Congresso com testemunhos e diálogo sobre acesso de deficientes aos desportos de mar

“Ninguém, em circunstância alguma, deverá ficar impossibilitado de aceder ao mar e de nele desenvolver a prática desportiva que entender”, referiu ontem o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, no II Congresso de Actividades Náuticas, promovido pelo Instituto do Território (através da Agência Independente do Desporto e do Mar – AIDEM, que o integra), que é uma Organização Não Governamental.

João Paulo Rebelo falava num congresso dedicado às actividades náuticas para pessoas com deficiência e destinado a divulgar testemunhos de praticantes com e sem deficiência, designadamente ao nível olímpico, e a aproximar as Federações desportivas das associações ligadas ao sector da deficiência, sob o mote «Todos Juntos no Mesmo Mar».

O governante considerou também que o acesso fácil e seguro de todos ao mar deve enquadrar-se na Estratégia do Desporto para o Mar, ele própria inserida na Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020, num contexto de desmistificação da “ideia de que o mar é passado”. Para João Paulo Rebelo, “o mar de hoje, como o de ontem, continua a ser um espaço de horizontes e descobertas, com outras dimensões e novos desafios”.

Na ocasião, foi possível ouvir os testemunhos de Nuno Vitorino, tetraplégico desde os 18 anos e praticante de surf adaptado, Norberto Mourão, antigo pasteleiro vítima de acidente em 2009 que o deixou com deficiência, hoje praticante de canoagem adaptada, e Paulo Foito, também deficiente e praticante de canoagem.

A estes e todos os outros atletas com deficiência prestou Simão Morgado a sua homenagem. Ele próprio ex-nadador olímpico sem deficiência, com quatro presenças em Jogos Olímpicos, admitiu que os deficientes têm mais dificuldades e menos apoios, apelando a que lhes sejam fornecidas condições para a prática desportiva.

Igualmente presente esteve Pedro Oliveira, representante da Disabled Divers International (DDI) Portugal, uma fundação sem fins lucrativos detentora do único sistema de formação de mergulho adaptado reconhecido em Portugal. Na sua intervenção, além do papel da DDI na promoção do mergulho adaptado, recordou que 10% (650 milhões de pessoas, das quais 52 milhões na Europa) da população mundial tem alguma incapacidade declarada e que em Portugal cerca de 1,8 milhões de pessoas têm algum tipo de incapacidade declarada.

De acordo com Ricardo José, director da AIDEM e presidente da Federação Portuguesa das Actividades Sub-aquáticas, este congresso serviria para “se tentar perceber o que é preciso desbloquear para que os cidadãos com deficiência possam aceder às várias actividades desportivas ligadas ao mar”, reunindo os praticantes com deficiência e as suas associações com as Federações em mesas-redondas.

O mesmo responsável referiu ao nosso jornal que “existem questões de acessibilidade estrutural às práticas desportivas náuticas, como o caso da falta de rampas de acesso à água nas marinas, e questões de adaptação da prática de cada modalidade a cada deficiência específica, que passam, por exemplo, pela adaptação de equipamentos” a perfis específicos de deficiência, e que importa debater e ultrapassar.

A mobilização desse diálogo, com Universidades, entidades públicas, Federações desportivas e associados individuais, é uma das missões da AIDEM, que funciona como um grupo de trabalho do Instituto do Território para tratar “das preocupações actuais no âmbito do desenvolvimento do mar e das actividades com ele relacionadas”, designadamente, o acesso de pessoas com deficiência aos desportos náuticos, como nos esclareceu Ricardo José.



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