SeaBookings.com cresceu 250% num ano, segundo dados próprios
SeaBooking

De Janeiro a Maio deste ano, a SeaBookings.com, plataforma online para reserva de actividades e serviços náuticos, cresceu 250% face ao período homólogo de 2015, apurou o nosso jornal junto de Bo Irik, uma das responsáveis pelo projecto.

A evolução reflecte o que parece ser uma aposta sustentada, num negócio que nasceu no Algarve, em 2014, e que em dois anos já se estendeu a toda a costa portuguesa, às regiões autónomas e a Cabo Verde. E que ambiciona tornar-se líder mundial.

Então com 25 e 22 anos, respectivamente, Bo e Femke Irik, duas irmãs holandesas a residir em Portugal, investiram não mais de dois mil euros de capital próprio num negócio digital de intermediação na comercialização de bilhetes para actividades marítimo-turísticas.

Embora admita que um investimento superior poderia alavancar o negócio de outra forma, Bo Irik referiu-nos que houve uma opção por não recorrer a nenhum financiamento externo (empréstimo bancário ou fundos de apoio, que existem).”Foi uma questão mais filosófica do que económica” explica.

Desde então, já recuperaram o investimento inicial e foram investindo os ganhos no projecto, do qual retiram os meios de subsistência pessoal. Mantendo a independência, todavia, não fecharam portas a potenciais investidores. Desde que se identifique com o projecto, “estamos dispostas a ouvir”.

Claro que a par do capital financeiro, utilizado sobretudo na compra do domínio e registo internacional da marca, as duas irmãs, hoje licenciadas, aplicaram muito do seu tempo, designadamente, na criação do website.

Como moravam no Algarve e a natureza da actividade não implicava instalações – ainda hoje não implica -, o espaço não constituiu despesa. Trabalhavam em casa, como ainda fazem, embora Bo viva em Lisboa, mais próximo da imprensa, de novos operadores e eventos de networking onde importa estar, ao contrário da irmã, que permanece no Algarve. “Repartimos funções”, explica Bo.

Importa recordar que com este projecto participaram na Nova Idea Competition, ficando em terceiro lugar.

Depois de terem trabalhado na “venda de rua” desses serviços, identificaram este canal de comercialização, que não existia para os operadores locais, e resolveram lançar o negócio, apoiadas em cinco operadores de Lagos – Seafaris, Good Trips, Kayak Tours, Bom Dia e Wind Surf Point – com os quais ainda trabalham.

Hoje, fruto de um crescimento orgânico, trabalham com 35 operadores – um dos quais, o Sea Turtle, com negócios marítimo-turísticos em Cabo Verde (passeios de barco em katamaran, surf), igualmente inserido no negócio da SeaBookings.com -, promotores de 130 actividades (passeios de barco, caiaque, surf, mergulho, stand up paddle, entre outras).

 

Uma estratégia definida

 

A parceria com a Sea Turtle tem a vantagem de representar o primeiro passo da SeaBookings.com rumo à internacionalização. Esse caminho será feito, mas sempre de forma sustentada. “Temos uma estratégia definida e sabemos quantos operadores queremos conquistar por ano e onde, fizemos um estudo de mercado e sabemos quais são os países que têm um turismo de mar”, explicou-nos Bo Irik.

“Este ano o objectivo é Portugal”, onde as duas irmãs esperam envolver cerca de 50 operadores no final do ano. O próximo ano será dedicado à zona mediterrânica, ou seja, Espanha, Itália e Grécia. Bo Irik considera a Turquia instável e com “um turismo em declínio”. Já a Grécia, apesar da crise, mantém um turismo que merece a confiança das irmãs holandesas. ”Falámos com operadores locais fomos bem recebidas e até pagam melhores comissões do que os portugueses”, confidencia Bo Irik.

Os alvos serão sempre países com destinos turísticos de praia. ”Isso é um critério importante para nós, porque apostamos em turistas com um perfil semelhante aos dos que vêm a Portugal”, ingleses, americanos, norte-europeus.

Oportunamente, consideram explorar o mercado brasileiro, ideal para combater a sazonalidade do negócio em Portugal e no Mediterrâneo. Os Estados Unidos não estão esquecidos. “Têm grande potencial e também já falámos com operadores locais”, refere a mesma responsável, que admite vários cenários de expansão do negócio, conforme a sua evolução.

Em Portugal, o litoral, incluindo o Tejo, é a aposta preferencial. Por enquanto não avançaram para o Douro nem para o interior. No primeiro caso, observam, registam que há potencial e ponderam explorar. No segundo, avançarão quando houver uma procura que justifique. “Como somos um e-market place, temos que observar a procura dos dois lados, isto é, dos operadores que nos querem como parceiros e dos turistas que querem os serviços desses operadores”, explica Bo Irik.

A limitação de recursos humanos e, consequentemente, de disponibilidade pessoal e profissional para assumir todos os desafios explica porque não são dados certos passos. Mas mesmo aí, trata-se de uma opção estratégica. Enquanto não puderem, com segurança financeira, admitir novos colaboradores, as duas irmãs são as únicas a tempo inteiro e preferem avançar sustentadamente.

Tal não invalida o recurso pontual a colaboradores. É o caso da informática e das traduções. Embora dominem o holandês, português e inglês, sentem que o alemão é importante. E para acrescentar o idioma no site, é preciso recorrer a uma tradução mais especializada.

Outro passo que pretendem dar é o registo no Turismo de Portugal. “É um processo caro e ainda não se justifica, mas talvez o façamos ainda este ano”, refere Bo Irik. Sem desdenhar da sua importância. “Estar associado ao Turismo de Portugal tem vantagens”, reconhece, na medida em que é uma entidade pública responsável pela promoção e valorização do turismo nacional. Promoção, representação no estrangeiro e credibilidade reforçada são as principais vantagens.

 

O negócio e o mercado

 

Ao fazer a ponte entre o operador e o turista, a SeaBookings.com cobra uma comissão que sai da receita do operador. “O turista, se comprasse o serviço directamente ao operador, pagava o mesmo que paga comprando através da SeaBookings.com”, refere Bo Irik. Então, qual a vantagem do operador? Uma visibilidade que de outro modo não teria, sobretudo, além-fronteiras.

No contacto com os operadores, a SeaBookings.com verificou que vários não dispunham sequer de website nem de conhecimentos de marketing digital. Serviços que as irmãs holandesas imediatamente exploraram. E, tal como com a intermediação das actividades marítimo-turísticas, os operadores parecem satisfeitos com os resultados. “Não estava contemplado no projecto, mas como identificámos essa necessidade, demos resposta”, refere Bo.

Suficientemente conhecida no meio em que actua, a SeaBookings.com é bastante solicitada, segundo Bo Irik. “Quando um operador nos contacta para uma parceria, o que fazemos é verificar se tem registo no Turismo de Portugal, se tem boas referências no Trip Advisor e se tem possibilidade de satisfazer as obrigações que vai assumir connosco”, refere.

Depois é marcada uma reunião para ajustar os detalhes. “Só escolhemos os melhores, por uma questão de imagem”, acrescenta. Já sucederam circunstâncias de operadores menos interessantes ou que não prestavam um serviço adequado aos parâmetros da SeaBookings.com, e foram rejeitados.

De acordo com a mesma responsável, a activdade mais procurada é o passeio de barco (incluindo com observação de grutas, golfinhos, cetáceos, passeios cm churrasco, etc.). “Na zona de Lisboa, prevalece a procura pelos passeios para observação dos golfinhos no Sado”, adianta. O surf e o mergulho também estão em alta, incluindo aulas. “O stand up paddle também, porque está na moda”, prossegue.

Quanto aos turistas que mais recorrem ao SeaBookings.com, por nacionalidade, Bo Irik esclarece que, sem pretender ser rigorosa, são os norte-americanos (20%) e ingleses (20%), seguidos pelos alemães, holandeses e belgas (cada grupo com 15%) e franceses (10%). “Sendo que há um número crescente de visitas francesas”, reconhece. “O público português, tendencialmente, prefere marcar directamente com o operador e por isso representa menos de 5% das nossas vendas”, explica.

Relativamente ao volume de negócios, um dado que Bo prefere manter sob reserva, admite que entre 70% e 80% é realizado no Algarve e que Cabo Verde representa perto de 1%.



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