Destroyer norte-americano no Mar Negro irrita Rússia
USS Porter

A tensão político-militar entre a Rússia e os Estados Unidos aumentou na última semana, com a entrada do destroyer USS Porter no Mar Negro, o primeiro navio de superfície norte-americano a atravessar o Estreito do Bósforo este ano, e uma correspondente reacção russa ameaçadora.

De acordo com vários meios de informação internacionais, o navio, portador de mísseis balísticos de defesa, terá realizado uma operação de rotina no âmbito da missão Operational Atlantic Resolve, implementada pouco depois de a Rússia ter apoiado a auto-proclamada secessão da Crimeia da Ucrânia, em 2014, e que tem envolvido exercícios da NATO nas proximidades da região.

O United States Naval Institute (USNI) News referiu a propósito uma declaração proveniente da 6ª Esquadra dos Estados Unidos, segundo a qual “o USS Porter iria conduzir visitas a portos e exercícios bilaterais com marinhas amigas” e “as operações no Mar Negro servem para reforçar a segurança marítima, a estabilidade, a prontidão e a capacidade naval com os nossos aliados e parceiros”. Outras fontes da marinha norte-americana terão admitido que a presença do navio na zona era uma resposta a uma “ameaça russa”.

O mesmo meio de informação recordava que todos os navios de países sem costa no Mar Negro estão sujeitos à Convenção de Montreux sobre o Regime dos Estreitos, de 1936, segundo a qual devem abandonar a região após uma presença de 21 dias.

Segundo a agência noticiosa pública russa RIA, a presença do navio no Mar Negro não agradou à Rússia porque o USS Porter tinha sido recentemente equipado com um novo sistema de mísseis. De acordo com a Reuters, Andrei Kelin, um responsável do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, terá referido à RIA que o movimento não tinha a aceitação russa e levaria a medidas de resposta, não especificadas.

O mesmo responsável também terá manifestado desagrado com a presença do porta-aviões USS Harry S. Truman no Mediterrâneo, pouco tempo antes da cimeira da NATO, que se realizará em Varsóvia, na Polónia, nos próximos dias 8 e 9 de Julho. Para a Rússia quer o caso do USS Porter, quer outros, destinam-se a alimentar as tensões entre os dois países antes daquela cimeira.

Embora não considere estranho o movimento de navios dos Estados Unidos, que é normal, quer no Mediterrâneo, quer noutros locais, “e que têm todo o direito de o fazer, ao abrigo da liberdade de navegação”, Andrei Kelin entende que neste caso existe um aumento real da tensão com a Rússia, provocado exactamente antes da cimeira da NATO.

Entretanto, o porta-aviões USS Dwight D. Eisenhower também chegou ao Mediterrâneo, no quadro de uma situação alarmista sobre a expansão naval russa. O navio comanda uma frota de cruzadores, destroyers e aviões, destina-se ao Golfo Pérsico, onde vai participar em ataques contra o Daesh, e vai render o USS Harry S. Truman, que deve regressar aos Estados Unidos ainda este mês.

A cimeira será precedida dos maiores exercícios militares (jogos de guerra) na Europa Oriental e países Bálticos desde a Guerra Fria, o Anaconda 2016, com a participação de 31 mil militares de 24 Estados, incluindo os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha, Canadá, Espanha, Suécia e Turquia.

Por outro lado, segundo o USNI News, a Rússia está num processo de reforço naval regional, que inclui a construção de diversos navios de superfície e submarinos destinados à Base Naval de Sebastopol, na Crimeia. Além disso, segundo diversos relatórios, a Rússia também tem deslocado mísseis balísticos anti-navios para a Crimeia. Finalmente, fontes norte-americanas afirmam que a Rússia desenvolve acções com submarinos e outros navios no Mediterrâneo, no âmbito de um exercício naval previsto para as próximas semanas.



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