boas condições”.
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