Um estudo realizado por investigadores portugueses identificou “grandes quantidades de fibras artificiais no estuário do Tejo e em zonas costeiras da África Ocidental”, refere a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) em comunicado de imprensa.
Segundo a FCUL, essas fibras têm dimensões reduzidas, “são na sua maioria plásticos provenientes de têxteis sintéticos” e são ingeridas pelos bivalves e pelas minhocas que habitam o fundo do estuário, bem como “pelas aves que se alimentam desses animais”.
Segundo nos esclareceu Pedro Lourenço, investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da FCUL que coordenou o estudo, também foram identificadas celuloses degeneradas, ou seja, artificiais.
Refere a FCUL que “todas as espécies de invertebrados e de aves analisadas ingerem microfibras”, sendo que os invertebrados ingerem-na directamente a partir do sedimento, “enquanto as aves parecem obtê-las ao consumirem os invertebrados, revelando que estes poluentes se propagam nas cadeias alimentares”.
No caso dos bivalves, é conhecida a sua captura no estuário do Tejo para efeitos de consumo público. Nas zonas estudadas, a média encontrada foi de 75 mil microfibras por metro quadrado, com maior densidade na camada superficial do sedimento e maior abundância “perto das grandes zonas urbanas”, refere a FCUL.
“Embora não sejam ainda claras as consequências da ingestão de microplásticos para os animais, alguns estudos laboratoriais mostraram que podem causar distúrbios fisiológicos, pelo que a sua ocorrência em altas densidades e a sua ingestão por diversas espécies é um problema potencialmente grave e que deverá ser monitorizado no futuro”, nota a FCUL.
Embora Pedro Lourenço tenha admitido ao nosso jornal que ainda não se conhecem totalmente os efeitos destes microplásticos na saúde humana, “os investigadores alertam para o facto dos dois bivalves estudados no Tejo – a lambujinha e o berbigão – serem consumidos pelo homem, que pode assim ingerir estes poluentes inadvertidamente”, refere o comunicado da FCUL.
Coordenado por Pedro Lourenço e Catarina Serra Gonçalves, o estudo foi iniciado em 2012 e teve “a colaboração da investigadora Teresa Catry e do professor José Pedro Granadeiro, ambos do Departamento de Biologia Animal de Ciências ULisboa, e de Joana Lia Ferreira, investigadora do Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa”, refere a FCUL.
Segundo a FCUL, o estudo “visou avaliar a abundância de microplásticos no estuário do Tejo e em duas zonas costeiras da África Ocidental – o Banc d’Arguin na Mauritânia e o arquipélago dos Bijagós na Guiné-Bissau -, reconhecidas pela sua importância para a biodiversidade, em particular para os muitos milhares de aves limícolas que nelas passam o inverno”.
Apurámos ainda que o estudo se inseriu num projecto de investigação mais vasto, financiado pela Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT), sobre a migração das aves aquáticas entre zonas da Europa e zonas de África. Um artigo sobre o estudo foi publicado na Science Direct, sob o título «Plastic and other microfibers in sediments, macroinvertebrates and shorebirds from three intertidal wetlands of southern Europe and west Africa».
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As microfibras a que se refere o estudo, são aquelas que são expelidas pelas máquinas de lavar a roupa, que se desagregam do próprio tecido. Existem sacos próprios para colocar nas maquinas onde se introduz a roupa. Estes sacos retêm as microfibras.
Deveria existir legislação que obrigasse a inclusão destes sacos nas máquinas à venda.